terça-feira, 26 de abril de 2011

Gang Of Four - Content


Com a nova organização do modelo de consumo de música, bandas velhas estão retornando em busca de uns trocados e enterrando qualquer senso de dignidade ao tocar seu repertório antigo para fãs saudosistas. Mais difícil - e arriscado - é se manter criando músicas novas. O Gang Of Four nunca realmente terminou, mas sua trajetória foi cheia de interrupções. Com um disco de estreia clássico (Entertainment!, 1979) e uma carreira mais prolífica até o meio dos anos oitenta, os anos seguintes viram o grupo perder dois membros originais e apenas dois álbuns de inéditas na década de noventa.

No começo desse ano, Andy Gill e Jon King, os dois remanescentes da formação original retomaram a carreira de verdade. Não apenas excursionando (como vinham fazendo durante a segunda metade dos anos 00), mas gravando um album de inéditas. Bastante apropriado para o momento, já que o pós-punk que fez a fama deles, um do tipo funkeado, afiado e abrasivo serviu de grande influência para sujeitos do cenário recente: das experiências dançantes de bandas como Rapture, !!! e LCD Sounsystem (selo DFA em geral) ao pop britânico do Franz Ferdinand e Bloc Party . Sem falar em bandas clássicas como Fugazi e Nirvana. Ou seja, eles tinham de entregar alguma coisa decente, senão seria uma decepção.

Content não apenas retoma o som clássico do início de carreira, mas também parte da inspiração e força. A pegada instrumental está presente nos riffs de guitarra ora fluidos e dançantes, ora ameaçadores e pesados, enquanto a cozinha trabalha no interplay funkeado. As letras mantém o cinismo e a acidez de outrora, embora eles tenham amadurecido suas mentes tanto quanto o mundo político atual se aproxima das polaridades dos anos setenta. Se o disco sofre em algum momento pela falta de variações, cresce com alguns sons mais redondos como I Can't Forget Your Lonely Face, You'll Never Pay For The Farm e Second Life, todos exemplares da coisa abrasiva/funkeada/quadrada típica da banda.

Assim como o Killing Joke, que lançou um sólido disco no ano passado, o Gang Of Four pode se orgulhar de suas novas canções: elas se integrarão perfeitamente num setlist que contenha Damaged Goods, Natural's Not In It, e At Home He's a Tourist. 7/10

O Gang Of Four faz apresentação gratuita em São Paulo no dia 29 de Maio dentro do Cultura Inglesa Festival, junto com Blood Red Shoes e Miles Kane. Os shows serão no Parque da Independência.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Jennifer Lo-Fi - Troffea video

O blog adora a banda Jennifer Lo-Fi, tanto que já falamos deles aqui e aqui. E é com prazer que apresentamos o videoclipe de Troffea, uma das boas músicas do EP Noia:

sábado, 23 de abril de 2011

Criolo - Nó na Orelha


Categorizar e rotular: tarefas que já foram relativamente simples, óbvias até, em muitos momentos da música popular. E não podemos fugir daquilo que, convenhamos, já pertenceu a muitos universos particulares: a sensação de pertencimento, que até os anos 90 eram bastante relacionados ao seu gosto musical. As tribos musicais raramente se misturavam.

No Brasil, uma terra em que o termo pop até hoje é completamente desconexo da realidade - a MPB se "estabeleceu" como gênero amorfo e acomodado em seu status quo; e o resto, é o resto. Qualquer expressão mais genuinamente popular ganha contorno e carimbo de sub- produto, ou tema de reportagem pretensamente sociológica, geralmente em contornos dramáticos: "Adolescentes usam drogas e ouvem funk", "Garota de classe média sobe o morro com o namorado traficante"," Confusão em show": tudo culpa do rap, do funk, do samba marginal...

