Todo mundo sabe que, quando certas portas são abertas no mundo pop, muita gente aproveita a oportunidade de sucesso. Ano passado, o synth pop oitentista reviveu mais notavelmente pela dupla La Roux: de promessa á escalada na parada pop em poucos meses. E essa enxurrada de revivalistas do sintetizador não pára, desde aqueles que enfeitam com barulhinhos até os mais descarados copiadores. Bem, quando a dupla de Manchester Hurts foi escolhida entre as promessas para 2010 pela BBC poucos se entusiasmaram. O visual de Theo Hutchraft (vocais) e Adam Anderson (synths) nas fotos promocionais sugeria algo asséptico, com as roupas alinhadas e gel nos cabelos. Uma aproximação demasiada á paródia? Agora que Happiness, álbum de estréia da dupla finalmente é lançado podemos tirar essa dúvida. E que surpresa descobrir que nesse mundo criado pelos mancunianos sobra espaço para uma música que, como o melhor pop, é repleta de referências, mas consegue ser vibrante e autêntica. Desde a primeira canção, Silver Lining, notamos as qualidades do grupo: introdução dark a lá Depeche Mode, linhas melódicas bem definidas, vocal potente de Theo, letras simples e grudentas, melancolia e amarração sem arestas. Impressão: não conseguirão manter o nível pelas próximas dez faixas. E então entra Wonderful Life, single já conhecido, mas ainda soando interessante após algumas audições: aqui a alquimia do Hurts funciona brilhantemente: dance com lágrimas nos olhos, de novo, nas mãos de uma banda de Manchester. A sequência seguinte joga pesado com três baladas que apelam sem nenhuma vergonha para o melodrama, mas com tal habilidade e sim, vale ressaltar, ótimo trabalho vocal de Theo: o cara parece ser um grande bandleader. Os refrões são imensos, como se juntassem o ego de Bono Vox e Chris Martin multiplicados. E, ainda que voce saiba que provavelmente ouvirá tanto essas músicas nos próximos meses que irá odia-las, por enquanto é possível apertar o repeat sem nenhuma culpa. A parte final do disco cresce de forma menos bombástica, como se a banda tirasse o pé para não ferir o ouvinte mais sensível ao poder do pop; mesmo assim, há um dueto incrível de Theo com a Kylie Minogue em Devotion. Esses caras entraram no jogo não para receber recomendações de melhor música da Pitchfork, mas para concorrer no panteão de figuras como Bieber e Gaga. Com tamanha articulação, não há problema algum nisso. 8/10
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