segunda-feira, 7 de novembro de 2011

St. Vincent - Strange Mercy


Annie Clark comanda sua guitarra recheada de pedais de efeitos  e sua voz oscilante sob a nomenclatura de St. Vincent há três álbuns. O terceiro, Strange Mercy, é o que a musicista norte-americana nos oferece em 2011. Não há dúvida de que sua maneira de construir canções pop começa a tomar forma bastante pessoal: se elementos de dream pop, rock, eletronica e suítes jazzísticas são elementos explorados por inúmeras outras bandas lideradas por vozes femininas, Annie encapsulou sua própria alquimia em Strange Mercy, mais claramente do que em seus outros dois bons discos. Temos aqui um pop de apelo radiofônico, porém cheio de  espaços, arranjos diferenciados, letras espertas; música acessível, sem chateações mas com os dois pés na criação não ortodoxa.

Chloe in the Afernoon é montada sobre camadas de sintetizadores, Annie cantando suavemente e alongando notas enquanto distribui riffs intromissores; é um exemplo de como o som do St. Vincent se distribui entre a calma e a estranheza, sem que essa dissonância se torne tão extravagante a ponto de estragar o resultado. Cruel é uma mutação do chamber-pop com o electropop, o ponto em que as letras de Clarke fazem efeito conjunto, mesmo que os versos revelem apenas a superfície de um mundo particular: "Forgive the kids for they don't know how to live/Run the alleys casually/Cruel, cruel". Tal vivacidade lírica ganha mais peso em Surgeon: guitarras costurando o refrão (que veio de uma frase de Marilyn Monroe): "Best, finest surgeon/Come cut me open"; soa opressivo, desnorteante e verdadeiramente original. Nem só de esquisitices vive Strange Mercy: Northern Lights é um indie rock linear de som processado por efeitos, salvo pela voz sempre limítrofe de Annie. A canção que dá  título ao álbum caminha por uma melodia quase perfeita, de levada metronômica e romantismo melancólico. O controle das opções no processo de entrega do St. Vincent é mais do que apreciável: quando um padrão parece se formar, uma música demonstra outra forma de apresentação.Neutered Fruit traz a visão de uma flor comestível, cores, explosão de flechas, coelhinhos fujões e outras reações cerebrais a estímulos diversos;  Champagne Year é mais um belo exercício de pop alienígena, uma balada minimalista que possui os versos menos herméticos do disco: para a compositora, a transmissão de suas intenções e experiências se dá muitas vezes pelo uso de referências (exemplo da música Surgeon), mas também pela sinuosidade do conjunto de palavras. 

Um dos trabalhos mais bem executados de 2011, Strange Mercy abre uma discussão interessante: É possível trabalhar com elementos díspares e soar orgânico? St. Vincent possui uma sonoridade que sugere um processo bem racional e atencioso na criação, mas o que dá vida às canções realmente é a emoção conflituosa presente em cada verso e acorde do álbum. De alguma forma, a compositora foi capaz de transformar momentos puramente instintivos em música que possui várias facetas. O pop "cabeça" e o de assobio fácil, a frieza de certos tons com o calor da execução. Para Annie Clark, a resposta da pergunta acima é "sim". 8/10

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