O cenário real é que a informação que abastece as periferias é a mesma que é consumida nos condomínios-clube fechados ; exceto que, por motivos óbvios, ela é filtrada de forma diferente. Talvez até pela necessidade de manter um nível de excelência para sobreviver, trabalhos realizados por rappers paulistanos, por exemplo, carregam mais referências que a média: só quem ouve com atenção sabe que um cara como o Mano Brown é repleto de bons sons em sua discoteca pessoal. A proliferação mais veloz e instantânea de sons e idéias atualmente só aumenta a probabilidade de gerar bandas que são diametralmente opostas no estilo, embora convivam em um mesmo contexto geográfico. E desafiam aqueles que acreditam ter o poder de controlar e estabelecer regras para o consumo cultural.

Nó na Orelha é o segundo disco de Kleber Gomes, o Criolo, antes Criolo Doido. A trajetória desse rapaz na cena hip-hop é longa e antiga. Mas esse disco é como seu cartão de visitas para o mundão. Capaz de criar letras e transformar pequenas cenas em rimas como se fosse uma máquina industrial, Criolo percebeu que poderia registrar suas crônicas de forma mais adequada ao seu furor criativo. Aqui vale o conceito desenvolvido pelos parágrafos acima: com a ajuda de Marcelo Cabral e Daniel Ganjaman - produtores do album -, Criolo, o MC, o, rapper, entrega um dos mais completos discos da música pop brasileira nos últimos tempos. Completo pelo estilhaçamento de ritmos e pela forma como tudo se amarra; completo nas letras que vão de imagens poéticas á ataques críticos, de relatos contundentes ao bom humor; e principalmente porque é um poderoso disco de hip-hop, na essência. Isso é música popular com sangue nas veias.

Bogotá abre o trabalho como uma bomba soul-funk-afrobeat: é dançável e forte, quase tropical. Mas é afiada, aguda. Menos celebração hedonista e mais "fio na navalha/brincar no precipício". O single Subirusdoistiozin possui aquela qualidade instrumental típica do coletivo Instituto, um mosaico de teclados bem encaixados duelando com a verve Criolística que narra mais um pedaço de realidade. O soul rasgado de Não Existe Amor em SP mostra que instintivamente Criolo canta melhor ainda quando é sutil: o que pode soar como uma visão estreita da crueza da metrópole é mais um apelo emocionado de um morador da cidade. Mariô segue para provar que o cidadão Kleber aqui não é pequeno poeta universitário: mandando a real, não alivia pra ninguém: "Quem se julga a nata/cuidado pra não cuaiá" ..."fia: eu odeio explicar gíria". Freguês da Meia Noite é um lamento, bolerão desavergonhado, sobre frio na alma, no ar e no Largo do Arouche. O "outro lado"do single Subirusdoistiozin, Grajauex, é uma porrada, que de forma quase delirante utiliza o bairro de criação do Criolo para inserir um grande mundo de emoções. Samba Sambei, vejam só, é como a chegada de um soundsystem jamaicano. Sucrilhos, sucesso já nas apresentações, cita Rappin Hood, favela e Oiticica pra avisar que "cientista social e Casas Bahia"... "pode colar/ mas sem arrastar/se arrastar a favela vai cobrar". Lion Man é uma aventura cósmica narrada de forma tão pulverizada que desnorteia o ouvinte, como golpes ninjas. Encerrando o disco, a canção que dá título se inicia como uma moda de viola que se transforma em samba e conta com a "participação" da Turma da Monica na poética nada pueril.

Assim, Criolo resume em dez músicas uma vida dedicada á música independente, ao hip-hop, á rinha dos MC's. E também uma homenagem á cidade de São Paulo - que é capaz de inspirar e destruir - e a seus pais. Boas intenções não resultam necessariamente em discos elogiáveis. Mas Nó na Orelha acaba sendo o retrato mais bem acabado de uma música que pode ser atual, pungente e acessível; difícil de aprisionar em rótulos anacrônicos, mas feito com suor. Afinal, "cantar rap nunca foi pra homem fraco". Nó na orelha, soco no estômago e afago na alma e no coração. Salve Criolo. 9/10

Criolo está no projeto Noisey, da revista Vice, sobre nova música mundial. Confira aqui.

