segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Guitar band? Mnemonic Creatures acerta em seu primeiro EP




O Mnemonic Creatures acaba de lançar seu primeiro EP, mas a história do blog com a banda é antiga. Explico: em 2010, um projeto folk chamado The Amazing Broken Man chegou à trilha sonora da série de tv mais quente da época, a inglesa Skins. Nós conversamos com o compositor Odorico Leal, que explicou que na real era só um projeto mesmo, porque sua banda October Leaves era o foco principal. Então, cinco anos depois e com novo nome, a banda do Odorico chega aqui. O Mnemonic Creatures é formado também por Gustavo Vidal, Ciro Figueiredo e Clara Pieirirowisck.

O que temos é um rock de guitarras onipresentes, melódico e de refrãos arrebatadores. Sempre guiado por tramas guitarrísticas cheias de imaginação, as canções do EP oferecem uma visão de amplitude e dinâmica: músicas com uma sensibilidade para o lirismo, que ora escorregam para a agressividade, ora caminham por tecidos delicados. Nos anos noventa, era comum a rotulação de bandas e tudo parecia pertencer a um mundo particular. Bem diferente do cenário multifacetado e cheio de fissuras e simbioses de hoje. Fosse 1994, o Mnemonic Creatures seria chamado de guitar band. Das boas. Prevemos um grande futuro para os caras.  

Cheque a banda:
Bandcamp


sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Emicida - Sobre Crianças, Quadris,Pesadelos e Lições de Casa #review




Para seu segundo álbum, Emicida estabeleceu novas conexões mentais e espirituais com o continente africano. A viagem do rapper para aquela parte do mundo despertou um desejo de incluir a música orgânica e ritmada na estética do trabalho. Mas acima de tudo, mexeu com emoções profundas: como explicar a pancada de Boa Esperança convivendo com a suavidade de Passarinhos? Apenas observando que Emicida aqui, mesmo quando fala sobre racismo, entoa de forma emocionada, relacionando o sofrimento com fatos da trajetória pessoal. Vislumbrando um mundo à parte, um mundo em que a irmandade negra esteja "livre do pecado dos europeus", mas voltando sempre para uma realidade de injustiça social que incomoda. 

Alguns vão argumentar que  o tom aqui é mais ameno, até mesmo leve. Talvez no invólucro. Porque há, em "Sobre Crianças...", uma ligação mais profunda com algo que todos que entram em contato com suas origens entendem: uma sensação de familiaridade misturada com estranhamento, um sentimento bom e confuso. Emicida está tentando compreender isso, e cria relações de valor por todo o disco. Isso gera uma obra estilhaçada, fragmentada, como pensamentos impulsivos. No fim, é uma forma de expor sentimentos e aprendizados, seja voltando à família (Mãe, Amoras) para encontrar conforto ou reagindo aos clichês do papel individual na sociedade (Mandume).

Sobre Crianças... é certamente um disco que, apesar de seus momentos leves (Baiana, com participação de Caetano Veloso é um hit relaxado) expõe um artista preocupado em não ser repetitivo; ao contrário, deseja que suas vivências sejam de fato transformadas em música.