segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A Idiossincrasia de Mallu

www.focka.com.br | Foto Eduardo Gabriel

Na última sexta, dia 3, o teatro do Sesc Pompéia recebeu o show de encerramento da turnê do segundo álbum da cantora-compositora Mallu Magalhães. Alguns dias antes, Mallu divulgou via web uma nova música, com vídeo editado e dirigido por ela mesma. Nada mais natural pra quem há poucos anos atrás disponibilizou um punhado de boas músicas em seu Myspace, iniciando uma- até então inédita no Brasil - repercussão baseada exclusivamente pela qualidade das canções. De revelação indie a fenômeno teen a figura pública conhecida: tudo isso em muito pouco tempo.

O público presente era sim predominantemente jovem: muitos adolescentes preocupados com a hora de ir embora, outros acompanhados por mães; mesmo assim, a reação da garotada não era tipicamente de adoração e barulho: Mallu entrou sozinha no palco e tocou duas versões de artistas pouco relacionados ao playlist de Ipods juvenis: Billie's Blues, de Billie Holiday e Don't Think Twice, It's All Right de Bob Dylan. Interessante notar que o clima intimista do teatro e a abordagem delicada de Mallu ás canções não soaram estranhas aos fãs de Tchubaruba. Permanecendo só no palco, Mallu pediu espaço pra demonstrar suas "influências brasileiras": tocou Gal Costa, Vinícius de Moraes (Astronauta) e Peninha (Sozinho). Um dos exemplos da idiossincrasia do trabalho da jovem cantora: pra ela, há alguma conexão entre o folk, o blues e a poesia da música brasileira mais antiga.

Apesar de não disfarçar a já conhecida timidez, Mallu prosseguiu de forma extremamente confiante: introduziu duas músicas novas: a citada Sur Mon Couer, bonita e com toque mais sofisticado e Me Leva, um samba com esperto jogo de palavras. Só depois entra sua banda de apoio e o repertório do segundo álbum predomina, elevando o ânimo para um caminho mais elétrico. Essas pequenas nuances marcam distintamente não apenas uma artista entusiasmada com descobertas musicais, mas capaz de absorvê-las ao seu próprio modo; é uma "bagunça" saudável, não domesticada. Que fique claro que o comentário a seguir não é uma comparação. Mas a maneira como o show se inicia de forma intimista, acústica e quieta pra depois se transformar em um aparato que incluiu até o apoio de metais lembra o lendário bootleg - e depois registro oficial - de Bob Dylan Live At Royal Albert Hall. Não sei se Mallu pensou em algo do gênero ou foi apenas casual. Claro que a citação é apenas estilística - desprezando aqui o impacto do repertório e a ousadia daqueles shows históricos de Dylan e The Band.

Dentro desse universo particular, encontramos uma compositora que passa longe da alegada futilidade juvenil. Quem enxerga Mallu Magalhães apenas pela idolatria de milhares de adolescentes diminui seu trabalho de forma equivocada: não há qualquer relação entre outros sucessos teen e os dois álbuns lançados pela paulistana. Aliás, ano que vem provavelmente teremos mais um disco, o que significará que Mallu, aos dezoito pra dezenove anos terá três álbuns de estúdio lançados e uma bagagem musical rica. Mais impressionante que isso, só o fato de que ela conhece e é mais entusiasmada com a música pop do que boa parte daqueles que escrevem sobre isso. Abaixo, a música nova e a versão para I'm Evil, famosa com o Elvis Presley:



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