Agora é pra valer: começamos a série de mixtapes que o Music For The People disponibilizará para voces. Nenhum tema: apenas a rádio dos sonhos. Tracklist abaixo:
Scott é canadense, ama videogames e toca baixo na banda Sex Bob OMB. É apaixonado por Ramona, uma entregadora da Amazon, mas antes de ser feliz para sempre, terá de enfrentar os sete ex-namorados do mal da Ramona. Além de lidar com sua própria ex ciumenta. Simples assim, a estória criada por Brian Lee O'Malley e publicada pela primeira vez em 2004, ganhou status cult pelo carisma dos personagens e inúmeros referenciais pop (especialmente do indie rock), estilo mangá e por transformar mais um nerd em herói. Uma HQ dividida em seis volumes, exatamente como uma saga de Scott até seu desfecho (o último volume foi lançado lá fora dia 20 de Julho). Ao retratar com sagacidade um jovem de Toronto -sem economizar nas imagens de cafés, lojas de disco e outros locais da cidade, a série de graphic novels já gerou até visitas de fãs ao Canadá. Para sedimentar de vez esse culto, Scott Pilgrim será transformado em filme. Dirigido pelo inglês Edgar Wright (dos divertidos Shaun Of The Dead e Hot Fuzz), Scott Pilgrim Vs. The World vai estrear em Agosto nos EUA, com Michael Cera no papel de Scott. Claro que a trilha sonora promete ser no mínimo curiosa - as bandas que aparecem na HQ variam de estilo-além de ser uma ode ao rock canadense: Metric, Broken Social Scene, Kid Coala participam, além de Nigel "Ok Computer"Godrich e Beck, que incorporou o espírito da banda dos quadrinhos e interpreta como a tal Sex Bob OMB. Ainda temos músicas do Bluetones, Blood Red Shoes e Rolling Stones. Esperemos para ver/ouvir e definirmos se essa será uma boa adaptação da brilhante HQ. Lembro de escutar muito o Sloan, outra banda canadense, e achei perfeito que Chris Murphy foi o técnico para as cenas de guitarra dos personagens. Veja abaixo o quase hit "Underwhelmed" e o trailer oficial do fime:
Os felizardos que já ouviram o disco de estréia (Vol.1) dessa paulistana esperavam ansiosamente por mais; naquele disco, já era possível notar a força das composições e a pungência com que Andréia disparava suas letras cheias de sentimentos difusos. Mas, o que se mostrava como uma feminilidade visceral se tornou também um som cru nesse "Vol.2". Já de cara em "Noites", ouvimos uma levada de riffs afiados, e versos mais ainda :"Noites tão vazias/ noites tão compridas/ noites de um eterno padecer". A versatilidade aparece logo em seguida, já que "Nós Dois" é uma balada que invoca outra conotação para o termo "brega": o sentimento cantado é real, sem rebuscamentos. Ao longo do álbum, canções levam o ouvinte a um universo intrinsicamente feminino: complexo, dócil e voraz, misterioso e atraente. "Sou mulher/ sou o mal/ que o diabo apostou/Jezebel, visceral...libidinosa, pagã, poderosa" canta Andréia em, bem, "Mulher". Estamos diante de uma artista que não usa imagens "lúdicas", "apreciativas", tão caras a cantoras comuns por aí. Aliás, "comum" não é a maneira de cantar de Andréia Dias: ela controla de forma habilidosa sua voz, que soa doce, frágil em um momento e segura, sarcástica em outra. Os "erres" paulistanos aparecem gloriosamente, normalmente suprimidos em nome da "musicalidade" do "erre aberto"; as grandes cantoras soam bem até em russo . Impossível ouvir isso aqui e não sentir a força brutal das músicas; na essência, apesar de flertar com o samba, com o iê-iê-iê, com Tom Zé e a vanguarda paulistana, "Vol.2" é o disco mais rock do Brasil esse ano. A menina do Grajaú tem um talento muito maior que a distância de seu bairro de origem para os Jardins. 8,5/10
