terça-feira, 16 de novembro de 2010

Inverness - Somewhere I Can Hear My Heart Beating


Na caleidoscópica cena musical paulistana, não nos surpreendemos mais com as divisões estilísticas: de experimentadores como Babe,Terror e Península Fernandes ao hip-hop de Emicida e Rincon Sapiência, passando pelo garage-soul tropical do Garotas Suecas, o indie ensolarado do Holger, o novo rock do Cérebro Eletrônico, cantoras(es) e compositoras(es) de talento como Tiê, Tulipa Ruiz, Barbara Eugênia, Andréia Dias, Juliana Kehl, Thiago Pethit, Marcelo Jeneci, Rômulo Fróes...a lista é longa, e entre eles talvez a única semelhança seja o fato de estarem residindo em São Paulo nesse momento. Porém, a sensação é que mais gente anda produzindo bons sons nesse momento, e talvez não seja possível absorver tudo "em tempo real". Isso é bom.

Dito isso, conheça o Inverness: o quarteto está lançando seu segundo álbum. Forest Fortress, o debut, mostrava um som tão gelado quanto a cidade escocesa que dá nome ao grupo: intrincadas tramas de guitarra se aproximavam tanto quanto possível de uma melodia ao mesmo tempo bonita e onírica. Dream pop, definiriam alguns. Eis que me surpreendo ao ouvir Somewhere... pela primeira vez.

Não é apenas uma amarração das canções ou um aumento na densidade instrumental: o Inverness se agigantou de um álbum para outro; longe das sombras shoegaze para um brilho mais amplo e multidimensional. É verdade que algo dessa ambição já se desenhava em Forest Fortress, mas aqui a realização é consideravelmente mais bem-sucedida. A canção título abre esse leque: a instrumentação acústica vai hipnoticamente sendo expandida por manipulações e arranjos bastante claros, límpidos. Inside Diamonds recruta a vocalista Sabine - do ótimo Jennifer Lo-Fi- para duelar com a ambiência lisérgica á la Beach House. Na verdade, há mais do que uma levada de riffs: todo o cenário se reflete em imagens distorcidas. E essa é a grande percepção, a de que a banda agora utiliza mais habilmente as ferramentas, e não se amedronta em adicionar novos instrumentos.

Ao longo de Somewhere... somos expostos a músicas que não perdem seu verniz pop, ainda que embaladas por dimensões e andamentos justapostos (Room In Twilight), batidas eletrônicas (Watermelon Fog) ou lamentos subaquáticos (Lovesong For A Leaf). Uma audição apenas não é o suficiente para adentrar a esse universo criado pelo Inverness. Oficialmente, é rock psicodélico. A banda referência dessa geração pode ser o Animal Collective - que pode ser reconhecido, sim - mas, profundamente, as matizes utilizadas aqui vão desde Syd Barret, My Bloody Valentine á MPB dos anos setenta, Beatles e Love.

Mesmo convivendo com o disco há alguns dias, ainda encontro detalhes escondidos, como presentes deixados ao longo de uma caminhada que, de outra maneira, já seria recompensadora. Como representantes de uma nova geração que prima pela diversidade, o Inverness se mostra uma das mais completas expressões pop da atualidade. 8/10


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