sábado, 12 de março de 2011

The View - Bread And Circuses


Nossa, o The View chegou ao terceiro disco, quem diria? Nascido naquele longínquo periodo, o meio da década passada, entre o declínio do Libertines e o desespero de críticos ingleses, os escoceses chegaram a ser colocados como salvadores do rock n. 661; só que os Arctic Monkeys varreram todas as bandas menores (apesar de Hats Off To The Buskers, o disco de estreia ter alcançado o primeiro lugar na parada britânica). Só sobrou o restinho da cocaína e a bebedeira crônica para o The View, que ainda lançou o largamente ignorado Which Bitch?, em 2009.

O fato é que nenhum dos dois discos merecia muita atenção: bebendo na fonte dos Libertines, a banda limitava seu estoque de truques com canções toscas e mal tocadas. Francamente, eu esperava algo entre o horroroso e o triste para esse Bread And Choruses. Sabendo que o Vaccines promete fazer o revival das bandinhas inglesas da década de 00, ouvir uma das representantes do período cair de cara no chão seria um pouco deprimente. Exceto que os caras trocaram de produtor (saiu o porra louca Owen Morris - de Definitely, Maybe, do Oasis) e chegou Youth. Acredito que tenha sido um encontro do tipo: "Voces querem ser mais um grupinho indie de merda ou ganhar as paradas de verdade, com músicas boas e tudo o mais?"

A resposta foi imediata: Kyle Falconer aprendeu a cantar e o que não falta é inspiração para refroes grudentos. A entrega é enérgica como sempre, mas mais bem executada e variada. Ninguém se engane: aqui o negócio não é uma música nova e audaciosa, mas uma música pré-histórica e familiar, incapaz de mudar o cenário e apontar novos caminhos. É como o Oasis tocando mais rápido, que é obviamente algo incrível de se imaginar. Remonta ao mais básico da tradição pop britânica: juntar elementos e referências, criar e referenciar, costurar tudo e entregar quente; aqui os escoceses soam não como garotos impressionados com Pete Doherty, mas herdeiros de Noel Gallagher, Paul Weller, Pete Townshend, Joe Strummer. Bebendo em fontes mais profundas e compreendendo suas próprias limitações, The View agora sim pode ser apresentado de forma mais elogiosa.

Grace é uma abertura bombástica, um crescendo que se apoia em riffs corretos e explodem em refrão que atinge o céu; Underneath The Lights não soaria fora de contexto em Parklife, do Blur;Girl é uma balada sessentista recheada de Uuuu- Uuuus; Life é um possível hit de proporções melosas - de um jeito simpático; Friend é new wave/disco; Sunday possui andamento metronômico; Alguns vão achar que a banda buscou atirar para todos os lados em uma desesperada tentativa de vender discos; eu diria que há pequenos passos fora da área de comforto, mas ainda é banda de moleques que canta e toca sobre o que é relevante no pequeno mundo deles: ao mesmo tempo, aqui Kyle e seus colegas empregam não apenas maior habilidade, mas resistem á maquina de destruição de bandas; não perdem a emoção, o suor. São sim músicas sobre garotas, garotas e garotas, bebidas e noites insones mas há uma declaração de intenções aqui: ser verdadeiro. Bread And Choruses te faz querer sair com os amigos pra beber, sorrir pra pessoas - essa atividade tão árdua - ou apenas imaginar um dia seguinte melhor enquanto tenta dormir. Não é isso que importa? 8,5/10

Nenhum comentário:

Postar um comentário