Eis o primeiro single do projeto envolvendo o MC Rodrigo Ogi em parceria com os produtores do Stereodubs (DJ LX e Léo Grijó): a parada vai render mais coisa no ano que vem, com participações confirmadas de Rodrigo Brandão e Rappin Hood. O som que anuncia o projeto é Talarico, uma canção que utiliza a já notória capacidade de Ogi como contador de histórias e mescla os versos bem colocados com uma melodia que deriva do samba e da música popular "de verdade", geralmente rotulada pejorativamente como brega: pense em Luiz Caldas encontrando Clara Nunes. São pequenas cenas do cotidiano da vida real, som de boteco e não de barzinho.A faixa conta com a participação da cantora Srta Paola. Uma música de respeito sobre aquele tipo de sujeito que não respeita ninguém."Foge sujeito safado/vai se esconder/sebo nessas canelas/corre,corre Talarico/se eles pegarem você vão meter o maçarico." Rá! Ouça:
Não deixa de ser surpreendente que uma das melhores bandas inglesas da atualidade seja um duo garoto/garota praticando um indie-pop aparentemente sem grandes ambições: todo o aparato em torno do grupo formado por Charles Watson e Rebecca Taylor sugere apenas mais uma bandinha twee, fofinha: Charles faz o tipo introspectivo e Rebecca é uma bonequinha loira tímida; dá pra imaginar um comercial da Starbucks estrelado pelos dois. Mas Paradise, segundo álbum desse pessoal de Sheffield prova que eles podem surpreender os mais ácidos críticos. A (perdão) indigência da cena independente da ilha ajuda a explicar, mas não elucida totalmente o motivo de o Slow Club ser um destaque positivo em 2011.
Com uma base instrumental simples de guitarras, violões, teclados e bateria/percussão, a dupla coloca em prática o bom exercício de se criar melodias mais recheadas de curvas, abandonando a linearidade do propósito meramente banal de soar digerível; a impressão é que realmente há uma força de composição que norteia o andamento do álbum, ao invés de pequenos ganchos que se repetem.
Em Two Cousins já temos um exemplo das qualidades do grupo: Rebecca possui bela voz, entoada com intensidade volátil; as harmonias serpenteiam com facilidade; o ataque instrumental preenche espaços e conduz ao elemento mais abrasivo porque há ritmo: sem tirar as mãos do pop, o Slow Club apresenta uma canção capaz de cativar também pela criatividade. If We're Still Alive não estaria fora de lugar em um disco do Givers, toda trabalhada na percussão insistente e riffs sujos: sem mimimi, só curtição. A balada Never Look Back funciona de um jeito que só boas canções podem funcionar: é um dueto com linhas de baixo roubadas de qualquer soul antigo, estaladas de dedo e refrão manjado: a sensação é de que você já ouviu isso antes, mas mesmo assim é bonita e vibrante. Where I'm Waking mistura a energia da abordagem mais agitada com a reflexão melódica característica da banda, Rebecca entregando um "I can see you're looking at me/ You've got the brains/ I've got the body...Lay me down/please lay me down."
A fórmula encontrada aqui parece simples: sem fugir ou temer suas influências, o Slow Club se concentrou em escrever boas canções: não há reinvenção e experimentação, mas também não há brecha para momentos anêmicos: cada faixa de Paradise traz consigo uma boa dose de emoção. O folk quieto de Hackney Marsh e a exuberância de Beginners possuem a mesma vocação para saltar aos olhos - ou ouvidos - mais espertos graças ao entrosamento entre Watson e Taylor na construção das ambiências sonoras. You, Earth Or Ash é uma madrugada pós-tudo sintonizando uma rádio AM encapsulada em forma de canção: o verso "I'm exhausted" é cantado com tamanha emoção por Rebecca que é um daqueles pequenos momentos que engrandecem um álbum. O folk eletrificado em The Dog, adornado pela bateria dura, monotemática de Rebecca e um refrão de dar soquinhos no ar podem fazer alguém engasgar com o frapuccino.
Trabalhar em um campo já repleto de bandas (o universo "indie" do folk-pop inglês: Mumford And Sons, Noah And The Whale, Stornoway, Johnny Flynn, Laura Marling, Emmy The Great, etc) pode ser uma proposta de tiro curto: se a execução for medíocre, a duração será a mesma do interesse e badalação em torno de qualquer coisa nos dias de interwebs: ontem já faz tempo e não interessa. A duplinha de Sheffield - terra de boas bandas, diga-se - evita os clichês ao se apoiar em uma confiança monstro e uma verdadeira paixão pelo pop perfeito. O que eles fizeram em Paradise já merece muito mais do que habitar o sistema de som de paraísos hipster. Use seus fones de ouvido e aproveite. 8/10
Os cearenses do Fóssil preparam o lançamento de Mocumentário, novo álbum do grupo previsto para fevereiro de 2012, da mesma forma arrojada que caracteriza a musicalidade da banda radicada em São Paulo: hoje eles liberaram para download gratuito um aperitivo do novo trabalho; o detalhe é que as canções novas são apresentadas ao vivo, registro da passagem deles pelo Rio de Janeiro em junho desse ano. Uma maneira diferente de apresentar ao público o que será ouvido por inteiro em alguns meses. Assista ao teaser e baixe as seis faixas gravadas na Audio Rebel aqui (via Hominis Canidae).
