domingo, 20 de março de 2011

The Strokes - Angles


Momento definidor da carreira do Strokes: nomear seu debut de Is This It?. Foi uma maneira de se precaver da badalação em torno da banda, mas ao mesmo tempo de limitar seu campo de trabalho. Afinal, era só uma coleção de músicas memoráveis e enérgicas. Mas o timing era o correto para a ressureição das guitarras, e a partir dali o indie se tornou mega; não houve fluxo de bandas menores para grandes gravadoras - que já estavam desmoronando - mas uma atenção deslocada para moleques de calças skinny. Não necessariamente uma coisa boa, mas havia um carisma de boy band para uma geração que não havia passado pela separação de tribos tão intensa quanto nas décadas passadas.

O fato de Angles ser o quarto disco dos caras, dez anos após a estréia é um atestado de que a magia se perdeu facilmente entre eles; não houve desmentidos em relação a falta de inspiração para gravar o novo disco: e os trabalhos paralelos de seus integrantes durante o período não indicavam qualquer sopro de vida inteligente. Mesmo assim, um disco novo dos Strokes gera histeria coletiva. Pelo menos, até esse aqui. Porque o material entregue por Casablancas e companhia é o retrato de uma banda implodindo e se desfazendo.

Under Cover Of Darkness foi a chave para que muita gente enxergasse uma volta ao estilo simples de outrora. Mais do mesmo, e o fato de que essa é a melhor do disco já começam a deprimir o mais ardoroso fã da banda. Em outras nove músicas, o grupo tenta demonstrar que é capaz de intercalar seu estilo efetivo com algumas aproximações e referências. Todas falham miseravelmente: Maccu Picchu é um quase reggae e abre o disco de forma brochante; Two Kinds Of Happiness é a menos fraca, um ar mais vaporoso e um refrão levado por um bom ataque instrumental; Call Me Back é uma espécie de Little Joy morrendo lentamente; Gratisfaction tenta soar pop e esperta e soa tão boa quanto o nome; o que mais impressiona é ar narcoléptico do disco. Lento, sem pegada, e com a tradicional poesia infantil de Julian: antes as letras eram complementos bem inseridos ao instrumental perfeito e as melodias vencedoras, agora são apenas palavras sem nenhum sentido.

Não é uma grande decepção: eles estabeleceram um mundinho particular capaz de movimentar a música pop comercial para um caminho menos diluído. Mas é importante relativizar a importância musical da banda: nem mesmo suas influências são amplas o suficiente para mobilizar a garotada para os arquivos digitais de artistas mais obscuros e diversos. E é isso, mesmo. Acabou o gás, o momento e capacidade de mobilizar. Sobrou só a essência: boas intenções, pouco talento. 3/10

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