Sem pressa: ter boas cançoes pode ser um bom início, mas trabalhar essas músicas por um tempo pode aprimorar ou até mesmo dar inspiração para mais criaçoes. Acho que o Stop Play Moon deve ter pensado nisso. Ainda em 2008 eles tocaram pela Europa e no festival Motomix, já demonstrando bom repertório. No entanto só em 2010 sai o primeiro album: decisão sábia, já que agora a banda soa totalmente segura, com controle total para experimentar e equilibrar as composições. Nem parece disco de estréia. Entre a levada eletrônica e os ganchos pop, intervençoes de guitarras (a cargo de Paulo Bega e Ricardo Athayde) e os vocais precisos de Geanine Marques, se escondem nuances simples, mas que dão personalidade própria e bem definida ao trabalho. Alternando momentos mais dançantes com outros mais climáticos e instropectivos, o álbum mantém o ouvinte interessado, algo difícil no gênero electro-pop (sempre com um pezinho na repetição preguiçosa). Na enxurrada de novos grupos electro-pop-rock pelo mundo, o Stop Play Moon consegue se destacar; o Delphic, banda de Manchester incensada pela imprensa inglesa não entrega hits prontos como "Hey", "Faking Faces"ou baladas como "Lucy". Lembra todos aqueles projetos pós-New Order do Peter Hook ou do Bernard Sumner? Então, se eles não fossem tentativas fracassadas de resgatar a pegada da antiga banda, soariam como o Stop Play Moon. 7,5/10
A excelente dupla inglesa de Brighton formada por Steven Ansell e Laura-Mary Carter lançou esse ano "Fire Like This", de onde extraímos o vídeo para "Heartsink":
Você tem uma banda, mas monta um projeto paralelo para exercitar composições diferentes. Como de praxe, coloca suas canções no MySpace. Um produtor musical gosta do que ouve, e resolve usar não apenas uma, mas duas dessas canções para ilustrar cenas de um seriado britânico. O tal seriado é Skins, conhecida plataforma de lançamento de bandas novas e polêmicas pela crueza no trato de temas adolescentes. O tal projeto é The Amazing Broken Man, capitaneado por Odorico Leal, atualmente residindo em São Paulo por conta de um doutorado em Teoria da Literatura, mas com background geográfico passando por Piauí, Ceará e Minas Gerais. Com o EP "Lullabies For Western Babies" recheado de um intimismo folk hipnotizante, praticamente levado pela voz, violão e arranjos esparsos, Leal conquistou espaço num território em que muitas bandas novatas gringas adorariam habitar. Entretanto, isso não é o suficiente para que esse se torne seu principal projeto, como ele conta na entrevista concedida ao Music For The People:
O Amazing Broken Man começou como um projeto paralelo, mas ganhou espaço nos blogs e revistas. Ele se tornará um projeto principal?
Não. Meu projeto principal é com os músicos-compositores Gustavo Vidal e Ciro Figueredo, que temporariamente se chama October Leaves. E assim é, porque, basicamente, essa banda é infinitamente melhor do que qualquer coisa que eu faça sozinho. Basta ouvir a versão solo de "Rainbow Street" e comparar com a versão da October Leaves, que está no myspace da banda. É uma versão instrumental, que fizemos para uma trilha sonora. Mas, mesmo sem o canto, já está em outro nível.
Fale mais sobre a October Leaves: me parece algo bem diferente do projeto paralelo.
Bem, a October Leaves é bem diferente, até porque o principal compositor na banda não sou eu, mas o Gustavo Vidal, que acontece de compor as músicas mais fodas que eu tenho ouvido em anos. Que poderão ser conferidas em alguns meses, quando lançarmos o "Postmodern Bullshit", o disco em que estamos trabalhando. Para além disso, a sonoridade da banda é bem diferente da sonoridade folk-melancólica do The Amazing Broken Man.
Percebo uma preocupação com as letras nas músicas do Amazing Broken Man. Seus estudos acadêmicos influenciam nesse processo criativo?
Influencia, sim. Passando muito tempo na obra de um poeta você aprende muito sobre tudo, inclusive sobre você. E arte tem a ver com auto-conhecimento.
Pra finalizar, você agora vive em São Paulo. Sente influência da cidade no seu trabalho?
Influencia. Não tem praia aqui, então passo o dia no apartamento e a noite no apartamento, e esse estado de fantasma do apartamento de algum modo é inspirador.
