Convocamos uma galera pra escolher cinco canções e trocar ideia sobre elas. Nesta edição, Bonifrate:
Beto
Guedes - A página do relâmpago elétrico
"Uma
das canções mais bonitas que existem. Brota de uma melancolia
enraizada no chão e sobe aos céus platônicos das ideias com um
emaranhado de imagens fortes e épicas. É incrível que uma peça
tão cheia de compassos quebrados e timbres estranhos tenha sido um
grande sucesso radiofônico como foi 'A página do relâmpago
elétrico'”.
Super
Furry Animals – (Rocks Are) Slow Life
"Posso
dizer que a obra dos Furries habita minha fonografia mais interior,
minha coleção de influências mais visceralmente explícitas. Não
escreveria canções como as que eu escrevo se não fossem as de
Gruff Rhys. 'Slow Life' é um épico beligerante da pista; uma
baita síntese pop do século XXI. Os Furries me ensinaram que uma
canção pode falar sobre qualquer coisa; os Mutantes, que isso
também vale pro português."
Os
Mutantes – Ave Lúcifer
"Sempre
que eu escuto 'Ave Lúcifer' sinto o eco destruidor da primeira
audição; todo aquele imaginário terrível e fantástico da pintura
de Bosch transubstanciado em uma canção. Quando ouvi 'Ave
Lúcifer' pela primeira vez, comecei quase que imediatamente a
rabiscar, também pela primeira vez, uma letra em português."
Peter
Tosh – Till Your Well Runs Dry
"O
som do Peter Tosh, junto com Lee Scratch Perry, destroçou há poucos
anos com a resistência adolescente estúpida que eu tinha ao reggae.
É provável que nos últimos tempos eu tenha escutado mais música
jamaicana que qualquer outra coisa. Entre a amargura de um coração
partido no fundo do poço e a intervenção política mais concisa e
revolucionária, o Tosh é baita de um letrista."
Bob
Dylan – Desolation Row
“'They’re
selling
postcards
of
the
hanging'”
– com
esse
mata-leão,
Dylan
começa
essa
que
é
uma
das
suas
canções
mais
longas
dos
anos
60. É
também
das
mais
referenciais
e
absurdistas.
Mas
o
bonito
pra
mim
é
sacar
como,
em
meio
a
todas
essas
imagens
loucas
(Ezra
Pond
e
T.S.
Elliot
lutando
sobre
torre;
Einstein
disfarçado
de
Robin
Hood
tocando
violino
elétrico;
o
Fantasma
da
Ópera
assustando
garotas
magrelas),
Dylan
te
arranca
os
sentimentos
mais
humanos,
identificados
ali
com
todos
nós
que
pensamos
pesado
e
sofremos
por
esse
corredor
da
morte
irrecorrível
que
é
o
mundo.
Escolhi
aqui
a
versão
do
Bootleg
Sessions
Vol.
4, que
carrega
aquela
tensão
dos
concertos
do
Dylan
no
Royal
Albert
Hall
em
1966, e
onde
ele
parece
realmente
querer
violentar
os
ouvidos
da
audiência
com
coices
rítmicos
e
feitiços
melódicos."
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