quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Melhores discos brasileiros 2016 - Top 50



É claro que a equipe do blog não ouviu TODOS os discos de artistas brasileiros em 2016. Também sabemos que a escolha de melhores é subjetiva, podendo variar conforme os dias. MAS, nos esforçamos pra traçar um caminho que leva a alguns dos melhores sons do ano. Elencamos as dez primeiras posições, as outras quarenta não possuem ordem de preferência. Isso posto, segue a listinha:



1.DOUGLAS GERMANO – GOLPE DE VISTA 

Golpe de Vista é um triunfo da canção esmerada e detalhista, ainda que construída sobre elementos mínimos e sutis; aqui, o universo de personagens é rico e variado, remetendo à atmosfera literária e principalmente às quebradas do mundaréu.



2.SÍNTESE- TRILHA PARA O DESENCANTO DA ILUSÃO VOL.I: AMEM

 O segundo trabalho do Síntese retém as qualidades de Sem Cortesia: é sujo, é denso, é permeado de pensamentos. Porém amplifica essas características, resultando em um trabalho potente.


3.LAY - 129129
A rapper paulista esbanja personalidade em sua estreia, conjugando atitude e levada empolgante, rimando sobre batidas espertíssimas a cargo de Leo Grijó.



4.RAEL – COISAS DO MEU IMAGINÁRIO
Aqui Rael encontra seu melhor trabalho solo: afiado, com letras inteligentes e entrega habitual (versátil, melódica e com belo flow), além da produção acertada de Daniel Ganjaman.



5.RAKTA - III
Avançando ainda mais em um terreno sombrio, volátil e hipnotizante, a banda paulistana entrega uma coleção pulsante de música avançada.


6.MANO BROWN – BOOGIE NAIPE
Mais do que uma homenagem aos bailes de música preta, o álbum, apesar de longo, é um bem acabado retrato de um Brown versátil, estética e conceitualmente.

7.SABOTAGE – SABOTAGE
Sabota deixou um bom punhado de material pronto, repleto da já famosa entrega e levada típicas do MC do Canão. Um time estrelado de produtores fez jus ao material, impondo batidas e arranjos pertinentes.

8.TERNO REI – ESSA NOITE BATEU COMO UM SONHO
O tecido instrumental rico, formado por um emaranhado onírico não explica totalmente a fórmula vencedora do disco. A consistência das composições bem definidas,faixa após faixa, sim.

9.CRIOLO – AINDA HÁ TEMPO
A versão repensada, revisada e atualizada do disco de estreia do compositor é um dos discos de rap mais bem sucedidos do ano porque, de forma enxuta, melhora o que já era bom: composições bem moldadas, punchlines e versos bem escritos.


10. CHAVE MESTRA - CORAÇÃO NO GELO EP
Ter o melhor rap de 2016 (a faixa título do EP) já credencia o trabalho dos pernambucanos, mas as outras faixas são um encontro da influência do Costa a Costa com elementos contemporâneos, evitando clichês do trap.

Os outros 40:


  • Céu – Tropix
  • Luisa Maita – Fio da Memória
  • Rashid –A Coragem da Luz
  • Tássia Reis – Outra Esfera
  • Hateen – Não Vai Mais Ter Tristeza Aqui
  • Brvnks – Lanches EP
  • BK – Castelos e Ruínas
  • Baleia – Atlas
  • Kika - Navegante
  • Blubell - Confissões de Camarim
  • Brisa Flow - Newen
  • Carne Doce - Princesa
  • Dance of Days - Amor Fati
  • Espião & Sala 70 - O Jantar Está Servido
  • Jonathan Tadeu - Queda Livre
  • Louise Wooley - Ressonâncias
  • Metá Metá - MM3
  • Nego Gallo - Carlin Voltou EP
  • niLL - Negraxa EP
  • O Terno - Melhor Do Que Parece
  • Paola Rodrigues <3 font="" wifi="">
  • Yung Buda - Yamarashi
  • Nego E - Oceano
  • CSRV - Crystalz
  • Deaf Kids - Configuração do Lamento
  • Labirinto - Gehenna
  • Psilosamples - BIOHACK BANANA
  • Arthur Verocai - No Voo do Urubu
  • Papisa - Papisa EP
  • A ESpetacular Charanga do França - O Último Carnaval de Nossas Vidas
  • Hurtmold e Paulo Santos - Curado
  • Francisco, El Hombre - Soltasbruxa
  • Wado - Ivete
  • POLTERGAT - Blanka
  • Macaco Bong - Macaco Bong
  • Séculos Apaixonados - O Ministério da Colocação
  • Jamés Ventura - JahBless Ventura
  • João Donato - Donato Elétrico
  • Anshu Sound - Virtues EP
  • Ale Sater - Japão EP

