sábado, 29 de maio de 2010

Indie-elitismo e Status Social




Não é difícil descrever aquele seu amigo que genericamente pode ser chamado de indie, embora odeie que o definam assim. Consome revistas gringas, coleciona box sets de séries cults, frequenta cinemas que exibem filmes europeus e/ou independentes, interessado em moda, ainda compra cds embora possua alguns Ipods, se joga nas baladas mais moderninhas e reverencia Nick Hornby. Também tem uma quedinha por gadgets, pra se manter online nas redes sociais non stop. Acima de tudo, sente pertencer a um grupo de pessoas mais informadas que a maioria.Ah, não deixa de visitar Londres, Nova Iorque ou qualquer lugar como Reading e Indio, na California. Nao podem perder esses festivais. Agora, uma reflexao: quanto custa consumir tudo isso? Certamente um trabalhador médio brasileiro não poderia custear tais hábitos. Então o indie brasileiro seria essencialmente um sujeito de classe média alta, que essencialmente já é um animal cheio de ranço preconceituoso e esnobe. Ao contrário do que pensa, está sempre um passo atrás das "modernidades" globais, e seu pensamento converge para um funil estreito, longe do ideal livre e caleidoscópico. Talvez isso explique a mediocridade da produção cultural no Brasil. Porque a essência da criação se relaciona a sentimentos menos nobres, e hábitos menos capitalistas. O blues e o rock não nasceram em berço de ouro. Quase tudo que veio depois, seus inúmeros subgêneros, sempre tiveram um pezinho no lado pobre, sujo e desagradável. O hip-hop por exemplo. Aí alguém lembra que muita coisa considerada seminal foi feita por estudantes de arte. Mas mesmo esses tiveram de se meter em becos mijados pra chegar a verdadeira inspiração. Basicamente, se voce curte algo que pareça minimamente real, com sangue nas veias e talento transpirando, provavelmente procurará nas entranhas menos badaladas da cidade. Porque o mundinho chique e confortável do indie-padrao brasileiro vai oferecer algo similar a esse estilo: produto derivativo, sem graça, sem coração e cheio de boas intenções. Nascer pobre não confere autenticidade, mas viver numa bolha cheirosinha nunca resultará em um bom disco, filme, livro, HQ, etc. Admirador de cultura pop: suje suas mãozinhas desinfetadas.

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