Tivemos a lista dos indicados ao Mercury Prize, prêmio inglês normalmente associado a palavras como "respeitável" e "prestigioso". Nomes como Wild Beasts, The XX, Paul Weller e alguns que já foram recomendados aqui mesmo: Foals e I Am Kloot. Aqui começa outra recomendação; esse album, o segundo da jovem Laura saiu no começo do ano e já foi devidamente escrutinado por aí. Esperei um pouco para falar dele, esperando uma certa "maturação" das impressões que tive nas primeiras audições. E a impressão mais clara é que Marling cresceu como compositora de forma espantosa em um espaço de um disco e poucos anos: o twee pop folk do primeiro disco era bastante interessante, e já mostrava que a inglesinha podia estabelecer um caminho longevo. Mas nada poderia nos preparar para "I Speak Because I Can". Modulando seus alcances vocais, criando imagens em primeira pessoa ou como personagens, Laura parece compor sem esforço como uma encarnação moderna de Nick Drake. Não sabemos muito sobre quais atribulações ela passou em sua vida pessoal, exceto pelo fato de que Charlie Fink (do Noah And The Whale) demonstrou o quanto a separação dos dois o afetou: ele escreveu um disco inteiro sobre isso. Nada que Laura não possa expressar de sua própria maneira: ela parece estar vivenciando grandes descobertas, e compoe sobre isso como uma adulta. Parece simples, mas isso envolve algumas habilidades que só compositores especiais possuem: Boa melodista, equilíbrio nos arranjos, letras que envolvem e punch: ouvir isso aqui pode ser como um soco no estômago. Exemplo em "Hope In The Air": Why fear death/ be scared of living/ oh, hearts are small and ever thinning/ there is no hope ever of winning". Não exatamente a eloquência de seu compositor indie-padrão; a substância dessas músicas vai além de cantar sobre clichês de escuridão/devassidão/hedonismo, etc. Claro, precisamos do pop solúvel, fácil e descompromissado. Mas a ausência de grandes letristas no cenário atual faz crescer ainda mais a luz sobre Laura Marling. 8,5/10
A série britânica sobre jovens "reais" vai atingir sua quinta temporada em 2011. Nas primeiras temporadas bandas como Foals e Crystal Castles fizeram parte das baladas em que os personagens participavam. Agora os produtores estão buscando figurantes para a "primeira grande cena musical"dos novos episódios: com o....Napalm Death!! Aparentemente teremos um personagem fã dos veteranos do grindcore.
Neil Hannon está de volta. O Divine Comedy está de volta. Notícia que nem de longe abala as estruturas da blogolandia indie brasileira, ainda comovida pelo retorno ao vivo dos Strokes ou da possibilidade do Pavement reunido aparecer por aqui. Nomes titânicos como esses geram reaçoes em cadeia de histeria, mesmo que nada novo esteja sendo lançado por essas bandas. O Pixies já é o Rolling Stones indie, dinossauros arrastando seu passado em shows caça-níqueis para pessoas que acham que "Where is My Mind?" foi escrita para o filme "Clube Da Luta". Paciência. Enquanto isso, Hannon, poeta dândi norte irlandês, segue criando belas obras como esse "Bang...". Pouca gente lembra, mas o Divine apareceu timidamente no início dos anos noventa, e chegou a ter popularidade no Reino Unido lá pelo meio daquela década. Com estilo de pop enfeitado por orquestraçoes e letras construídas com humor e sagacidade, ganhou fãs na rebarba do britpop de bandas como o Pulp (com o qual Hannon possui ligação na vibe parecida com a de Jarvis Cocker). Com o fim das vacas gordas para quem não andava de jeans skinny, cortes de cabelo ruins e tênis Converse, o Divine Comedy caiu no ostracismo, apesar de ter lançado três bons álbuns na década de 2000. Esse retorno não parece uma reinvenção mirando fãs do Phoenix, já que soa exatamente como os álbuns anteriores: o já mencionado pop orquestrado, de letras nunca menos que interessantes. A única possibilidade de captura do zeitgeist aqui é a menção ao declínio financeiro gerado pela crise econômica recente em "The Complete Banker". Entretanto, a canção não é cercada pela paranóia digital de MIA ou da ansiedade e fobia do Radiohead: Hannon assume mais uma personagem de visão auto depreciativa de humor torto. O que mantém o conteúdo soando anacrônico, mesmo numa