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O favorito do seu favorito: artistas escolhem os sons preferidos em 2016 - Parte 1



Chamamos uma galera pra nos responder a uma pergunta: Qual o som que fez sua cabeça em 2016? 



Carlos Gallo: 

"Sulicidio foi esse som pra mim esse ano, foda mesmo, por tudo: apelo, impacto e todos os desdobramentos. 2016 foi bate cabeça ladrão. Asap Rocky com 'JD' também me chamou atenção, e mais recente Luiz Lins com 'Jamais' mlk monstro voz e texto muito fodas."  



Douglas Germano: 

"Olha. Um trabalho que me bagunça as ideias é o do Siba! Tudo que ele fez desde o fim de Mestre Ambrósio. Há também o disco Gerais de Roberto Didio e Renato Martins que saiu ano passado. Sobre o universo do futebol. Uma obra-prima pouco conhecida." 


Bruna Guimarães, BRVNKS: 

"Cab Deg - Good Morningnão sei muito dizer o motivo, essa música foi uma descoberta no começo do ano e que tocou em vários momentos importantes e que eu mostrei pra pessoas importantes também, sempre lembro de coisas boas com ela." 




Daniel Ganjaman: 

"Cara, sem dúvida o Anderson Paak foi o artista que mais me empolgou esse ano. O trabalho dele traz um RnB mais cru, sem os cansativos excessos de virtuosismo comuns no estilo. Foi um cara presente em diversos lançamentos recentes e pra mim, é a personalidade musical do ano."




niLL: 

"O disco mais importante que eu ouvi foi Cherry Bomb do Tyler, The Creator, me abriu a mente pros meus próximos trabalhos, mudou minha vida e percepção musical." 

sábado, 19 de novembro de 2016

David Bowie, Whatsapp, Brad Pitt: Entenda a mistura com o som novo do NiLL


O menino bom de Jundiaí chamado NiLL lançou de forma inusitada seu novo som. Todos que deram um salve pelo número de telefone divulgado pelo Facebook do MC receberam "Minha Mulher Acha Que Eu Sou o Brad Pitt", música que fará parte do álbum Regina, que sai em 2017. Uma love song produzida pelo Adotado, figurinha carimbada dos lançamentos da SoundFoodGang, a canção sampleia Ashes to Ashes, hit de 1980 do David Bowie. Fique com o lyric video abaixo:

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

"Sulicídio" escancarou as portas para o rap nordestino. E isso é bom.



Algumas coisas importantes aconteceram desde que “Sulicídio” saiu. A canção de Diomedes Chinaski (Chave Mestra) e Baco Exu do Blues é sem dúvida uma das mais emblemáticas de 2016, seja por sua proposição ou pelo seu efeito. De imediato, serviu pra mostrar que o preconceito, tão combatido na superfície, resiste fortemente nas entranhas do rap: ofensas de todo tipo aos nordestinos pipocaram nos comentários e threads online. A reflexão fundamental é que a comunidade hip-hop não conjuga os mesmos princípios, basta uma fagulha para que vertentes conservadoras apareçam, mesmo que embrulhadas em arquétipos “desconstruídos”. Porém o impacto mais importante, e o que talvez determine o sucesso de sua empreitada, é que o rap produzido no Nordeste passou a ser enxergado fora de seu antes limitado campo de ação.

É bem verdade que o cearense Costa a Costa é celebrado país afora há pelo menos uma década, mas o rap produzido na região só ganha espaço de forma episódica desde então. Como quase sempre acontece, o que não é escutado parece não existir, refletindo de forma cruel uma realidade mais ampla de existência de toda uma cultura; para muitos no sudeste, nordestinos são seres invisíveis, somente lembrados de forma pejorativa como “incômodo”. Incomoda seus modos, seu sotaque e sua presença fora dos cercados sociais estabelecidos. A ideia de absorção de elementos diversos, tão importante para o hip-hop, parece desvanecer diante de uma enraizada visão formalista e limitante de “pertencimento” a algo superior.

