Ogi esquentava esse disco há algum tempo, criando altas expectativas. É o primeiro solo do compositor, membro do Contra Fluxo, grupo que firmou posição no cenário entregando um rap old school que aproximou um público outsider, ou de fora das periferias, para seu som. E a capacidade de Ogi para ser o cronista proposto pelo título do album é tamanha que a promessa é realizada de forma brilhante.
Ogi desenha cenários ricos em detalhes, construindo climas e tensões, alternando humores e encarnando personagens diferentes. O acompanhamento de beats precisos só realça a facilidade com que pequenas cenas são transformadas em relatos completos. O que é bastante pertinente é que Ogi utiliza poucos minutos pra subir toda a estória; sua concisão e sagacidade lhe permitem basear as canções em rápidos petardos desorientadores, o que te faz querer ouvir de novo para entender o processo: é viciante, e talvez o fato de as rimas acompanharem uma voz que sai do monocórdico e também representa um papel importante seja fundamental para o equilíbrio do disco.
Cidade com nome de santo encosta no samba para apresentar o grande pano de fundo daquilo que está para ser contado: a megalólope cinza e assustadora. Profissão perigo é narrado por um motoboy "filho do stress paulistano" e uma das mais impressionantes músicas do ano: possui aquilo de mais pungente no hip-hop: agilidade, flow, pegada e apelo popular. Por que, meu Deus?, cujo clipe já passou por aqui, aposta na narrativa dupla com final confluente. Besta Fera (com participação de DonCesão, Dr Caligari e Mascote), Minha sorte mudou e Tamo aí no rolê (com Rodrigo Brandão) possuem paralelo com o estilo de "estilhaçamento rítmico que acompanha a estória" de rappers gringos pouco reconhecidos no Brasil como Mike Skinner, do The Streets. Premonição, a primeira amostra desse trabalho a ganhar vídeo, mantem o impacto inicial do refrão e estrutura melódica fortes. Noite fria mostra um rolê que termina de forma terrível nas mãos de integrantes de carros dotados de giroflex.
As personagens desse disco, Sueli, garçons, Zé Medalha, gambés, pixadores, motoboy, seguranças, trabalhadores, minazinha do Iphone e tantos outros são parte de um enorme cenário. Ogi não realiza uma direção desse filme diário e mutante com mão de ferro, ele deixa os fatos determinarem os limites e não deixa espaço para auto indulgência ou eulogias. E é essa a grande qualidade de Crônicas da Cidade Cinza: é um retrato humano ordinário, com resultados musicais extraordinários. 9/10
A capa lindona do disco é d'Osgêmeos. Em São Paulo, você encontra o album nas galerias e pra quem mora fora da cidade é só entrar em contato: contato.ogi@gmail.com. Ouça Profissão Perigo:
Nenhum comentário:
Postar um comentário