segunda-feira, 15 de novembro de 2010

As Ruas São Nossas: Banksy E Richard Hawley





Adoramos conexões entre a música pop e o cinema. Ou qualquer conexão que envolva música pop, até mesmo arte de rua. Se for inesperada, melhor ainda. As cenas iniciais de Exit Through The Gift Shop, o super-hiper falado "filme do Banksy", são ilustradas por uma bonita balada, com um certo arranjo grandioso á la Phil Spector. Nada de música eletrônica, hip-hop ou hardcore (usualmente relacionadas com a street-art). Surpreendente, embora ilustre perfeitamente a saga daqueles que tomam as ruas para si ao anoitecer.

Recapitulando: A música é Tonigh The Streets Are Ours, do Richard Hawley. Hawley é de Sheffield, e antes de encarnar o crooner em sua carreira solo, foi guitarrista do Longpigs e do Pulp. A música não é inédita e nem mesmo recente - é do álbum Lady's Bridge, de 2007 - mas joga luz sobre o sólido trabalho de Richard. São cinco álbuns de estúdio e a admiração de gente como Alex Turner (Arctic Monkeys) e Jarvis Cocker. Antes um coadjuvante como hábil guitarrista, quando mostrou sua voz ao mundo em 2001, surpreendeu: suas composições invocavam um passado rebuscado, e seu tom grave fazia todo sentido nessa busca gospel-rock-blues Presleyano.

Banksy é o artista britânico que faz uso do grafitti, pintura, stencil, intervenções urbanas para mostrar seu lado ativista, contestador. Originário de Bristol, sua arte já ganhou as ruas para além de sua cidade natal e rendeu muitos prêmios e polêmicas. Uma das mais interessantes intervenções envolvendo a pop music foi sua "reinvenção" do disco de estréia da Paris Hilton. Banksy utilizou 500 cópias do disco, alterando a capa: uma tinha a Paris de topless (fake), outra tinha a cabeça de um cachorro no lugar do rosto, e outra mostrava Paris saindo de um carrão com imagens inseridas de sem-teto. 48 lojas inglesas receberam essas cópias, e antes que fossem identificadas, consumidores conseguiram adquirir um verdadeiro produto pop: um disco que possuía remixes do Danger Mouse, uma capa do Banksy e músicas com títulos como: Why Am I Famous?, What Have I Done? e por aí.

Então que Exit Through The Gift Shop é o primeiro filme do Banksy. Como ele não mostra o rosto e sua voz só é ouvida de forma distorcida, o mistério faz parte de sua persona artística. Seu filme não é menos misterioso. Alguns o consideram um documentário, outros uma obra de ficção bastante engenhosa.

Conexões feitas, me lembro de trocar e-mails com Mister Hawley no início da década. Ele sempre mostrou grande entusiasmo com a música mais antiga, dizia que não conhecia quase nada novo, nem tinha vontade de conhecer. Dez anos depois, o low-profile Richard e o "guerrilheiro" Banksy se encontraram, para tomar as ruas do mundo.


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