quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Música nova da Lurdez da Luz: "Ping Pong" #vídeo



A MC Lurdez da Luz segue preparando seu novo trabalho: depois da ótima canção Levante, que já mostrava uma pegada mais eletrônica/dançante (beats de Alexandre Basa) , temos agora saindo do forno o lançamento de Ping Pong. Seguindo a lógica dos beats cabulosos do single anterior, desta vez Leo Justi assumiu a função (co-produção de Léo Grijó), mantendo a ferveção da batucada. Interessante notar como a levada da Lurdez encaixa tão bem nesse ambiente, e como ela consegue equilibrar o senso crítico dos versos com a ideia de diversão. Ouçam:

terça-feira, 29 de outubro de 2013

It's all in the game! Dirt Platoon agita o rap de Baltimore



O Dirt Platoon é uma dupla de Baltimore ("West Baltimore, bitch"- veja The Wire, o seriado), os MCs Raf Almighty e Snook Da Crook. Eles se juntaram ao produtor e beatmaker francês Kyo Itachi para lançar o disco War Face no primeiro semestre de 2013. Com uma base bem noventista mas sem apelar demais para qualquer truque velho, o grupo entrega um som pesado e rasgadão, diversão garantida pra quem curte rap da velha guarda com pegada mais contemporânea. Assista aos vídeos de Animal Shit e Dirty Work:

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

#HighFive - Cinco Canções: Bonifrate



Convocamos uma galera pra escolher cinco canções e trocar ideia sobre elas. Nesta edição, Bonifrate:


Beto Guedes - A página do relâmpago elétrico

"Uma das canções mais bonitas que existem. Brota de uma melancolia enraizada no chão e sobe aos céus platônicos das ideias com um emaranhado de imagens fortes e épicas. É incrível que uma peça tão cheia de compassos quebrados e timbres estranhos tenha sido um grande sucesso radiofônico como foi 'A página do relâmpago elétrico'”.


Super Furry Animals – (Rocks Are) Slow Life

"Posso dizer que a obra dos Furries habita minha fonografia mais interior, minha coleção de influências mais visceralmente explícitas. Não escreveria canções como as que eu escrevo se não fossem as de Gruff Rhys. 'Slow Life' é um épico beligerante da pista; uma baita síntese pop do século XXI. Os Furries me ensinaram que uma canção pode falar sobre qualquer coisa; os Mutantes, que isso também vale pro português."


Os Mutantes – Ave Lúcifer

"Sempre que eu escuto 'Ave Lúcifer' sinto o eco destruidor da primeira audição; todo aquele imaginário terrível e fantástico da pintura de Bosch transubstanciado em uma canção. Quando ouvi 'Ave Lúcifer' pela primeira vez, comecei quase que imediatamente a rabiscar, também pela primeira vez, uma letra em português."



Peter Tosh – Till Your Well Runs Dry

"O som do Peter Tosh, junto com Lee Scratch Perry, destroçou há poucos anos com a resistência adolescente estúpida que eu tinha ao reggae. É provável que nos últimos tempos eu tenha escutado mais música jamaicana que qualquer outra coisa. Entre a amargura de um coração partido no fundo do poço e a intervenção política mais concisa e revolucionária, o Tosh é baita de um letrista."


Bob Dylan – Desolation Row

“'They’re selling postcards of the hanging'” – com esse mata-leão, Dylan começa essa que é uma das suas canções mais longas dos anos 60. É também das mais referenciais e absurdistas. Mas o bonito pra mim é sacar como, em meio a todas essas imagens loucas (Ezra Pond e T.S. Elliot lutando sobre torre; Einstein disfarçado de Robin Hood tocando violino elétrico; o Fantasma da Ópera assustando garotas magrelas), Dylan te arranca os sentimentos mais humanos, identificados ali com todos nós que pensamos pesado e sofremos por esse corredor da morte irrecorrível que é o mundo. Escolhi aqui a versão do Bootleg Sessions Vol. 4, que carrega aquela tensão dos concertos do Dylan no Royal Albert Hall em 1966, e onde ele parece realmente querer violentar os ouvidos da audiência com coices rítmicos e feitiços melódicos." 

sábado, 26 de outubro de 2013

The Renegades of Punk: Um leão por dia #video


E a ótima banda de Aracaju (SE)  The Renegades of Punk divulgou o vídeo para Um leão por dia, música do álbum Coração Metrônomo (2012). Unindo inventividade no intercâmbio dos instrumentos, timbres de uma sujeira linda e pegada certeira, a banda é das melhores do punk/hardcore brasileiro atual. Curta o vídeo abaixo:  



Um leão por dia | The Renegades of Punk from Ivo Delmondes on Vimeo.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

#HighFive - Cinco Canções: Kiko Dinucci



Chamamos uma galera fera pra montar uma playlist de cinco sons e comentar sobre as escolhas. Nesta edição, o compositor Kiko Dinucci:

Blackt Out - Lee Ranaldo and The Dust - "Com base riff hipnótico, a canção evolui em diversos timbres e texturas de guitarras, quando a música se acalma em sua dinâmica, uma nova explosão invade o espaço." * É a última música do player abaixo:


Mixturação - Walter Franco - "O começo épico engana, a canção se mostra aos poucos em um grunhido de dor. Um grito de libertação. O ouvinte sente em suas vísceras cada berro e gemido de Walter. Ouvir essa canção é quase uma mutilação."