O Shabazz Palaces é o projeto de Ishmael Butler (o Butterfly do Digable Planets) com Tendai Marare. Depois de soltarem alguns EPs em seu site oficial em 2009, eles lançaram o álbum Black Up em junho. Fruto da inventividade de Butler, que não se apoia em bases lineares para construir o esqueleto das faixas, e a habilidade rítmica de Tendai Marare, Black Up reúne canções que se colocam entre a complexidade e a fluidez, trazendo detalhes para o ouvinte mais atento sem abandonar a vocação para a diversão pura. O duo se apresentou no estúdio da rádio KEXP, de Seattle com quatro músicas listadas abaixo; a parada rolou em junho, mas merece ser vista (ou revista) por muito mais gente:
* Bop Hard
* An Echo From The Hosts That Profess Infinitum
* A Mess, The Booth Soaks In Palacian Musk
* Free Press and Curl
Mais sobre o Shabazz Palaces (mini-doc + apresentação ao vivo) no Noisey.
A cantora/instrumentista/compositora Nana Rizinni (que lançou seu primeiro álbum há alguns meses) é a terceira personagem da nossa série de posts sobre a primeira aquisição - ou presente - de discos:
" O primeiro disco que comprei (ganhei da minha mãe), disco não, CD, porque eu sou da era das fitas cassetes... Então foi marcante quando ganhei meu primeiro CD, tinha uns 13 anos. Foi o CD do Pearl Jam. Adorava (ainda adoro). Foi o disco TEN. Lembro que naquela época todos os discos que ganhava ou comprava, ouvia um milhão de vezes e decorava todas as letras das músicas. Era realmente uma época mais romântica. sinto falta. Mas tento fazer isso ainda nessa era digital. Não compro muita mais CDs, mas no itunes organizo tudo por discos e curto escutar o disco todo, a obra toda."
Lançado em 1991, Ten se posicionou como um dos mais bem sucedidos álbuns da era grunge: se Eddie Vedder e companhia não possuíam a simpatia de parte da crítica e de músicos contemporâneos, os fãs já se multiplicavam ao redor das melodias grandiosas do debut do PJ. Vinte anos depois, o registro permanece sendo, querendo ou não, bastante emblemático do rock dos anos 90.O respeito veio com o tempo, como ficou provado nas recentes apresentações no Brasil.
O novo projeto do Ogi - autor do excelente Crônicas da Cidade Cinza - com o Stereodubs está no forno: hoje eles liberaram o teaser do single Talarico, que sairá em breve. Assista aí:
Annie Clark comanda sua guitarra recheada de pedais de efeitos e sua voz oscilante sob a nomenclatura de St. Vincent há três álbuns. O terceiro, Strange Mercy, é o que a musicista norte-americana nos oferece em 2011. Não há dúvida de que sua maneira de construir canções pop começa a tomar forma bastante pessoal: se elementos de dream pop, rock, eletronica e suítes jazzísticas são elementos explorados por inúmeras outras bandas lideradas por vozes femininas, Annie encapsulou sua própria alquimia em Strange Mercy, mais claramente do que em seus outros dois bons discos. Temos aqui um pop de apelo radiofônico, porém cheio de espaços, arranjos diferenciados, letras espertas; música acessível, sem chateações mas com os dois pés na criação não ortodoxa.
Chloe in the Afernoon é montada sobre camadas de sintetizadores, Annie cantando suavemente e alongando notas enquanto distribui riffs intromissores; é um exemplo de como o som do St. Vincent se distribui entre a calma e a estranheza, sem que essa dissonância se torne tão extravagante a ponto de estragar o resultado. Cruel é uma mutação do chamber-pop com o electropop, o ponto em que as letras de Clarke fazem efeito conjunto, mesmo que os versos revelem apenas a superfície de um mundo particular: "Forgive the kids for they don't know how to live/Run the alleys casually/Cruel, cruel". Tal vivacidade lírica ganha mais peso em Surgeon: guitarras costurando o refrão (que veio de uma frase de Marilyn Monroe): "Best, finest surgeon/Come cut me open"; soa opressivo, desnorteante e verdadeiramente original. Nem só de esquisitices vive Strange Mercy: Northern Lights é um indie rock linear de som processado por efeitos, salvo pela voz sempre limítrofe de Annie. A canção que dá título ao álbum caminha por uma melodia quase perfeita, de levada metronômica e romantismo melancólico. O controle das opções no processo de entrega do St. Vincent é mais do que apreciável: quando um padrão parece se formar, uma música demonstra outra forma de apresentação.Neutered Fruit traz a visão de uma flor comestível, cores, explosão de flechas, coelhinhos fujões e outras reações cerebrais a estímulos diversos; Champagne Year é mais um belo exercício de pop alienígena, uma balada minimalista que possui os versos menos herméticos do disco: para a compositora, a transmissão de suas intenções e experiências se dá muitas vezes pelo uso de referências (exemplo da música Surgeon), mas também pela sinuosidade do conjunto de palavras.
Um dos trabalhos mais bem executados de 2011, Strange Mercy abre uma discussão interessante: É possível trabalhar com elementos díspares e soar orgânico? St. Vincent possui uma sonoridade que sugere um processo bem racional e atencioso na criação, mas o que dá vida às canções realmente é a emoção conflituosa presente em cada verso e acorde do álbum. De alguma forma, a compositora foi capaz de transformar momentos puramente instintivos em música que possui várias facetas. O pop "cabeça" e o de assobio fácil, a frieza de certos tons com o calor da execução. Para Annie Clark, a resposta da pergunta acima é "sim". 8/10