sábado, 25 de setembro de 2010

Badly Drawn Boy - It's What I'm Thinking Pt.1 - Photographing Snowflakes


Damon Gough é mais uma vítima da velocidade em que a cena pop descarta suas apostas; em 2000, esse inglês do norte foi alçado a uma categoria especial por seu primeiro disco, The Hour Of Bewilderbeast, vencedor do Mercury Prize daquele ano. Damon aparecia como um compositor trabalhando em um campo infértil até então na ilha britânica: com sabor indie e lo-fi, soava menos sério e circunspecto do que outros singer-songwriters. Como uma mistura de Beck com Elliot Smith, bebendo também em fontes locais, Badly Drawn Boy, sua alcunha artística, era a bola da vez: seu trabalho subsequente foi prover canções para a versão cinematográfica de About A Boy, romance de Nick Hornby. Parecia o ápice de sua carreira em termos de balanço entre reconhecimento da crítica e espaço no mainstream. No mesmo ano de 2002 foi lançado seu terceiro álbum, Have You Fed The Fish, subestimado pela crítica. Daí em diante, pouca gente se importou com seus outros dois discos, lançados em 2004 e 2006, respectivamente. Damon parecia desaparecer para uma categoria de artistas precocemente laureados, afundando-se em auto importância e falta de inspiração. Quando ele anunciou que trabalhava em uma trilogia, num recente fluxo de criatividade, bocejos surgiram. Entretanto, Photographing Snowflakes se impõe como uma verdadeira ressurreição artística após longo inverno. O frescor das músicas de seu debut reaparecem agora acompanhadas de uma concisão estilística: vinhetas dispensáveis são coisa do passado: aqui voce encontra dez canções trabalhadas com belos arranjos, sim, mas sem desperdício algum. É como o encontro da inocência do primeiro disco com as ambições mais diversas de Have You Fed The Fish. A mão de Gough para esculpir melodias bonitas reaparece adornada por uma recem adquirida confiança; a idéia era capturar um momento, gravar as músicas de forma dinâmica, como ser capaz de enxergar a mente e o coração do compositor em pleno funcionamento, e registrar isso em disco. Um trabalho tão difícil quanto fotografar os flocos de neve do título. É exatamente essa imagem que inspirou Damon a nomear esse álbum. O risco era soar incompleto, incipiente; a vantagem era reaver a simplicidade que o levou a ganhar o Mercury Prize. A inocência foi embora, as emoções agora são revividas de forma menos entusiástica, mais "adulta"; há momentos em que Damon soa mais como um cantor calejado, ainda queimando internamente, gerando uma narcótica beleza melódica entre violões, slide guitars, e letras mais realistas como em A Pure Accident: "The feeling comes from nowhere / and it takes you by surprise.../ from the ashes we will rise". Sonicamente o álbum lembra os momentos mais bucólicos do segundo álbum do Wilco, com acenos ao folk, ao country-rock e o pop. O início com Safe Hands estabele o padrão: desenrolando lentamente seu apelo na letra " I need you to help me", Damon Gough serpenteia entre a desilusão e a esperança, num folk desmontado e fragmentado. Too Many Miracles é o momento mais pop, com violinos e ambiente quase psicodélico desembocando numa gema á la Brian Wilson. Nem sempre a alquimia funciona perfeitamente, o que faz a segunda metade do álbum ser ligeiramente inferior á primeira. Mesmo assim, é um trabalho surpreendente, repleto de momentos belos e inspirados. Não é um retrato perfeito de um floco de neve em movimento, mas a tentativa resultou em outra imagem, imperfeita e humana. 8/10

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