cena tão diversa. Não é má notícia. Já estamos vendo que a "bastardização" de ícones indie recentes tem gerado imitações medíocres: já contou quantas bandas electropop existem por aí? Ou electro-rock? Ou sub-Strokes? Bacana ouvir algo que, por soar fora de moda, já ganha pontos, mas não se sustenta apenas pela teimosia: a qualidade do trabalho de Neil Hannon (o único integrante fixo da banda) merece mais atenção. Procure pela discografia do Divine Comedy, ou ouça esse ótimo álbum. Não há muitos caras por aí escrevendo letras tão boas ou ao menos se importando com isso. "At The Indie Disco" brinca com a própria miséria do gueto "alternativo" de forma nostálgica e romântica: "We go to the indie disco every Thursday night/Dance to our favorite indie hits until the morning light/" depois segue dizendo que se sentam sempre na mesma mesa, aquela que fica embaixo da foto do Morrissey. "Give us some Pixies, some Roses and some Valentines/ Give us some Blur, some Cure, some Wannadies"pede Hannon, e depois encerra pensando na garota na volta pra casa, dentro do ônibus congelando de frio: canta que ela faz seu coração bater no mesmo ritmo que a canção preferida: Blue Monday, "sempre a ultima que eles tocam". Gênio. 7/10
Novo vídeo dos californianos do HEALTH. Única música nova presente no disco de remixes de "Get Colour", chamado "Disco 2". Para um disco de remixes, é estranhamente coeso. Muito bom, 2010. Queremos mais lançamentos de discos e vídeos incríveis:
Essa banda londrina me chamou a atenção. Primeiro pelo nome, que me lembrou a ótima canção do Nick Cave. Depois porque, pelas fotos promocionais, o vocalista parece ser o tipo de cara que facilmente nocautearia algum desavisado. Mas, vamos ao que interessa: impressões sobre esse debut. Primeiro, acredito que esses caras leram "Post-Punk For Dummies" ou "How To Form A Goth Band". Acho que esses livros existem. Anyway, checagem de requisitos: vocalista barítono: Ok; baixo trepidante: Ok; Uso indiscriminado de palavras como "Dead", "Soul", até mesmo "Radio": Ok; Sintetizadores: Ok; Ser blasé e dizer que, na verdade, não ligam muito pro Joy Division: Ok. Pronto, ajeite seu visual com roupas escuras e voila: nova sensação indie!!!! Sejamos justos, a sequência inicial de "Malo", "Dead Disco Dancer" e "Heels" é uma das mais efetivas ouvidas esse ano. Tentando relevar os clichês, há refrões pegajosos e climão dark. Ou, elas são melhores que a música nova do Interpol, por exemplo. Difícil é imaginar Tobias, o tal vocalista grandalhão, como um torturado poeta: mais simples dizer que talvez ele viva como porteiro de boate e tenha uma voz bem grossa, então pensou em escrever sobre seu dia complicado no trabalho usando um pouco (muito) de drama. O pop mainstream está recheado de gente calculando cada passo, produtores ou embalagens sem se preocupar com coisas "do rock" como legitimidade, verossimilhança ou (perdão) atitude. O.Children provavelmente calculou cada olhar sofrido mostrado, pensou em como a crise econômica mundial afetou o futuro dos jovens da Europa Ocidental, e como uma música "angular", melancólica e moldada pelo pop dos anos oitenta soaria hoje tão vendável, e então formaram a banda. Eles se arriscam nesse território volátil, o que pode significar que um segundo álbum nunca venha a acontecer(O Editors foi se tornando cada vez mais irrelevante - e eles já tem três álbuns). Também não dá pra desprezar a chance do O.Children se jogar de vez no dubstep da próxima vez. 6/10
Já uma sensação pelos blogs musicais do planeta, esse pessoal de Curitiba não decepciona: o EP Bird And Whale é uma bela surpresa: quando a gente vê esse pessoal do Mumford And Sons, Stornoway, Laura Marling e outros elogiados artistas encantarem platéias em Londres com seu folk-pop não imagina que existem bandas vivendo o mesmo caminho por aqui. Pode parecer fácil trafegar nesse panteão de violões mas insistir em fazer as coisas com tanta simplicidade é pra quem tem confiança e talento. O risco de soar referente demais ou, bem, um sonífero musical é grande. Rosie And Me evita esses clichês porque o senso pop deles arrebata o ouvinte: faça o teste com seus amigos e espere pela pergunta:"Que som é esse?".Esse é o tipo de música que soa familiar no sentido "chá-quente-em-casa-depois-de-um-dia-difícil-familiar",reconfortante e prazeroso. Aguardemos pelo álbum"'cheio" para confirmarmos a habilidade demonstrada aqui, mas por enquanto definiremos assim: Delicado, melódico e com o frescor que toda banda deveria ter. 8/10 Assista o belo vídeo de "Bonfires" e visite o site deles:
