domingo, 5 de setembro de 2010

The Charlatans - Who We Touch



Sobreviventes: essa é a melhor definição para os Charlatans. Os caras surgiram no vácuo do sucesso do Stone Roses no final dos anos oitenta e estão lançando seu décimo primeiro álbum. Nesse processo, sobreviveram a morte do verão do amor mancuniano, á invasão grunge, ao Britpop nascendo e morrendo, á nu-rave, aos Strokes, ao Libertines e a perda de Rob Collins, tecladista que faleceu em um acidente de carro em 1996. Com uma discografia relativamente sólida, a banda nunca decolou: sempre são considerados sub- alguma coisa. Já foram acusados de imitarem os Roses, o Oasis, o Primal Scream...improvável que Who We Touch, disco que falaremos aqui, reverta essa sina.

Depois de flertarem com o reggae (!?) em Simpatico e lançarem o regular You Cross My Path, o Charlatans parecia caminhar para o fim de carreira. Talvez a total falta de expectativa em relação a um novo lançamento tenha ajudado a refletir o estado de surpresa e perplexidade diante do poder de Who We Touch. O primeiro single, Love Is Ending possui uma introdução cacofônica, uma levada Sex Pistols nos riffs, clima Joy Division e refrão Britpop. Mais do que um apanhado de clichês, no entanto, a música mostra uma banda com toda a expertise de anos tocando, mas com o vigor adolescente da fúria e entusiasmo. É um cartão de visitas que poderia deixar as demais canções menores em comparação, mas My Foolish Pride segura a onda como um velho Charlatans na levada de teclados e construção melódica bonita desaguando no refrão pop. Outras pérolas estão espalhadas pelo álbum: Your Pure Soul mostra Tim Burgess carregando os versos com uma leveza que muita gente não acreditaria ser possível quando era rotulado de imitador: " I'm tired of myself /tried to control/your pure soul". Uma trinca impecável, abrindo um album que, a princípio, não prometia nada a não ser nostalgia. Smash The System volta a um caminho mais escuro, equilibrando a metralhadora pop inicial. Lenta, climática, com incrível trabalho instrumental da - desculpem o exagero neologístico - cozinha charlataniana - vai intoxicando o ouvinte lentamente. Intimacy também é criada como uma melodia circular, psicodélica, com um clímax repentino, como uma explosão de cores num cenário antes sombrio. A segunda parte do disco retoma o clima rocker do baixo trepidante, enquanto Burgess vai brincando com o vocabulário em Sincerity. Outra característica do grupo, os teclados marcando a melodia, fica evidenciada, caso o ouvinte desavisado acredite estar ouvindo uma banda recém saída da escola. A coesão de Who We Touch nos obriga a praticamente citar todas as suas dez canções, o que é bastante incomum.

Mas o título de melhor fica mesmo para Trust In Desire: a melhor composição do Charlatans desde o álbum Tellin Stories (1997), é aquele hit que eles sempre ficaram devendo para realmente estourar comercialmente fora da ilha. Linda, liricamente ispirada: " And in my dreams/ you kiss my head/ for all my little victories... Trust In desire/ i will follow you / I will inspire you / will you help me too?"Infelizmente, o Britpop morreu há mais de uma década, então esse potencial single será destinado ao esquecimento. Diante dos fatos, não resta dúvida: Who We Trust é um dos melhores discos de 2010 que não aparecerá em nenhuma lista de melhores de 2010. E essa outra característica do Charlatans, a de subestimados provedores de belos discos sem reconhecimento nos leva a designar outro adjetivo a eles, como cantado em Trust In Desire: " A hero, a hero never dies". 9/10

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