quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Steve Mason - Boys Outside



Nesses estranhos dias que antecedem o reveillon, ás vezes buscamos conforto ou refúgio na música que deixamos esquecidas em algum ponto perdido no HD. Steve Mason me presenteou com um álbum que fora deixado de lado por meses. Mason foi o líder da banda pós Britpop Beta Band. Coroada por críticos no final dos anos noventa, o grupo teve trajetória errática. Quando do lançamento do seu primeiro disco (precedido pelos lendários 3 Eps), Mason deu uma entrevista detonando o próprio álbum. Esse episódio demonstrou as violentas variações de humor do compositor, característica que acabou por corroer as relações com os outros integrantes. Mesmo diagnosticado com transtorno psíquico, Mason não tratava os sintomas com medicamentos por achar que eles afetariam a sua criatividade.

Após o fim do grupo, Steve se viu diante de uma dívida financeira com sua antiga gravadora, além de problemas pessoais. Apesar de lançar dois projetos nesse período (King Biscuit e Black Affair), o escocês viveu episódios depressivos graves e contemplou suicídio: chegou a ficar duas semanas desaparecido após deixar uma mensagem obscura em sua página no Myspace: "I've had enough". Isso foi em 2006.

No começo desse ano, um renovado Mason tinha composições para lançar sob seu próprio nome. Recuperado graças ao amor pela música e bons medicamentos, Boys Outside soa como um retorno triunfante. Marcado por letras que resumem as feridas emocionais recentes, o álbum brilha com a combinação de composições tradicionais resvalando no folk rock britânico e sutis intervenções eletrônicas.

Apesar de a temática ser a de observar fatos passados sob uma perspectiva mais positiva, como uma espécie de reflexão e até mesmo de redenção, Mason evita os clichês auto-piedosos. Nem os versos nem o acompanhamento musical convergem para a imagem de "poeta torturado". Am I Just A Man é tão contagiante quanto um encontro de Dry The Rain (hit da Beta Band) com Lucky Man (Verve): "Oh, Am i just a man in love?/ Or am i just a boy out of touch? /Because i tried to go/I tried to last the difference/But God did not have the mentalness assistants". The Letter possui o refrão mais efetivo do rock inglês nos últimos anos, um tipo de fluidez entre a melodia grandiosa e a introspecção das letras incomum para as bandas mais novas.

Lost And Found é representativa do momento criativo de Mason, brilhando com uma confiança incrível: um conto sobre ser encontrado na beira de um rio, praticamente um ritual suicida contado sem meias palavras, a música fluindo como algo cheio de alma e coração, lindamente. A segunda metade do disco aprofunda ainda mais as emoções despejadas no início: I Let Her In é quieta e assombrada pelo passado: "i'll never fall in love again". All Come Down é talvez a balada mais redonda do disco, e nenhum tipo de crítica está embutida nesse comentário: melódica, reflexiva e ainda assim dolorosa e abrasiva, num mundo ideal isso seria um hino. A faixa título é uma espécie de auto afirmação, algo como deixar a zica de lado, de seguir em frente diante da escuridão inevitável.

Boys Outside se apresenta assim, como nesses estranhos dias finais do ano, repletos de emoções conflitantes, e esperançosos e ás vezes tristes e nostálgicos pensamentos. Soa lindo, com ou sem medicação. 9/10

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