26 Anos de Vida Normal - Erasmo Carlos - "Não consigo expressar racionalmente o que essa canção me passa, mas ela me mostra o que é o Brasil. Cinco anos lendo jornal, 4 anos assistindo TV, 26 anos esperando você. Quando o cara resolve não morrer lendo jornal, resolve chegar à fama pela marginalidade. Me lembra o Seja Herói Seja Marginal, me lembra os pop star do crime. Me lembra que 26 anos é uma idade que um marginal não alcança."




Capítulo 4, Versículo 3 - Racionais MCs - "Nunca uma canção brasileira foi tão violenta. Essa música faz o ouvinte descobrir em minutos o apocalipse em que se transformou o Brasil. É a voz vinda do lodo social, sem espaço para perdão. Ódio em estado mais bruto. Crônica cruel de uma nação devastada desde seu período colonial." 




Rua Real Grandeza - Jards Macalé e Wally Salomão - "Ouvir Jards cantando apenas com um violão é uma experiência única. O violão dança entre silêncios e esporros. A voz de Jards caminha entre esses silêncios, ouvimos sua respiração ofegante. O resultado é a expressão de um artista original, inventor nato. Veja, jatos de sangue/espetáculo de beleza - as frases finais de Wally sintetizam o que a canção propõe."

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Noala - Humo #resenha



A música mais extrema está bem representada no Brasil no momento; há bons lançamentos envolvendo a galera do punk/hc e também nas variáveis mais metaleiras. Basta prestar atenção em nomes como The Black Coffins,  Deaf Kids, Elma, Test, The Renegades of Punk, Lo-Fi, O Cúmplice, Facada, Os Estudantes, Morto Pela Escola e outros tantos que lançaram trabalhos relevantes nos últimos anos.

Mais uma adição à lista é o primeiro disco do Noala, confirmação de que a feiura de andamentos mais arrastados e instrumentais lamacentos pode ser inventiva. Com vocais inseridos como intervenções mais violentas de um tecido instrumental de engenheiro e um cuidado para evitar uma terrível maldição onanista da música pós-alguma coisa, Humo é, ao mesmo tempo, contemporâneo e verdadeiramente feio. Ou seja, as premissas básicas de qualquer banda de metal nova que se preze estão lá.

As paredes sonoras das guitarras se intercalam com ataques furiosos em Nostalgicca; Stuck in Gastric Tube é tão desconfortável quanto sugere seu título, com refrão mastigado e peso extra contendo um diálogo inserido com frases do tipo: “...For me god is a disease.”Canis Majoris experimenta ambientes de maior silêncio e espaçamento, preparando terreno para Snake Skin, muitos minutos de inventividade nos riffs (base areia movediça solo fumacento) e  algumas viradas de andamento; Ainda temos Humano vinga na História do Impossível, um hit no submundo do metal, Dataglove and Joysticks e seu experimentalismo 8-bit humanoide e o encerramento com Senil, pesadelo transformado em música sinuosa.

Basicamente, Humo apresenta uma coleção de canções com boas variações de tempo, timbragens cuidadosas, repetições indutoras, formando composições sólidas de sludge metal.Bobagem a recomendação “bom até mesmo pra quem não curte metal”. Afinal, quem não curte metal (não) é doente da cabeça. 8/10

Leia mais sobre o Noala no Noisey


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Don L - Caro Vapor/Vida e Veneno de Don L #resenha


A mixtape DinheiroSexo, Drogas e Violência de Costa a Costa (2007) do grupo cearense Costa a Costa foi como um tiro traçante rasgando o céu escuro do rap nacional do final dos 2000. As alternativas oferecidas ali – diversidade estética, opção pela composição livre, busca pelo timbre, flow de nível AAA – praticamente chamavam os contemporâneos para a reflexão e elevava alguns bons centímetros a altura da barra para um salto perfeito.

De lá pra cá, se você não estava em coma profundo ou lendo apenas colunistas-blogueiros indie, sabe que o rap no Brasil deu seus pulos e estabeleceu padrões altos e provavelmente por isso atraiu público diverso e mais numeroso. Emicida e Criolo lançaram discos importantes e de grande repercussão, gerações cruzadas do underground como Ogi, Kamau, Rincón Sapiência e Rael se fizeram presentes e agrupamentos de apelo com a molecada como os cariocas da Cone Crew ou MCs paulistas como Rashid e Projota reúnem pequenas multidões país afora.

E é neste cenário em que o rap já atingiu o nível de discussão legitimidade versus vendagens, que Don L, um dos criadores da famosa mixtape divisora de águas lança seu trabalho Caro Vapor/Vida e Veneno de Don L. Don já andava agitando as coisas botando sons na rede que evidenciavam a continuidade daquela vibe gangsta-vivendo-e-transando-enquanto-você-só-resmunga, além do tradicional capricho com os beats e rimas, o que parecia um prenúncio de um trampo bom mesmo.

