Let England Shake, o novo disco de PJ Harvey será oficialmente lançado lá fora terça-feira ( 15/02 ), embora já tenha vazado há alguns dias. Trazendo novamente um contraponto em relação ao seu trabalho anterior, o novo álbum trata de questões sociais e políticas - White Chalk era bastante intimista, sobre conflitos pessoais e de instrumentação minimalista e fria - embaladas por instrumentação mais variada e melodias simples. Mas, essa é PJ, amigos: as letras não poderiam ser mais cruas, citando morte, melancolia e situações de guerra e conflito. A cantora concedeu entrevista para o jornal britânico Guardian. Separamos aqui momentos importantes. Entrevista do repórter Ben Beaumont-Thomas:
* Sobre White Chalk ser mais pessoal e Let England Shake mais ficcional
"Como compositora, nunca escrevi de forma autobiográfica. White Chalk não era sobre mim. No entanto, sempre me interessei sobre como seres humanos se relacionam. Dá pra dizer que sempre me interessei, nos outros discos e nesse também. A maneira como nos tratamos é o resultado de tudo: Tudo desde um conflito mundial até como um homem e uma mulher se tratam em um relacionamento"
Ainda estou explorando isso: e estou usando o método de contar estórias, e me colocando em diferentes vidas e perspectivas...Voce tem que ter essa capacidade, de se colocar em uma situação diferente, ou muitas situações diferentes...Claro que voce estará limitado a suas próprias experiências, não há como eu vivenciar tudo que eu gostaria de escrever a respeito"
* Processo de criação de Let England Shake
Me levou muito tempo para escrever as letras, que aliás eu escrevi de forma totalmente separada da música, porque eu sabia que para lidar com assuntos tão pesados, as letras tinham de ser boas e fortes em primeiro lugar, senão todo o resto seria um desastre. Então eu levei dois anos e meio, três anos para juntar um material forte o suficiente...Eu sabia o que eu não queria fazer, que era soar muito dogmática, pomposa, em relação e temas como os conflitos de hoje em dia. As letras já possuem tanto peso que não precisavam de um acompanhamento pesado, então eu sabia que a música teria de ser enérgica, leve, empolgante...Eu sabia que meu desejo era que as letras pudessem ser possivelmente cantadas por muitas pessoas. Eu me concentrei na voz primeiro.Eu não toquei um instrumento até encontrar o tom de voz para cada letra, que não tinham nenhum ritmo embutido. Novamente, eu queria que a natureza da melodia tinha que ser simples, porque tinha que ser memorável,para que pudesse ser passada de uma pessoa para outra facilmente. Por isso, o resultado final foi esse tipo de som, como canções de ninar, ou bastante tradicional como uma música folk ou um hino, que são memorizáveis, simples, repetições.
* Raízes folk no novo trabalho
Eu estava bastante interessada em música folk tradicional durante o trabalho para esse disco. Eu me concentrei em músicas folk muito, muito velhas, ancestrais, de muitas nações diferentes: do Iraque, do Afeganistão, Cambódia, Vietnã, Irlanda, Escócia, Inglaterra. E quando voce volta naquela época, era sobre contar estórias, viajando de uma província para outra, basicamente a respeito das notícias. Cantando as notícias de uma região para outra. Isso foi antes da imprensa escrita. Mantive isso na minha cabeça: música era a respeito de comunidades, territórios.
* Influência árabe num disco sobre a Inglaterra ( há um sample de uma música cantada por uma iraquiana na canção England)
A música em questão é uma antiga canção curda, cantada por uma iraquiana, e é uma música de amor. Eu fiquei tão emocionada de ouvi-la cantar, que eu quis amarrar, de alguma forma, essa música com aquela em que eu estava escrevendo, que era uma canção de amor a um país. Poderia juntar essa iraquiana e essa inglesa cantando suas love songs.
* Sobre ser patriota ( o disco trata a Inglaterra de forma dúbia, ora amando suas paisagens,ora dizendo que deixa um "gosto amargo na boca")
Depende de como voce interpreta "ser patriota". Eu não diria que sou patriota, porque não estou certa sobre o que isso significa. Claro, sou uma mulher inglesa vivendo na Inglaterra, mas eu queria que o disco fosse sobre seres humanos e suas emoções, não importando o lugar. Então esses sentimentos de amor e ódio, de desesperança e esperança, nós temos em relação aos países em que nascemos e vivemos. Eu espero ter usado palavras que, não importando onde a pessoa more, ela possa reconhecer esses sentimentos em relação ao seu país.
* Relação entre a composição e como será interpretada pelo ouvinte
Eu sempre evito descrever minhas intenções por trás do trabalho, porque quero que a pessoa ouça e faça sua própria interpretação disso. E acho que essa é a beleza da música, porque alguém escreve, mas uma vez que está lançada, cada um fará dela o que desejar .
* Um novo começo
Eu sinto que acabei de começar. Nesse disco apenas tive a confiança necessária para escrever sobre o mundo em que vivemos, sem cair nas armadilhas que já descrevi. Agora eu acho que descobri o jeito de usar as palavras para falar sobre o mundo atual. Provavelmente seguirei nesse caminho, porque é tão novo pra mim. E tudo muda todos os dias, é um material de fonte inesgotável . Então esse disco é um início de um novo capítulo.
* Otimismo ou pessimismo? ( O disco, como já citado, possui letras que servem como a descrição de um cenário violento e injusto)
Eu me considero otimista e sempre tenho esperança. Eu sempre carrego esperança na capacidade para mudança nas pessoas. Dito isso, não tenho a cabeça nas nuvens e ignoro coisas óbvias, comoo fato de estamos em tempos difíceis. Voltando á música, sim, concordo que há imagens brutais no disco, que representam o mundo de hoje, que é um mundo brutal, então eu precisava usar esse tipo de imagem. Mas ao mesmo tempo há muito amor nele, há muita esperança, e beleza, e natureza. Então eu tentei equilibrar isso tudo, assim como todo dia é ambientado assim, com a sensação de medo e então algo maravilhoso acontecendo. Todo dia há o bom e o mau momento.
Essa é uma tradução livre e não a transcrição completa da entrevista, que pode ser ouvida aqui.
PJ fará uma apresentação das músicas novas em Paris amanhã (14/02), e transmitirá via streaming pelo seu site oficial.
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