Quantas bandas já viram o instante do nascimento da inspiração gerar uma corrente de animação e depois esquecer que "promissor" e "primoroso" são apenas palavras que soam similares? O entusiasmo de alguns fãs já foi o obstáculo maior de uma boa dezena de grupos independentes. Parece ser um caminho que começa com boas demos, shows empolgantes, alguma divulgação na web e um precoce desejo de "viver o momento"; após algumas noites insanas, o que resta são pequenos traços de cocaína em seu exame de sangue e um punhado de canções que, com algum trabalho, poderiam ser boas de verdade. Já o caminho inverso, o de trabalhar imensamente para fazer valer o lema 'no pain, no gain" pode ser recompensador. O Holger nunca dormiu em confortáveis elogios, e aqueles sinais de que havia ali um potencial gerador de hits foram sendo cirurgicamente costurados. O primeiro disco chega agora, depois de a banda acumular um contínuo processo de melhora. Não apenas a energia, os ganchos pop e os ataques guitarrísticos á la Grandaddy do início permanecem, como uma nova e refrescante aproximação com o pop tropical surge gloriosamente. Não se trata de uma reinvenção total, mas o resultado de uma junção orgânica entre o indie rock praticado nas ultimas décadas filtrados por ouvidos brasileiros. Espalhados pelo disco estão andamentos quebrados do afro-pop, melodias tortuosas, pandeiros, teclados e refrões gigantes se moldando ao Holger tradicional, de hábil construção guitarra-baixo-bateria. No Brakes abre o disco como um lento desembrular de um presente que se sabe promete ser lindo: dá a senha para a sequência de She Dances e Let'em Shine Below, que eleva o astral na mesma velocidade em que se nota a confiança dos caras na execução. Toothless Turtle é o amálgama perfeito do Holger sendo pop, indie, afrobeat num ataque desenfreado de rock. Temos registrado em disco um pouco do barulho incontido produzido por eles nas apresentações ao vivo, o suficiente para que essas músicas pareçam imprevisíveis e empolgantes. Trata-se, amigos, da rara oportunidade de ver uma banda se desenvolver como um organismo vivo, crescendo e se aperfeiçoando. Em Sunga, eles já são primorosos. 8/10
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