Chopped And Screwed é o segundo disco do trio inglês: alguns fatos importantes para esclarecimento:
Micachu & The Shapes é liderada por Mica Levi, uma menina que inventa, adapta e usa objetos como instrumento - junto com o experimentador David Sylvester- parece chato, mas não é: Jewellery, disco de estreia da banda de 2009 é uma agitada incursão ao pop experimentalista e excêntrico;
London Sinfonietta é uma orquestra de Londres que também utiliza projetos menos ortodoxos dentro da música clássica. Um deles é esse album aqui comentado, em parceria com o Micachu & The Shapes;
O conceito do álbum é resgatar o estilo criado pelo DJ Screw, americano do Texas. Na década de 90, Screw, um adorador de xaropes para tosse á base de codeína, resolveu remixar faixas de hip-hop de uma maneira diferente: diminuindo o ritmo, quebrando o andamento e "dilacerando"pedaços da música original: é o tal Chopped And Screwed. Voce conhece o Trip-Hop e o Witch House? Então, DJ Screw tem uma parcela de culpa nessas coisas aí. Infelizmente ele morreu em 2000 em decorrência de uma não muito adequada combinação de codeína com outras drogas. A VBS/Vice Magazine produziu um documentário sobre o cara. Vale a pena dar uma procurada.
Chegamos então ao disco do Micachu em parceria com a London Sinfonietta, baseado na fórmula criada pelo DJ Screw. Mica e David criaram instrumentos especiais para essa tarefa (o disco foi gravado ao vivo com público). Eles explicaram que seus instrumentos usuais são muito percussivos e não combinariam com a base do projeto. Aos desavisados: o som aqui não possui batidas de hip-hop ou a frenética mistura de Jewellery: apenas a concepção de "dilacerar, picotar e misturar" notas melódicas. Em slow-motion.
A execução da orquestra e do trio é belamente entregue: desde o início hipnótico de State Of New York, entremeada por cordas e pequenos ruídos, com vocais fora de sincronia; Unlucky é a música que rola na cabeça do Thom Yorke e ele não tá dando conta de realizar; Everything se aproxima inicialmente dos riffs típicos do Micachu mas de alguma forma se transforma em algo ainda menos comum; Average é witch house sem eletrônica, mais assustador que rituais de magia negra; Low Dogg é ameaçadora e esquisita porque no final é quase pop.
Resultado final: não sei se fizeram jus ao DJ que amava xarope. Pela intenção, talvez tenha havido aproximação com o ar mais rachado e lento, mas o resultado é bastante interessante de qualquer forma. Não é propriamente um disco fácil de digerir, mas oferece muito para quem presta atenção. 8,5/10
Confira aí uma das faixas espalhadas pelas trocentas mixtapes do DJ Screw e tambem um mini doc sobre o disco:
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