Não Existe Amor em SP by criolo_oficial

quinta-feira, 21 de abril de 2011

U.D.R. - Racha de Chevettes



Racha de Chevettes é evidentemente o melhor nome pra disco desde sempre. Daria um bom nome pra banda também (fica a dica). É um registro ao vivo demencial dos mineiros da U.D.R. no Kool Metal Festival de 2005. Você, que é um cidadão "do bem", nunca ouviu falar dessa banda. Basicamente os caras são funkeiros de satã: é funk carioca com death metal, rap e outras coisas "feias". Como eles possuem uma porrada de EPs e nenhum album de verdade, Racha de Chevettes acaba sendo uma espécie de registro definitivo do trabalho da banda.

São onze faixas em que todo tipo de ofensa moral é cantada belamente através de bases funk e bateção de cabeça: estupro de deficientes ("aleijados"), idosos, crianças, travestis, padres, Jesus e Satanás; consumo intenso de crack, mutilação, necrofilia, violência psicótica, amor, depressão, etc.

Todos que utilizam motes como "sou do bem", deveriam protestar no twitter, e exigir que autoridades eleitas em nome da moral, dos bons costumes e da família brasileira façam algo a respeito; a veiculação de músicas como as aqui despejadas é um tapa na cara da sociedade. É muito errado, num mundo errado. 10/10

Racha de Chevettes (Live @ Kool Metal Fest, 6/6/05) by udrnoseucu

Infelizmente, uma música importante não está no disco, ouve aí embaixo:

U.D.R. - Queria Que As Bichas Indies Parassem de Gostar da Gente by udrnoseucu

The Streets - OMG video

Computer And Blues, inacreditável disco final do projeto The Streets, comandado pelo talentoso Mike Skinner já foi devidamente elogiado aqui. Esse é o novo vídeo, da música OMG. The Streets chegando ao final (Skinner já deu pistas de como deve seguir fazendo canções poderosas com o disco Cyberspace and Reds) é uma notícia mais lamentável do que o encerramento de certas bandas cool-hipster-novaiorquinas comandadas por sujeitos "gente boa". Mais sobre Skinner pós The Streets nos próximos posts:

terça-feira, 19 de abril de 2011

Social Distortion - Hard Times and Nursery Rhymes


O Social D não é exatamente uma banda que lança discos com regularidade. De 1983, estreia com Mommy's Little Monster até esse Hard Times... eles somam sete discos de estúdio. Sete albuns em 28 anos. E o contingente de fãs parece congregar gerações que se acostumaram com o anacronismo latente de sua música. Se em 83 eles eram parte da cena californiana do punk, os problemas de Mike Ness só permitiram um retorno em 1988. Nesse período, a melhor sequência ocorreu com Prison Bound, Social Distortion e Somewhere Between Heaven And Hell (entre 88 e 92). O som da banda já estabelecia uma agressividade punk com melodias mais próximas ao rock dos anos cinquenta, e os Rolling Stones setentistas. Nada a ver com a cena grunge que se formava e expandia. White Light, White Heat, White Trash (1996) fechava os anos 90 para o Social Distortion com uma pegada mais forte e confissões de "sobrevivência" de Mike Ness. Um mundo de perdedores e fodidos numa cena pop que ainda tinha o gosto bubblegum do Green Day e do Offspring no mesmo estado de origem. De novo, outsiders.

Sex, Love And Rock'n'Roll marcou o retorno da banda em 2004. Mais um confessionário de vida rocker levado por uma banda afiada. Boa coleção de músicas, embora a coesão não estivesse presente: pegada hardcore melódica e baladas mais lentas.

2011: quem se importa com um novo disco do Social Distortion? Ness comanda um grupo como único membro original; suas cicatrizes emocionais já foram exploradas em diversas canções; o risco de soarem como moribundos reciclando clichês e destruindo a reputação de Orange County punks; a estilhaçada e não-direcionável cena pop nos traz sons que fazem Hard Times... soar como...