Nostalgia: oh, esse sentimento tão próprio de gente que percebe que, puxa, os anos passam rápido. Alguns críticos musicais nunca superaram essa lembrança de noites solitárias, cortes de cabelo ruins e The Smiths cantando sobre morrer em um acidente com um ônibus de dois andares. Essa referência sentimental, de ser jovem e crescer ouvindo músicas que servem de trilha sonora para passagens emocionais obscurecem o olhar analítico. Mas para os músicos, talvez, isso não seja um problema: há sempre a possibilidade de criar um mundo de referências pertencentes á outra época, rejuvenescendo ao recriar, reciclando criaçoes, etc. Então, nessa época de ferramentas tecnológicas e paranóias pós tudo, Bethany Cosentino resolveu tocar guitarra e imaginar um mundo ensolarado, recheado de amores fugazes, chapação e palmeiras, surf e animais domésticos; harmonias Beach Boys, garage rock, punk pop...Não é novo, nem desafiador. Mas o Best Coast entrou nesse jogo pra ganhar: bandas como Vivian Girls, Wavves, Dum Dum Girls já lançaram discos que alimentam esse noise pop atualmente. Mas "Crazy For You" entrega o que prometiam os singles e o EP que o precederam. Bethany e seu parceiro são certeiros: são tradicionais cançoes pop perfeitas de três minutos no máximo. Seria injusto dizer que, sim, algumas delas parecem repetir o mesmo padrão melódico: é como reclamar de repetição em "Rocket To Russia" ou "Bandwagonesque"; estamos falando de grupos que firmaram pé em suas convicções e paixões musicais, entregando aquilo que sabem fazer. Posso imaginar o Best Coast repetindo esse mesmo álbum mais um punhado de vezes sem que ninguém exija uma reinvenção. Nesse nível de qualidade, estaremos bem servidos: nós, os nostálgicos de bandas que ainda acreditam em pedais de distorção, melodias pop e boas idéias. 8/10
Esse trio de Manchester parece pertencer áquela classe de grupos da segunda divisão do pop britânico: apesar de uma discografia sólida e criticamente elogiados, são poucos seus seguidores. Nunca galgaram postos nas paradas britânicas, tornando-se assim um daqueles segredos cultuados por poucos. "Sky At Night" é o quinto álbum deles, e Guy Harvey (Elbow) co-produziu. Interessante notar que os conterrâneos do Elbow surgiram praticamente na mesma época, mas foram alçados á fama, pelo menos no velho mundo. John Branwell, vocalista e compositor do grupo é uma figura conhecida na cena musical mancuniana, tendo já militado em bandas da fase "Madchester", no final dos anos oitenta. Entretanto, sua linha de composição poética dark, nostálgica, e o acompanhamento melódico construído sob bases acústicas e arranjos que vão da delicadeza a grandiosidade nunca renderam ao I Am Kloot um público muito jovem. A verdade é que o som da banda realmente é mais adulto: Branwell parece um cantor de pub rock, contando estórias de forma embriagada: há uma certa ligação com companheiros do norte como o pessoal do Shack, mas sem a aproximação com as canções típicas do porto de Liverpool (Sea Shanties). Dá pra resumir que "Sky At Night" é o mais coeso dos albuns do grupo, sem abrir mão das suas principais caraterísticas: músicas que dão bastante espaço para os vocais de Branwell contarem pequenos contos, enquanto violões hipnoticamente conduzem o ouvinte, e as melodias vão se mostrando como que em camadas reveladas cirurgicamente. Talvez agora I Am Kloot receba um público maior; pelo menos é o que parece desejar a banda: eles incluíram a canção "Proof", que já estava presente no segundo álbum, como forma de introduzir a um novo fã um possível hit. 7,5/10
Alexis é vocalista do Sleigh Bells, cujo primeiro álbum foi resenhado aqui. Longe do noise pop de sua banda atual, Alexis fazia vocais para o Rubyblue, grupo teen pop do início dos anos 2000. Não aconteceu, e hoje ela circula por aí com uma das mais comentadas bandas indie do momento. O indie é o novo mainstream?
