Há quem diga que o cenário de novas cantoras está saturado. Se isso é verdadeiro, mérito de quem consegue se afirmar sem macular sua própria identidade. Luisa Maita chega ao primeiro disco realizando com sucesso aquilo que, felizmente, parece estar se consolidando na música brasileira (pelo menos num espaço mais independente): gente que cresceu ouvindo referências diversas traduz de forma eloquente suas influências, sem enterrar os pés num passado imaculado.
Luisa, a exemplo de outras cantoras citadas aqui mesmo nesse espaço, demonstra articulação e segurança: mesmo sendo seu debut, não sobrou espaço para clichês da linha "promissor", "futura diva" e outros termos gastos. Incrivelmente, há de sobra em Lero-Lero músicas de tons quentes, sensuais, intuitivas. Trabalho firme, de cunho personalista.
A coesão do álbum se dá muito pela produção de Paulo Lepetit, que compreendeu Luísa como uma cantora que joga sempre de maneira forte, mesmo quando canta baixinho. De voz afinadíssima, a garota serpenteia entre os versos, distribuindo emoções de forma difusa e intoxicante; o acompanhamento de tanta força só poderia ser minimal, na dose correta, nem escorregando no exagero, nem sufocando a forma Luisa Maita de entregar canções.
Inegável também que a atmosfera paulistana fica impregnada pelo disco: há sambas e também outras manifestações raramente vinculadas á tradição musical da capital paulista, mas não é por esse pequeno estereótipo que concluímos: a música aqui destila urgência, olhar múltiplo, desapego, confusão: como um retrato de personagens caminhando apressados, vivendo suas próprias experiências entre a opressão e o deslumbramento da megalópole. O grande trunfo de Luisa é extrair tais impressões de forma delicada e sutil, sem que o tom pesado desague num amontoado de referências desconexas. O controle de voz da cantora parece mais fruto de intuição, quase que intrinsicamente feminina, de demonstrar sem expor, de sugerir e não afirmar.
Possuímos aqui um belo exemplar de que a música, quando simplesmente executada com paixão e talento, pode ser brasileira e pop, conjugando a expressividade particular de nossa tradição com a forma contemporânea de articulação. Sem pedir "por favor", Luisa se mostra ao mundo em Lero-Lero como uma bela cantora e compositora. Obrigatório. 8,5/10
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