O grande insight aqui é que para ser relevante basta ter boas canções. É bastante simples. Do dubstep ao witch-house, do indie-me-engana ao folk fofinho, do funk á cumbia, ninguém se impõe por PERTENCER. Os garotos e garotas descartam músicas de seu Ipod como se o produto ali tivesse que se impor ao momento: uma banda velha como o Social Distortion possui uma qualidade que permite a sua longevidade digna: entrega e qualidade, um veterano de guerra carismático e grandes músicas.

Integantes saíram, morreram (Brent Liles, Dennis Danell) e o disco soa como um atestado de força e insistência. Mais coeso, equilibrando-se entre fúria punk e ataques de rock clássico - no sentido raízes blues-bar-quebradeira - Hard Times... é possivelmente um dos mais fortes lançamentos de rock em 2011. Não é modern rock, indie, alternative, afro-pop. Só rock. Alguns torcerão o nariz, afinal de The Creeps (83) para Can't Take With You (2011) há menos trivialidade punk e mais elementos conservadores. Mas a estética musical não confere confiabilidade: isso aqui é definitivamente algo que te faz mais feliz e te impulsiona para a batalha diária da mesma forma. Destacar músicas não se faz necessário porque há aquele já citado equilíbrio entre as faixas. Mas Still Alive resume a jornada: Ness canta:" os tempos mudaram, mas ainda estou vivo, lutando as mesmas batalhas, estarei aqui até o amargo fim". 8/10

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Battles - Gloss Drop


Math-rock não é um gênero tão bem definido assim; e não vamos aqui aprofundar a discussão porque Gloss Drop, segundo disco dos americanos do Battles, é simplesmente um ataque sônico divertido: mudanças de tempo, angularidades e precisão rítmica estão presentes. Quem não está é o multi-instrumentista Tyondai Braxton, que deixou o grupo. E aqueles que acreditavam na dissolução do Battles, devem agora se perguntar se Tyondai não amarrava demais o horizonte criativo dos caras.

Com espaço sobrando na estrutura, o Battles convidou alguns sujeitos para participar do disco: o chileno Matias Aguayo, Yamantaka Eyes (líder do japonês Boredoms), Kazu Makino (Blonde Redhead) e o guru do synthpop Gary Numan. Mais do acrescentar algumas cores a mais no formato musical, os convidados ajudaram a redefinir o "novo" Battles: um grupo que não perde a consistência de sua personalidade, mas se diverte ao buscar novos elementos.

Dominican Fade, um pequeno número instrumental no meio do album, soa como se robôs tentassem tocar instrumentos reais, programados para algo tropical, mas acabassem de alguma forma se descontrolando. Aliás, para uma banda tão "cinza", o climão de verão surge com muita frequência durante Gloss Drop: Ice Cream (doh!), com os vocais de Aguayo, é basicamente o sonho de composição de trocentas bandas que desejam se aproximar de ritmos "exóticos"e soar cool. O Battles ensina: trabalhando com ferramentas usuais, instintivamente mesclam algum remelexo no seu padrão não ortodoxo: o riff de guitarra que assinaria a carta de intenções é todo estranho e processado. Eles sabem que não poderiam tocar uma cumbia e sair andando por aí impunemente. Menos estética, mais inserção. Futura é mais fluida que qualquer coisa de Mirrored (disco de estreia), embora retenha a fórmula antiga. Inchworm é um exercício prático de rock experimentalista bate-cabeça. Wall Street é o som de uma banda arranhando as paredes de seu ambiente e avançando lentamente para algo mais acessível, sem diluir uma gota de sua santíssima bíblia de rock matemático. Gary Numan dá voz ao incansável objetivo da banda de transformar instrumentação convencional em um simulacro de música eletrônica. Humanos tocando como se fossem inumanos, essa inefável tarefa. Mas a busca é digna em My Machines.