É bem por isso que “Sulicídio” é perspicaz: ao afrontar seus pares do sudeste, Baco e Chinaski demonstram a real necessidade de espalhar o som para uma audiência mais aberta, democrática e ampla nacionalmente. Não é agressão, como alguns sugeriram, mas agressividade no campo de ideias, expressão eloquente e pedido de empatia. Rap na essência. Não por acaso, alguns dos melhores raps de 2016 surgiram do nordeste, mais especificamente do centro criativo já citado: Chave Mestra, de Recife, Baco Exu do Blues de Salvador e Nego Gallo (Costa a Costa), de Fortaleza, com as respectivas músicas “Coração no Gelo”, “999” e “Sem Remorso”.

Elas possuem elementos diversos, alguns em comum. A forte veia personalista diferencia claramente as canções: o melodismo do Chave Mestra, a agressividade de Baco e a reflexão do Gallo (com excelentes feats do Coro MC e Frieza). Todas elas apresentam ótima veia lírica, seja jogando punchlines matadoras (“Vai se fuder para lá” já é definitiva) seja introduzindo gírias locais (O “boy” do Chave Mestra pode não ser mesmo “boy” do Racionais). Algo que enriquece demais o jogo também são os sotaques, já que a levada sofre influência direta, gerando curvas melódicas diferentes, menos “quadradas” em relação à encontrada no paulistanês, por exemplo. A oscilação emocional das músicas também agrada, oferecendo ao ouvinte um caleidoscópio de afirmações, pensamentos e reflexões. Nada aqui é unidimensional. Mas talvez o que as une seja o extremo potencial para hit. São três músicas prontas e embaladas pra fazer a cabeça da molecada.

Dessa forma, o rap nordestino adiciona valores ao cenário nacional. E é sempre parte da construção do macrocosmo do hip hop incluir, e não rejeitar novas expressões artísticas. Ser capaz de observar as nuances e levadas de diferentes estados brasileiros deveria nos orgulhar. Cada vez que artistas locais produzem com qualidade e empreendem, o jogo é elevado. Em um artigo acadêmico sobre o hip hop estadunidense intitulado “The SocialSignificance of Rap and Hip Hop Culture”, de Becky Blanchard, é citado que “Rappers são vistos como a voz do povo, da juventude negra urbana, cujas vidas são geralmente mal representadas ou rejeitadas pela mídia mainstream. Eles são os guardiões da história da classe trabalhadora negra contemporânea.” E assim se constrói uma narrativa, uma visão e uma voz a quem geralmente não possui espaço. Paralelamente, no Brasil o Nordeste apresenta seus talentos, e todos esperamos que eles continuem ganhando espaço.


sexta-feira, 12 de agosto de 2016

NiLL - Kick Tem #videoclipe


Novo videoclipe do NiLL, expoente do rap de Jundiaí. Dessa vez a faixa escolhida é a radiofônica Kick Tem, extraída do ótimo EP Negraxa. Mais um esforço colaborativo da SoundFood Gang, coletivo de MCs, produtores, beatmakers, videomakers e trabalhadores do rap em geral. Curte aí:







domingo, 24 de julho de 2016

A Julien Baker fez um cover do Jawbreaker ao piano


A cantora estadunidense Julien Baker lançou um dos bons discos de 2015, o Sprained Ankle. Armada de uma guitarra (às vezes um piano) e voz, a garota cria cenários melódicos envolventes, e, apesar do minimalismo dos arranjos, consegue tecer uma ambientação profunda e melancólica. Em recente show em Bruxelas, ela mandou benzaço na versão de Accident Prone, clássico de 1995 (curiosamente o mesmo ano de nascimento da compositora) do trio emo-punk Jawbreaker. Uma canção triste embalada por guitarras que ganhou nova moldura nas mãos da Julien, de escorrer uma lagriminha até. Assista:

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Marcello Gugu e o leque temático no rap brasileiro




