Neil Hannon está de volta. O Divine Comedy está de volta. Notícia que nem de longe abala as estruturas da blogolandia indie brasileira, ainda comovida pelo retorno ao vivo dos Strokes ou da possibilidade do Pavement reunido aparecer por aqui. Nomes titânicos como esses geram reaçoes em cadeia de histeria, mesmo que nada novo esteja sendo lançado por essas bandas. O Pixies já é o Rolling Stones indie, dinossauros arrastando seu passado em shows caça-níqueis para pessoas que acham que "Where is My Mind?" foi escrita para o filme "Clube Da Luta". Paciência. Enquanto isso, Hannon, poeta dândi norte irlandês, segue criando belas obras como esse "Bang...". Pouca gente lembra, mas o Divine apareceu timidamente no início dos anos noventa, e chegou a ter popularidade no Reino Unido lá pelo meio daquela década. Com estilo de pop enfeitado por orquestraçoes e letras construídas com humor e sagacidade, ganhou fãs na rebarba do britpop de bandas como o Pulp (com o qual Hannon possui ligação na vibe parecida com a de Jarvis Cocker). Com o fim das vacas gordas para quem não andava de jeans skinny, cortes de cabelo ruins e tênis Converse, o Divine Comedy caiu no ostracismo, apesar de ter lançado três bons álbuns na década de 2000. Esse retorno não parece uma reinvenção mirando fãs do Phoenix, já que soa exatamente como os álbuns anteriores: o já mencionado pop orquestrado, de letras nunca menos que interessantes. A única possibilidade de captura do zeitgeist aqui é a menção ao declínio financeiro gerado pela crise econômica recente em "The Complete Banker". Entretanto, a canção não é cercada pela paranóia digital de MIA ou da ansiedade e fobia do Radiohead: Hannon assume mais uma personagem de visão auto depreciativa de humor torto. O que mantém o conteúdo soando anacrônico, mesmo numa cena tão diversa. Não é má notícia. Já estamos vendo que a "bastardização" de ícones indie recentes tem gerado imitações medíocres: já contou quantas bandas electropop existem por aí? Ou electro-rock? Ou sub-Strokes? Bacana ouvir algo que, por soar fora de moda, já ganha pontos, mas não se sustenta apenas pela teimosia: a qualidade do trabalho de Neil Hannon (o único integrante fixo da banda) merece mais atenção. Procure pela discografia do Divine Comedy, ou ouça esse ótimo álbum. Não há muitos caras por aí escrevendo letras tão boas ou ao menos se importando com isso. "At The Indie Disco" brinca com a própria miséria do gueto "alternativo" de forma nostálgica e romântica: "We go to the indie disco every Thursday night/Dance to our favorite indie hits until the morning light/" depois segue dizendo que se sentam sempre na mesma mesa, aquela que fica embaixo da foto do Morrissey. "Give us some Pixies, some Roses and some Valentines/ Give us some Blur, some Cure, some Wannadies"pede Hannon, e depois encerra pensando na garota na volta pra casa, dentro do ônibus congelando de frio: canta que ela faz seu coração bater no mesmo ritmo que a canção preferida: Blue Monday, "sempre a ultima que eles tocam". Gênio. 7/10
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