Gloss Drop, portanto, é um passo adiante na sonoridade do Battles, um daqueles que não podem ser desfeitos. Agora é só olhar pra frente. Tchau, Tyondai Braxton. 8/10

Ice Cream (Featuring Matias Aguayo) by BATTLES

sábado, 16 de abril de 2011

Some Community - Young And Fresh video

De volta ao Brasil após datas pela América do Norte, o Some Community lança seu primeiro clipe oficial, extraído do excelente EP RinoRino. A música escolhida foi Young And Fresh. Confira:

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Burial - Street Halo


A volta do Burial após o clássico disco Untrue (2007) veio em forma de single: Street Halo é a música, acompanhada por mais duas canções novas de um dos mais criativos manipuladores da eletronica moderna. Formando a base do 2-step e da música soturna e cheia de graves, o retorno de Burial deve ser celebrado como uma conjunção adequada de fatores que estão levando o tipo de som que ele ajudou a criar para um público maior: James Blake, Jamie Woon e Katy B, que já foram tema de post por aqui, lançaram seus debuts recentemente, criando um atalho para a inserção do underground eletrônico no pop moderno.

Street Halo continua a saga de Burial em busca de uma química inovadora e brutal: é o som de uma festa rolando em algum galpão abandonado, perto de uma linha de trem, sendo ouvida através de paredes ou sub-aquaticamente: há tantas distorções e barulhos e incômodos, sons mais próximos de uma vida urbana caótica e imprevisível, organizadas de forma harmônica e que te fazem sentir a tensão e a ansiedade tanto quanto te levam hipnoticamente para um confortável chá em dia chuvoso. Uma música elástica e abrangente, que se movimenta de forma imprevisível. Belo prenúncio do que esse cara ainda pode produzir.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

No Joy - Ghost Blonde


O disco de estréia desse pessoal de Montreal saiu no final do ano passado. Acho que injustamente ficou perdido na teia de bandas que resgatam as distorções de guitarra e vocais enterrados, naquela pegada noise-pop, shoegazer. Formada pelas garotas Jasmine White e Laura Lloyd, Ghost Blonde é um excelente album debut. Agora como um quarteto, a banda não arranha as referências mais óbvias de quem encontra felicidade na equação barulho e melodia. Ao contrário de revivalistas que se contentam em colecionar pedais e fazer pose de Jim Reid, o No Joy possui um som encorpado e entrega intuitiva.

Mais do que colecionar clichês, a mágica aqui disposta em dez faixas é exatamente condensar as qualidades de bandas como My Bloody Valentine (psicodelia sexy), Jesus And Mary Chain (bubblegum noise), Slowdive (hipnótica levada), Lush (pop), Sonic Youth de Daydream Nation (riffs espasmódicos/cósmicos) agregando garagismo e agressividade. Citando uma banda conterrânea atuante, seria como um Besnard Lakes mais direto e juvenil.

Ao invés de gerar nostalgia e talvez desagrado aos que viveram e reverenciam a música do final dos anos 80 e início dos 90 - e não são poucos, pela quantidade de blogs e fóruns dedicados encontrados pelo mundo - o No Joy apresenta a um público novo a sua própria energia de banda nova, reabrindo o interesse pelo momento em que o barulho se tornou parte indissociável da melodia. E voltar no tempo para escavar origens é um efeito que só quem possui talento pode causar em fãs mais jovens. Com o apoio de Bethany Cosentino (Best Coast, companheiros de selo, o Mexican Summer) e integrando o projeto Noisey, da revista Vice, o No Joy pode levar Ghost Blonde a um reconhecimento maior. Bring the noise AND the sweet melodies, guys. 8,5/10

terça-feira, 12 de abril de 2011

O rap é pop na revista semanal

Matéria publicada na revista Época com o singelo título "O rap virou pop" gerou mal estar em quem realmente está envolvido com o gênero. Inclusive nos que foram entrevistados e/ou citados pela reportagem. Basicamente, a matéria tenta estabelecer uma suposta diferença de atitude dos "novos" rappers: agora eles possuem discurso e som mais acessíveis ao público médio da revista, portanto é uma aviso para que não tenham medo do rap. Aquele estilo de gente mal cheirosa e da periferia, de cara feia e terrorista ficou pra trás. A classe média pode consumir sem preconceito, afinal eles "falam de amor e usam roupas de grife".