"Say you stay at home/ alone with the flu/ find out from friends/ that wasnt true/ Go out at night with your headphones on, again/...Didnt wanna be your ghost"
The National, Anyone's Ghost.
Legenda:Enquanto seu amor próprio diminui, seus chifres aumentam.
Você deve conhecer Spike Jonze, que dirigiu filmes como "Quero Ser John Malkovich", "Adaptação", "Onde Vivem Os Monstros". Mas se você cresceu nos anos noventa vendo vídeos de bandas legais na MTV (antes do Youtube existir, obviamente) vai lembrar que Jonze dirigiu clipes incríveis de Sonic Youth, Weezer, Breeders, Elastica, Chemical Brothers, Daft Punk e outros. Bem, Spike participa do projeto Creators, da revista Vice e da Intel, que integra pessoas que se utilizam das novas tecnologias em seus processos criativos. O primeiro encontro já ocorreu em Nova Iorque, com a presença de diversos nomes como M.I.A., Interpol além de instalações de artistas participantes do projeto. São Paulo terá sua edição no mês de Agosto. Teremos a chance então de assistir ao novo filme de Spike Jonze, chamado "Im here", onde robôs estão inseridos em nossa sociedade, mas são como proletários sem futuro, pelo que entendi. Mas eles também buscam emoções. Dá pra entender melhor assistindo o trailer abaixo. Aproveito também para escolher meu vídeo predileto do Jonze:
Erik Berglund é o cara por trás desse nome em letras minúsculas: ceo. Berglund já lançou coisas sob a alcunha Tough Alliance em parceria com Henning Furst. Eles também fundaram o selo Sincerely Yours, casa de bandas como o JJ. Mas o ceo é só de Erik. Pouco afeito a revelaçoes sobre seus próprios projetos musicais, Erik adora comentar sobre experiências reveladoras, mágica, o sentido da vida, reflexoes...obviamente não estava muito entusiasmado em ouvir "White Magic"depois de ler tanta bobagem. Estava esperando algum tipo de viagem new age tocada por gente de rabo de cavalo. No entanto, esse álbum reflete essa personalidade excêntrica de seu autor sem exageros ou aproximações ao ridículo. Sob uma base de instrumentação eletrônica, surgem instrumentos convencionais e harmonias vocais sessentistas. A construção dessa teia é que intriga: há choques estilísticos ocorrendo aqui, e surpresas que cativam o ouvinte: maior contradição é dizer que esse aparente excesso de informação é transmitido de forma fluida, como se realizado sem esforço. Só se chega a esse estágio através de uma mente criativa e perfeccionista. O disco não é longo, só possui oito músicas e Berglund parece ter calculado isso também: a cada nova audição percebemos novos detalhes sem enjoar com a familiaridade no formato das canções. Arranjos orquestrais convivem com sons de espadas, violões, barulhinhos... as letras são baseadas no campo das sensações tão propagadas por Erik nas entrevistas; do tipo que podem relatar fusões químicas naturais em nosso cérebro ou induzidas por substâncias, das emoções verdadeiras ou criadas pela mente; o balanço entre o lado escuro e os feixes caleidoscópicos de luz. Viajando ao estilo do músico, diríamos que esse é o primeiro álbum de pop eletrônico-psicodélico-post pop-celestial de 2010. A última música é na verdade um hino cantado pelas crianças ao fim das aulas num país imaginário, aonde existe o sol da meia noite, loiras de olhos azuis são maioria, as pessoas comem carne de rena e um dos filhos do Garrincha vive...Espera um pouco... 8,5/10
Um dos melhores discos do ano até agora é "The Family Jewels", dessa cantora galesa chamada Marina Lambrini Diamandis, AKA Marina. Para os não convertidos que acharam o disco "polido" demais (pop?!), aqui vai uma apresentação ao vivo, "stripped down" de "Hollywood"; apaixone-se:
Também conhecida como Anna Kushchenko, a moça acima foi detida nos EUA acusada de ser uma espiã russa. Arrumamos um motivo para linkar um assunto atual com uma banda que amamos: Pulp. Tudo bem que Spy, a canção, tem mais a ver com voyeurismo do que com intrigas internacionais. Mas de alguma forma consigo enxergar espiãs russas no imaginário de personagens de Jarvis Cocker.