sábado, 20 de agosto de 2011

Laura Marling - A Creature I Don't Know


Em uma entrevista recente, Laura Marling demonstrava sua admiração por Neil Young: a maneira como pessoas que o viram tocando ao vivo dez, vinte anos atrás ou mais, e continuavam a comparecer aos shows do compositor canadense impressionou Laura. A transposição generacional e a carreira longa de Neil parece cada vez menos provável - mesmo relevando a genialidade - para um artista atual. Para a jovem inglesa, que acaba de finalizar o seu terceiro álbum, o futuro parece oferecer caminhos interessantes: sua opção em distanciar seu som de modismos e apostar apenas na sua capacidade de impor letras inteligentes dentro de um policromático folk ancestral acompanhado de uma urgência juvenil a afasta de nichos indie.

A Creature I Don't Know diz respeito muito mais aos momentos febris da vida adulta de Laura do que uma reinvenção de som: as sombras do inconsciente e as emoções cruas são temas pertinentes que Laura trata com versos contorcionistas, mas nunca pernósticos ou carregados de pompa. Ao contrário, a atmosfera densa é criada com passagens afiadas levadas pelas modulações vocais da compositora. A diferença fundamental para os dois primeiros discos é que aqui Laura deixa a inocência de Alas... e o peso I Speak...para encontrar um equilíbrio que deixa o resultado final mais relaxado. A maior variedade instrumental (guitarras ásperas em The Beast, a estrutura jazzística de The Muse com seu baixo e piano presentes, a pegada alt-country de Sophia) não interfere no balanço do trabalho: mais do que canções destacadas individualmente, há sempre um sentimento de sequência que fere a compreensão de uma geração acostumada com o shuffle do Ipod, mas faz sentido para quem cresceu consumindo álbuns como filmes ou livros. Mais um ponto a favor de Marling, uma garota que nasceu nos anos 90.

Seja explorando a melancolia pastoral de Nick Drake, a intrincada e quente interpretação de outra Laura, a Nyro (em particular os trabalhos do final dos anos 70 da compositora americana) ou o anti-folk da Diane Cluck, Marling nunca permite que a facilidade em juntar clichês ou referências atrapalhe o curso de suas composições: aos 21 anos e três álbuns, a inglesinha demonstra personalidade: A Creature...pode não ser o salto para o estrelato que muitos esperam, mas é prova de confiança em seu próprio ritmo e evolução.

" Eu não estou do lado do demônio / eu não sussuro para ele / eu fico nas montanhas / e chamo as pessoas para ouvir...eu te amei, eu desejo me tornar você / e saber o que você sente" - Night After Night 8,5 / 10

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