quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Entrevista: Blubell


Uma das apresentações ao vivo mais bacanas que assisti nesse ano foi sem dúvida o show de lançamento do segundo disco da Blubell no Sesc Pompeia, em São Paulo. Eu conhecia o disco de estréia da cantora-compositora, e sabia que o novo album tinha uma raiz muito mais próxima do jazz. Fiquei curioso. Conhecendo o repertório de novas canções ao vivo, (ouvi o disco nos dias subsequentes-resenha aqui) tive a impressão de que aquela cantora promissora havia passado por uma libertação de certas amarras: com domínio de palco, uma boa banda e um punhado de músicas fortes, teve o público nas mãos principalmente por seu potencial. Blubell gentilmente nos concedeu uma entrevista em que fala sobre as diferenças entre seus dois álbuns, o amor pelo jazz e que está disposta a " dormir em van e viajar" pela carreira:

Houve um período longo - para os dias de hoje - entre o primeiro e o segundo disco. Foi uma decisão de se reorganizar?

Não. Na verdade estava tentando gravar esse disco desde 2008. Trabalhei com alguns produtores, mas a coisa não engatava. Depois de uma temporada de seis meses morando no Rio, voltei pra São Paulo e decidi chamar os meninos do quarteto (com que eu já trabalhava há três anos cantando standards do jazz) para fazer shows do meu trabalho autoral. Foi aí que tudo começou a dar certo e apareceu o convite da Yb pra gravar.

Algum receio de perder o "timing" do pessoal da nova geração durante esse período?

Sabe que não? Até porque a cada ano vai ter sempre um time novo saindo...Esse ano vamos ter lançamentos de discos como o do Pipo Pegoraro, do Dudu Tsuda, do Dan Nakagawa e do Pélico. Prestem atenção nesses nomes...

A vontade de se aproximar do jazz definitivamente foi fruto de alguma inspiração em particular ou já era algo que voce planejava?

Planejar, nunca planejei nada. Eu sempre ouvi jazz. Muito por culpa do meu pai, que sempre foi um ouvinte ávido de jazz e tem uma coleção de vinil de dar inveja a muito DJ...Costumo dizer que brincava de Barbie ouvindo Charlie Parker. E é verdade. Meu primeiro disco, Slow Motion Ballet, já tinha composições que tendiam para o jazz, mas isso não ficou aparente porque a produção dele era rock. Foi um disco onde eu não pude ter muita voz ativa. Era aceitar aquilo ou nada. No final valeu a pena...Até mesmo pro meu aprendizado.

Como é seu processo criativo? Porque as melodias e as letras são bem marcantes, elas parecem caminhar muito juntas...

Raramente faço música e letra ao mesmo tempo. Geralmente, quando penso numa melodia já sei mais ou menos sobre o que vou falar ali. Mas os acordes são sempre a primeira coisa que vem.

Como voce enxerga a construção de uma carreira musical em tempos como o nosso, em que pouca gente realmente ganha dinheiro vendendo Cds? Já há bandas nos EUA que vendem "a experiência de um show" em forma de pen drive. O cara vai ao show e no fim leva pra casa a gravação daquela apresentação específica, por um preço maior do que de um CD. O valor agregado do item acaba gerando demanda e ás vezes banca uma turnê inteira. Essas "soluções criativas" vieram pra ficar?

Puxa...Não conhecia essa do pen drive...Ótima idéia. Pois é. Ninguém mais ganha dinheiro vendendo disco. Por que você acha que tá tendo tanto "come back"de banda dos anos 80 e 90 hoje? O pessoal tá precisando fazer um troco...Penso que fazer shows vai ser a fonte central de retorno financeiro do músico daqui pra frente. Sorte minha, porque eu gosto do palco e tenho disposição pra viajar. Conheço muita gente que viaja bastante tocando e sei que mesmo no mainstream não é todo aquele glamour que se pensa. Dormir em van e tocar virado são coisas normais pra essas pessoas. Eu topo isso, desde que eu esteja exercendo meu ofício e não esteja me prostituíndo artisticamente.



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