Esse é o primeiro disco do produtor-compositor-cantor inglês. E também uma boa demonstração de como a música é consumida nesses dias. Previsto para ser lançado em fevereiro de 2011, o álbum vazou no último dia 21. Imediatamente, blogs abriram fóruns de discussão e resenhas foram feitas; a dimensão da repercussão poderia sugerir que James Blake é um artista com longa carreira, tal a expectativa pelo álbum. Na realidade, Blake ganhou espaço com seus três EPs lançados ao longo de 2010, como uma nova face de um cenário em que o dubstep se transfere para o mainstream: os EPs CMYK, The Bell's Sketch e Klavierwerke introduziram a alquimia do produtor londrino: estilhaçando elementos presentes no gênero, criando ambiências minimais e criativas, e gerando espaço para introdução de novos caminhos.
Mas sua versão de Limit To Your Love (presente no álbum), da canadense Feist, é que engrandeceu a figura pop: Blake canta - e bem - sem deixar de utilizar seu approach minimal. Praticamente uma reinvenção da original, o single não atingiu boa posição na parada britânica, porém conquistou a crítica e atenção nas mídias mais tradicionais. O espaço para inserção de peças na criação sônica de James gerou uma música cheia de alma.
E o disco segue soa como uma continuação lógica de Klavierwerke: pianos, batidas fragmentadas, silêncios, inserções de pequenos ruídos digitais, crescendos e loops vocais, e Blake cantando com uma grande melancolia. Alguns descontentes chegaram a relacionar a "simplicidade" do álbum com o trabalho de Justin Vernon (Bon Iver). Aparentemente a idéia de uma música recheada de quietude e melodia como a do Bon Iver combinada com eletrônica moderna e inventiva não agradou boa parte dos ouvintes. Mas soa como um sonho pra mim. Na verdade, o trabalho do americano Tom Krell seria uma associação mais próxima. Krell comanda o projeto How To Dress Well, que junta o R&B com batidas desaceleradas e fragmentação digital.
Lindersfarne, canção dividida em duas partes, desafia o ouvinte para um andamento arrastado e repetitivo. Mas uma audição mais acurada (o disco exige ser ouvido com fones, e não como trilha de fundo) descortina momentos de beleza, dedilhados de violão tentando se sobrepor á poeira eletrônica. Se você achou Limit To Your Love muito quieta, saiba que é a música mais eloquente de todo o disco. Não por acaso, aparece exatamente no meio da jornada. Give Me My Month é uma suíte carregada apenas por voz e piano. To Care (Like You) recompensa com loops vocais sobrepostos, batida compreensível e dueto garoto/garota alienígena. Why Don't You Call Me e I Mind também parecem pedir audição conjunta. Em particular a segunda, que merece o registro de melhor composição de Blake até agora: mais loops de vocais lamuriosos, agora com um deles sendo usado como uma espécie de arpeggio, e andamento entre o metronômico e o entrecortado. Bela e estranha.
James Blake, o artista, ainda desafiará definições pelos próximos meses. E possui um talento admirável, que nos permite vislumbrar um caminho interessante. James Blake, o álbum, não é o clássico instantâneo esperado por alguns. Somente em tempos velozes como o século 21 alguém esperaria de um estreante uma revolução apenas depois de alguns bons EPs. E um disco de 2011 estaria sendo baixado e discutido avidamente em 2010. Até fevereiro, e ao longo do próximo ano, o hype pode se deslocar para outros focos, e poderemos apreciar esse ótimo disco sem distorções.
8/10 >>>>Assista o vídeo de Limit To Your Love com James Blake, e a versão original da Feist.
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