Os repórteres tiveram o cuidado de ouvir quase todos os caras: Emicida, Lurdez da Luz, Criolo...mas a intenção já estava configurada. A idéia era mostrar que a revista é "mente aberta", mas principalmente que o gênero rap nacional agora é pop. Tipo Black Eyed Peas. O mais verdadeiro está nas declarações recortadas e inseridas: Rincón Sapiência explica que a ascensão dos pobres permitiu uma mudança de visão dentro das periferias; Criolo diz que a mistura de ritmos sempre existiu; as declarações contradizem o espírito empregado pelos jornalistas, de que houve uma brusca ruptura com o rap dos anos 90. Bem, estamos falando de vinte anos de diferença...

Não houve nenhuma preocupação em compreender a linha evolutiva do estilo: épocas diferentes, realidades diferentes, mídias diferentes, necessidades diferentes. Até mesmo foi empregado uma espécie de infográfico, em que Mano Brown, Tháide se opõem á Emicida, Flora Matos. Num esforço brutal de reportagem, descobriram que nos anos 90 usavam "batidas eletrônicas quase sempre criadas por DJs". Como todos sabem os DJs estão todos mortos agora. Em contraponto, os novos usam "outros ritmos (?) e instrumentos ao vivo". Ahh, muito mais artístico.

Não entender do assunto não é demérito, a não ser que voce seja pago para escrever uma matéria que humildemente sugere "explicar" ao público como o rap nacional se formou e mudou para o pop. Ninguém pensou em relativizar essas mudanças com processos inerentes á qualquer tipo de música popular. Afinal, estamos falando de décadas de discos produzidos. Como era tocar rap nos anos 80? E nos anos 90? Qual a vida pregressa desses "novos"?

Aqui quem escreve é capaz de assumir que não conhece profundamente o assunto. Mas percebe que a capacidade de criação, as novas tecnologias, as mudanças geracionais desaguam em resultados mais diversos, em que a falta de distanciamento histórico não permite dizer com clareza que alguém é melhor ou pior. Que o gênero se renova por necessidade, sem anular os méritos de quem desbravou os mesmos territórios. E que o reducionismo só serve pra desinformar. A nova geração caminhou até aqui, e fez calos nos pés. Andaram, como a Lurdez diz aí:

sexta-feira, 8 de abril de 2011

"Submarine" será o filme do ano?



A estréia como diretor de Richard Ayoade (mais conhecido por seu papel no sitcom IT Crowd) é uma adaptação do livro de Joe Dunthorne. Richard já dirigiu videoclipes para o Arctic Monkeys, Yeah Yeah Yeahs e outros - já falamos sobre isso aqui - mas a recepção crítica para seu primeiro longa é muito positiva.

O filme gira em torno do garoto Oliver Tate (Craig Roberts) e suas preocupações fatalistas: acredita ser um escritor torturado- gênio fadado á incompreensão; é atraído pela garota confiante Jordana Bevan (Yasmin Paige); acredita que seus pais (interpretados por Noah Taylor e Sally Hawkins) irão se separar devido á aproximação de um hippie-new age (Paddy Considine). Uma comédia de tons nostálgicos e que recorre ao tema da adolescência e suas alavancas emocionais.

Mais do que o tema em si, o filme parece reunir um certo padrão para o cinema britânico: a chegada de novos talentos em um só filme: o diretor Ayoade e o jovem casal protagonista já são darlings locais. Pela boa recepção no festival de Sundance - e o apoio de Ben Stiller na produção - Submarine pode deslanchar a carreira desses caras como Trainspotting fez para Danny Boyle e Ewan McGregor principalmente.