Dá pra resumir a mixtape como uma trilha sonora dos melhores e piores momentos que você pode atingir na vida; não é apenas hedonismo, é a percepção de enxergar o copo meio cheio (de uísque com champanhe e sangue). Não há negação dos obstáculos, inclusive situações horríveis como “assinar um três três” são citadas. Don é amante das alterações da mente que coisas como a bioquímica e o sexo oferecem, da bebida ao suor da parceira, e alimenta suas letras com imagética exemplar, do tipo que te transporta para toda a experiência em si. Algo que normalmente chamamos de inspirador.

Musicalmente, o sentimento doce-amargo predomina, com batidas diversas (assinadas pelo próprio Don e também Billy Gringo, Luiz Café, Alexandre Basa, Papatinho e Casp Beats) arranjadas entre levadas de quem parece contar com prazer naquela mesa de bar uma porrada de coisas loucas que aconteceram. É óbvio que Don ouve muita coisa diferente e deve ter uma coleção de discos pra lá de referenciada (curiosidade: os rappers costumam ter mais -e melhores- discos, rock incluso, do que roqueiros indie low-brow).

Doce Dose mostra que existe amor pelo blues sujo, afinal é ali que reside a dor negra do submundo, ainda que possa ter sido filtrada pela psicodelia de Jim Morrison; Depois das Três é um chamego R’n’B; Me Faz Acreditar é um interlúdio romântico lúdico; Cafetina Seu Mundo originalmente usava um sample do Black Keys, mas a gravadora da banda estadunidense tretou com isso e a solução de utilizar um instrumental resolveu com estilo, é o melhor rock que você ouvirá no ano, porque no final das contas não é rock; Sangue é Champagne , que já rendeu um clipe inacreditável, é uma música que se sustenta apenas por ser melodicamente bem resolvida, um devaneio erótico cheio de alma. De resto, "só" hits potenciais e hip hop essencialmente, já que a base da criação é mesmo a poesia acompanhada das batidas, instrumental e arranjos. A escalação de convidados envolve nomes como Flora Matos, Rael, Terra Preta, entre outros.

Caro Vapor é disco pra ouvir logo pela manhã, não importa o humor; se estiver deprê, escute pra animar; se estiver disposto, dá um gás e colore o dia. Parece tolo, mas coisas assim dizem muito mais sobre a música pop que mil palavras dentro de um texto: é o prazer, a experiência e a inspiração que o trampo de alguém pode te trazer. O próximo cara a tentar o salto vai ver a barra alguns centímetros mais no alto E é só mais uma mixtape. 9/10   

Baixe Caro Vapor no site da VICE 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Garotas Suecas - Feras Míticas (resenha)



Sempre há espaço para aprimoramento no campo da criação. Pelo menos é o que o pessoal do Garotas Suecas nos faz crer com seu segundo disco, Feras Míticas. O ótimo trabalho de estreia, Escaldante Banda, de 2010 (recheado de groove brasileiro e rock-soul pra fazer suar) já tinha consistência e equilíbrio de ideias. Algum tempo e muitos shows por alguns cantos do planeta depois, a banda paulistana apresenta um arsenal de canções que não apenas são hits potenciais, mas tecem um tipo de coesão cinemática, uma viagem por sentimentos carregados por uma competente bioquímica de timbres, harmonias vocais, teclados, guitarras e seus pedais, formando um baile levemente lisérgico, e primordialmente um ambiente de nuances e curvas .Bem menos referencial, muito mais fluido.

Manchetes da Solidão é o tipo de abertura que coloca o pé no acelerador, ritual roqueiro de rolo de fita magnética transportado para a era digital; New Country, um belo exemplo de sinuosidade + refrão incrível Southern rock; Bucolismo é um soul brasileiro tão bonito que  estabelece um nível para o restante do álbum que parece difícil, já que eles estabelecem pra si próprios um compromisso pesado: iniciam com uma trinca matadora e querem o ouvinte feliz no final. Conseguem?

O miolo da parada mostra a tecladista Irina Bertolucci assumindo os vocais em Pode Acontecer, uma balada acústica e belamente arranjada; a suingada A Nuvem, com a pertinente feat. Da MC Lurdez da Luz. L.A. Disco, como indica o nome, faz a ponte da herança negra caminhando pelos anos sessenta até algum verão decadente do final dos setenta. Eu vou sorrir pra quem é gente boa é construída com simbiose letra/melodia inspirada e funciona nos detalhes de percussão e efeitos.

O finalzinho da jornada oferece Roots Are for Trees, sete minutos de oníricas passagens (parabéns ao trabalho do produto Nick Graham-Smith por extrair o melhor da banda e pelo nível de timbragem) e a singela e muito boa O Primeiro Dia, com Irina soltando sua rouquidão e slide guitars derretendo nossos coraçõezinhos. A resposta para a pergunta do segundo parágrafo é: sim, amigos. Os caras fizeram um disco bom até o fim, ainda melhor que o primeiro, e Feras Míticas é feríssimo. 9/10