quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Garotas Suecas - Feras Míticas (resenha)



Sempre há espaço para aprimoramento no campo da criação. Pelo menos é o que o pessoal do Garotas Suecas nos faz crer com seu segundo disco, Feras Míticas. O ótimo trabalho de estreia, Escaldante Banda, de 2010 (recheado de groove brasileiro e rock-soul pra fazer suar) já tinha consistência e equilíbrio de ideias. Algum tempo e muitos shows por alguns cantos do planeta depois, a banda paulistana apresenta um arsenal de canções que não apenas são hits potenciais, mas tecem um tipo de coesão cinemática, uma viagem por sentimentos carregados por uma competente bioquímica de timbres, harmonias vocais, teclados, guitarras e seus pedais, formando um baile levemente lisérgico, e primordialmente um ambiente de nuances e curvas .Bem menos referencial, muito mais fluido.

Manchetes da Solidão é o tipo de abertura que coloca o pé no acelerador, ritual roqueiro de rolo de fita magnética transportado para a era digital; New Country, um belo exemplo de sinuosidade + refrão incrível Southern rock; Bucolismo é um soul brasileiro tão bonito que  estabelece um nível para o restante do álbum que parece difícil, já que eles estabelecem pra si próprios um compromisso pesado: iniciam com uma trinca matadora e querem o ouvinte feliz no final. Conseguem?

O miolo da parada mostra a tecladista Irina Bertolucci assumindo os vocais em Pode Acontecer, uma balada acústica e belamente arranjada; a suingada A Nuvem, com a pertinente feat. Da MC Lurdez da Luz. L.A. Disco, como indica o nome, faz a ponte da herança negra caminhando pelos anos sessenta até algum verão decadente do final dos setenta. Eu vou sorrir pra quem é gente boa é construída com simbiose letra/melodia inspirada e funciona nos detalhes de percussão e efeitos.

O finalzinho da jornada oferece Roots Are for Trees, sete minutos de oníricas passagens (parabéns ao trabalho do produto Nick Graham-Smith por extrair o melhor da banda e pelo nível de timbragem) e a singela e muito boa O Primeiro Dia, com Irina soltando sua rouquidão e slide guitars derretendo nossos coraçõezinhos. A resposta para a pergunta do segundo parágrafo é: sim, amigos. Os caras fizeram um disco bom até o fim, ainda melhor que o primeiro, e Feras Míticas é feríssimo. 9/10

   

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