A relação entre os filmes não pode ser completa - como a NME acredita - porque Trainspotting pertence á uma outra época. A incipiência das mídias da internet em 1994 permitia engarrafar o zeitgeist de forma menos árdua; a trilha sonora daquele filme reunia todos os nomes bombados do Britpop - Blur, Pulp, Elastica e a emergente cena eletrônica: Underworld e Leftfield. Algo que seria pouco provável na pulverizada cena pop atual.E o público hoje demanda suas preferências com a mesma agilidade em que compartilham opinião. O que derruba a tese do articulista ejaculador precoce do semanário inglês. Dessa forma, Ayoade corretamente solicitou a Alex Turner - um dos poucos bons letristas da atualidade - uma pequena gama de canções, que pudessem se relacionar com o filme. E o líder do Arctic Monkeys entregou um mini-album bastante reflexivo e interessante. Como o filme promete ser.

Assim mesmo, Submarine deve fazer barulho. Já está em cartaz no Reino Unido. Sem previsão de estreia no Brasil. Veja o trailer e uma canção da trilha abaixo:



quinta-feira, 7 de abril de 2011

Wild Beasts se inspira em Clarice Lispector - Albatross Video

Não é uma cover do Fleetwood Mac, mas o primeiro single de Smother, novo disco dos art-rockers ingleses do Wild Beasts. Sem apontar para nenhuma grande mudança na estrutura melódica apresentada nos discos anteriores, mas com algumas pitadinhas a mais de elementos eletrônicos, Albatross é mais uma pequena grande canção no repertório dos caras. Falando sobre o disco, Tom Fleming e Hayden Thorpe - líderes da banda - não fizeram questão de fugir do rótulo de "pomposos": citaram como inspiração os livros de Clarice Lispector e se compararam a Frankenstein, na posição de outsiders e estranhos. Resta esperar pelo disco, o vídeo está aí:


quarta-feira, 6 de abril de 2011

Katy B e Jamie Woon :O pop é pós dubstep



Se James Blake é a faceta mais torta desse mundo pós dubstep de 2011 com sua formação de pianista clássico e experimentalismo , a garota Katy B e o garotão Jamie Woon são a aposta mais forte no segmento pop. Katy investe na pegada mais dançante e Jamie no soul. Ambos com pezinhos no gênero que era underground quando surgiu, no final dos anos noventa/início de milênio. Mas, espera aí: Pós-dubstep?

Sem maiores delongas para explicar toda a linha genealógica do estilo, é possível dizer que remixes mais influenciados pela reverberação do dub e maior quantidade de quebras nas batidas começaram a desviar o antigo drum'n'bass e 2-step para o dubstep. No meio da década de 00, o estilo começou a bombar, saindo de suas origens londrinas e se espalhando, tanto com programas de rádio dedicados como com as conhecidas "pirate radio stations", que promoviam festas e DJs.

No ano passado, pioneiros como Skream trataram de formatar seu estilo, tentando apresentar ao grande público aquilo que ajudaram a criar: era a tentativa de colocar o dubstep no mainstream. Além de seu segundo disco solo, ele formou o supergrupo Magnectic Man junto com Benga e Artwork. O EP Phaze One, de Benga, Outside The Box, de Skream e o auto intitulado album do Magnectic Man são três discos que permitiram que gente do outro lado do Atlântico conhecesse melhor as batidas inglesas.

Esse ano, além de Blake, vemos o surgimento de músicos que já utilizam o dubstep como parte da fórmula, mas não se prendem ao gênero. É o pop pós dubstep: que ninguém acuse a menina Katy B de oportunismo, ou mesmo os dois James: isso é música produzida por jovens que cresceram ouvindo - e em alguns casos - participando ativamente da cena. Katy já fez vocais para singles de DJs e é próxima do grime londrino. Portanto, é o resultado natural de anos de audições em baladas desaguando em trabalhos que não se resumem em um único estilo. É pós dubstep.

