domingo, 14 de agosto de 2011

Entrevista: Tiê


Não faz tanto tempo que Tiê lançava Sweet Jardim, disco que inaugurava sua carreira autoral recheado de canções quietas e melancólicas, gravadas de uma forma bastante simples. No início de 2009, os primeiros shows começavam a atrair pessoas que se sentiam capturadas pelas músicas de apelo pop mas com um toque folk e de letras pessoais. Um grande passo pra quem tinha acabado de achar uma forma de traduzir sua criatividade: "Quando ouvi o disco pronto, confesso que deu uma mini insegurança. Estava bem simples e bem autobiográfico. Fiquei com medo de ser demais. Mas logo passou e foi só felicidade. Sempre todo mundo recebeu o Sweet muito bem."

Agosto de 2011. Quase dois anos e meio depois, com uma carreira ascendente, Tiê viu amigos como Tulipa Ruiz e Thiago Pethit ganharem espaço para além dos espaços independentes, além de outros artistas como Marcelo Jeneci estabelecerem um grau de atenção antigamente destinados apenas a grandes nomes. Um dos problemas de novos parâmetros dentro da música é a dificuldade em aceitar - ou enxergar - diferenças entre músicos contemporâneos. A tentação de reduzí-los a um só rótulo é muito grande. Para o ensolarado e bem sucedido segundo disco (A Coruja e o Coração- resenha aqui), lançado esse ano, Tiê escolheu dois hits de Pethit e Tulipa para gravar. Uma forma de mostrar a diferença entre eles? "Foi exatamente isso! Quis regravar músicas que eu realmente achava incríveis, além de mostrar meu apreço e admiração por esses dois artistas. Somos apenas amigos que estamos criando num mesmo momento. Musicalmente somos bem diferentes, mas a essência independente e o lado autoral é o que temos em comum.

A boa recepção de Sweet Jardim e o nascimento da filha Liz foram eventos que ocorreram após uma caminhada não diferente da maioria dos artistas : o esforço para encontrar uma voz criativa, os percalços da independência contrastando com a vida fora dos palcos e as contas para pagar. De alguma forma as coisas se tornaram positivas o suficiente para que A Coruja e o Coração ganhasse um tom mais colorido e sonoridade mais completa: " Já sabia que seria bem diferente de Sweet Jardim, porque a minha vida já estava completamente mudada. Mas foi um processo natural. As composições pediam mais instrumentos, mais recheio. Para incrementar essa ideia de trabalho menos solitário, parcerias surgiram, com gente como Pedro Granato e Karina Zeviani; teriam sido planejadas ou espontâneas?: "Espontâneas e muito bem vindas! Perto e Distante já tinha nascido quando pedi ajuda pro Pedro e ele deu outra vida e história pra ela, que antes se chamava Quem Garante. A Ka eu conheci bem na época da produção do disco, ficamos amigas e tudo fluiu muito bem!"

Com participação garantida no próximo Rock In Rio e várias datas pelo Brasil e no exterior - tem shows marcados nos EUA junto com Tulipa Ruiz agora em Agosto - Tiê se mostra otimista com o fato de que os shows se tornaram tão importantes para a sobrevivência do artista: " Não é o único, (meio de viver de música) mas por enquanto é o mais garantido, e também divertido! Amo o contato com o público, as diferenças de cada show, a energia dos lugares." Inevitável questioná-la sobre o futuro de sua geração, já que ainda não podemos afirmar com o devido distanciamento a importância e a extensão do sucesso deles. Em dez anos, como estarão? A compositora dona de um despojamento e polidez marcantes também mostra que é otimista e brinca: " Espero que feliz! E rica! (risos). Espero que cheia de energia e criatividade, ideias novas e otimismo!

Ainda que menos sombrio, A Coruja... não deixa de possuir canções baseadas em experiências pessoais. Será que veremos composições de Tiê baseadas em narrativas mais distanciadas? " Por enquanto não, mas talvez um dia consiga. A vida muda sempre tanto que não dá pra saber, né? Hoje eu gosto de compor assim porque percebi que funciono quando sou bem sincera. Mas talvez, num futuro, eu seja sincera também falando de assuntos menos pessoais." Essa capacidade de encarar com serenidade e delicadeza os desafios da carreira - e da vida, que serve de inspiração para seu trabalho - indica que podemos aguardar novos discos e apresentações entregues assim, com dedicação e amor. Vamos torcer para que se traduzam novamente em música de qualidade.

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