A abertura do leque estético no rap brasileiro é um lado positivo que estamos vivenciando nos últimos anos. Musicalmente, há variedade na matriz de paletas. É só lembrar como a mixtape Dinheiro, Sexo, Drogas e Violência do Costa a Costa parecia um oásis na época de seu lançamento; para além da qualidade das composições, havia um respiro criativo na abordagem das bases. De lá pra cá, a produção se qualificou e temos hoje artistas cujo corpo melódico se distingue claramente. Embora possa haver influência comum, a maneira de compor de Rodrigo Ogi, Emicida, Criolo, Don L, Jamés Ventura, Chave Mestra, Tribo da Periferia Kamau, Rashid, Lay e NiLL, por exemplo, resulta em algo distinguível. Fica uma pergunta, porém: Estamos exaltando o talento individual de determinados nomes ou uma saudável capilaridade? Digo, a diversidade está em certos indivíduos ou há real liberdade criativa? Evidente que tal diversificação também gerou uma liberdade que resulta, em certos momentos, em músicas irregulares e que evidenciam certa inabilidade: nem todos podem cantar como Ogi ou podem se aproximar do samba ou da MPB com naturalidade ou mesmo sabem usar o autotune. Forçar isso é um erro que vemos por aí. 

Mas a análise aqui se volta para outro aspecto: os temas abordados nas letras. Também vale ressaltar que já a algum tempo a dicotomia polícia versus bandido se expandiu para diversos assuntos, de crônicas urbanas a afirmações feministas, de papo largado a elucubrações sociais, passando também (e infelizmente) ao dogmatismo da autoajuda. Mas há temas pouco abordados ainda. Por esse motivo, o novo som do Marcello Gugu, New Orleans, joga um novo dado nesse caldeirão da diversidade. Não é a primeira vez que a doença mental é tratada no rap, mas a música talvez seja o mais bem acabado retrato das agruras da síndrome do pânico, da depressão e da ansiedade em formato de rimas. Se as estatísticas mostram que são muitos os brasileiros (e, em especial os paulistanos) vítimas dessas doenças, então porque não são muitas as canções sobre o assunto? Claro, identificamos sombras quando ouvimos o Ogi vaguear pela cidade ou quando o Emicida retorna à infância ou quando o Eduardo Facção relata sangue. Talvez a própria forma com que a sociedade encara a depressão, como algo que sugere fraqueza, esteja relacionado a isso. Não é fácil admitir ser portador dessa enfermidade em uma sociedade faminta por produtividade e alimentada pelo narcisismo. Fica ainda mais importante ouvir New Orleans.

Estruturada para que os versos se encaixem entre intervenções de dois vocais femininos, a canção abre com Srta Paola (que também canta a ponte) e tem Vanessa Jackson nos refrãos. Gugu explicou  que os trechos da Srta Paola representam a crise falando, e o refrão é a mente do rapper se comunicando durante a crise. A representação de uma crise psíquica e emocional como uma sedutora proposição ("Eu te prometo sorrisos/Férias na Disney/Uma casa na praia com vista pro mar") mas com uma contraproposta amarga ("Que eu quero ser teu enjôo, palpitação, um aperto no peito/músculos em tensão) é construída com ótimo jogo de palavras, além de ser uma visão bastante pertinente quanto ao mix volátil de emoções que percorrem a cabeça de quem sofre do mal. A exposição do caos mental segue nos versos de Gugu ("No meu peito se aninha/uma fratura no externo/Em segundos a santa ceia/vira um drink no inferno") que permanece sendo um dos mais hábeis MCs na arte sinuosa de obter imagens impactantes como acessórios do arcabouço temático. Veja as citações político-sociais que exemplificam Porto Príncipe, New Orleans, Síria e França, sem perder o foco no tema principal na primeira parte da música. Gugu admite através do refrão que sua mente está em conflito ("To pra ser teu problema/Não sou tua paixão/To pra te bagunçar/tirar seu chão").

A constante curva ascendente da diversidade estética e temática no rap brasileiro ganha assim mais um capítulo. Ao demonstrar que aqueles que criam rimas também são vulneráveis sem apelar para os famosos passos dogmáticos FFF, Gugu se torna uma voz para muitas pessoas que lutam diuturnamente contra aflições mentais. Ao mesmo tempo, mostra que não há barreiras temáticas dentro da música, e que o hip hop pode e deve ser tão multifacetado quanto as lutas que lutamos dignamente.