quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Emicida - Doozicabraba e a Revolução Silenciosa EP


O novo trabalho do rapper paulistano é de muitas formas um desdobramento natural de suas opções: com produção dos americanos K-Salaam e Beatnick, o EP é parte da evolução do Creators Project, da revista Vice e da Intel. Nesse momento, o projeto vai além das apresentações e permite aos artistas uma troca e uma possibilidade de registro (The Studio); Emicida participou do festival Coachella e na mesma viagem passou por Nova Iorque para dar andamento nas ideias e ter contato pessoal com os produtores. Dentro desse desdobramento, estão também as observações e a percepção de Emicida em relação ao próprio estágio da carreira: o que ele nos conta aqui é um retrato que vai além das afirmações e da auto confiança, demonstrando o contexto de sua caminhada, permitindo pequenas brechas em que a emoção é mais profunda e revelada com a mesma pegada que fez sua fama.

Um dos aspectos positivos da produção de K-Salaam e Beatnick é exatamente a possibilidade de criar uma coesão que se faz muito mais difícil em uma mixtape. Doozicabraba realiza com competência a transição das intenções embutidas na linguagem musical do MC: sem polidez exagerada, mas com beats e inserções equilibradas, as canções ganharam em organização e impacto. Mas o que faz do EP um registro brilhante ainda é a capacidade de Leandro Roque de transmitir um misto de construção lírica impecável nos versos sem tirar o pé na pegada e na emoção. Licença Aqui já mostra um Emicida ciente de sua posição no rap e no cenário pop nacional e as consequentes críticas decorrentes: a resposta é clara: "Tô na TV e tô na rua/numa vida igual a sua/diferença? eu trampo/eles olha/eu trampo/eles mosca". A percepção de valor alcançado pelo esforço e não apenas por benção divina ou herança se torna mais clara em Cacariacô, de bela melodia e lembrança de dias mais difíceis - realidade de milhões - em um momento de reflexão que faz ponte com a labuta como rapper. Viva é uma celebração contagiante, como um vestiário festivo após vitória complicada, mistura de orgulho e alívio. A contagiante Num é Só Ver traz um exemplo da produção competente, com pequenos detalhes que se encaixam sem estragar o flow; Zica, Vai Lá traz de volta o Emicida super confiante em canção pesada que equilibra sua visão de homem predestinado com um background de surras e tombos moldando sua obstinação. Ao mesmo tempo, reflete sobre colocar o rap no mapa de quem vive em guetos musicais elitistas. Complexa e coerente, é a demonstração de que Emicida realmente não mosca: continua disposto a evoluir. Pequenas Empresas continua em nível absurdo de expressividade, abrindo espaço para estabelecer que partindo do nada, "a meta é o mundo, ou mais."

Doozicabraba não é um trabalho definitivo, justamente por incluir segmentos e mostrar uma imagem em movimento: Emicida absorve, se adapta e recarrega suas baterias, direcionando seus versos de acordo com o momento. Mas exatamente por registrar tal capacidade, se torna um dos mais impressionantes discos do ano: musicalmente coeso e enxuto, com potencial de desnortear e surpreender com versos que passeiam por todo tipo de emoção acumulada. Se isso não te mover, você já morreu e esqueceram de te avisar. 9/10

Dá pra baixar de graça o disco no site do Creators Project; para adquirir o CD com faixa extra e tudo, acesse o site oficial do Emicida.

Emicida - Pequenas Empresas [Part. Dom Pixote e MV Bill] by eduardoyukio

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