O próximo passo poderá ser a verdadeira diluição do estilo em fórmulas pop mais estreitas, algo que o pop sempre fez. Qualquer batidinha mais quebrada e ecos de baixos poderão se encaixar no novo single da Lady Gaga ou de algum fracasso que queira uma "reinvenção". Mas por enquanto vamos analisar esses lançamentos mais fresquinhos da linha evolutória do dubstep:

Jamie Woon - Mirrorwriting

Jamie aposta em uma produção caprichada: assim como Blake, os ecos, silêncios e espaços dinamizam seus vocais. Mas o que é diferente é a dinâmica das canções, já que Woon se coloca definitivamente como um cantor soul/R'n'B, sem espaços para experimentações sônicas. O que funciona a seu favor é o imediatismo das músicas, mas a linha entre a urbanidade das batidas modernas e o pop-soul modorrento é facilmente ultrapassada: talvez um disco enxuto seria mais efetivo, sem a queda de interesse provocada pelas últimas canções. 7/10



Katy B - On A Mission

A esperança de que a garota londrina daria um belo exemplo de estrela pop com bagagem musical e referências corretas estava depositada: dona de voz potente e imagem carismática, a típica "menina comum" poderia servir de contraponto ao cardápio variado de cantoras britânicas: com folk, soul, indie rock, pop, rock dominando, Katy B seria a opção eletrônica mais confiável.

Parece que a opção em fazer um disco "bombado" acabou prevalecendo: o ritmo não diminui e permanece forte durante todo o album. E é quando se aproxima do dubstep que funciona melhor, como no single Katy On A Mission. A química deveria funcionar melhor quando Katy se posiciona mais defensivamente em batidas house, e assim como no disco de Jamie Woon, há pelo menos duas canções esquecíveis aqui, que atrapalham o equilíbrio de On A Mission. Ainda assim, um bom disco. 7,5/10



A trinca James Blake, Katy B e Jamie Woon são a bola da vez na aproximação entre o pop e a eletrônica. Cada um á sua maneira.

sábado, 2 de abril de 2011

The Kills Vs Boss Hog ou Alison Mosshart Vs Cristina Martinez

Cristina
Alison

O quarto disco da dupla The Kills, Blood Pressures, não empolga. A combinação de riffs crus de Alison Mosshart e o entrosamento com seu parceiro de banda Jamie Hince, que criaram a reputação de banda queridinha e cool, parecem pálidos aqui. Claro, há momentos em que o rock de corte blues e as pequenas intervenções eletrônicas dão aquele ar de balada indie. Mas também poderia ser de desfile de moda. O fato é que faltam variações rítmicas e inspiração. A fórmula que deveria consagrar Alison como musa roqueira falha, e o disco é flácido e esquecível.

Eu sou totalmente a favor de música nova (mesmo o The Kills existindo há uns bons dez anos, ainda são "frescos" na percepção midiática). Por isso mesmo não gosto de comparar ou reativar sentimentos de nostalgia. Mas nesse caso, acho que faz sentido lembrar de outra banda, que tinha uma musa nos vocais e riffs pontiagudos, e cuja essência era a química entre seus dois principais membros: o Boss Hog.

Projeto esporádico de Jon Spencer (Blues Explosion), o Boss Hog gravou três discos apenas. Cristina Martinez, a vocalista da banda - também apareceu em discos do Pussy Galore - era pura classe na categoria bagaceirice rocker: cantava bem, tinha performances selvagens e cativava pela beleza e loucura. Difícil não traçar um paralelo, ou pelo menos uma conexão entre o Boss Hog e o The Kills. O problema é que, nesse caso, o passado sai ganhando. Acima, a foto de Cristina com 18 ou 19 anos por Richard Kern e também da Alison. Abaixo, vídeos das duas bandas:

O Boss Hog lançou Cold Hands, Boss Hog (o clipe é extraído de uma canção desse album) e Whiteout antes de se manter em um hiato que persiste . Aliás, por onde anda Cristina?