Foto de Carl Heindl na reunião do G-20 no Canadá, para a revista Vice.
Dê uma olhada no mundo hoje. Realmente. Estamos todos boquiabertos de o quanto a tecnologia está promovendo mudanças. Elas estão ocorrendo mais rapidamente do que a maioria de nossos cérebros consegue processar. Ao mesmo tempo, a economia mundial parece mais um joguete tocado por investidores chapados de cocaína. Massas migratórias lançam choques culturais como socos no estômago das sociedades antes homogêneas. Pessoas se sentem oprimidas pelo cenário incerto. Políticos reacionários mostram suas carinhas sem vergonha. Mídia controlada por lobbies comerciais enterram a reputação do bom jornalismo. Protestos pipocam pelas cidades. Sem mencionar conflitos antigos se tornando mais violentos e insanos. Cenário perfeito. Pelo menos para o surgimento de gente fazendo músicas que refletem, reagem a esse cenário. Assim tem sido, desde o século passado, quando desde o blues negro pobre, o jazz dos beats, o rock contra a América careta, e a partir daí suas vertentes diversas demonstraram que toda mudança nesse planeta gerava uma onda de criatividade pop. Ou, que política e sociedade influenciavam a cultura popular de alguma forma. Muitos jovens ingleses enxergavam tristeza e raiva através de bandas que cresceram na era Thatcher de desemprego e exclusão. As coisas começaram a se tornar mais cínicas quando, nos anos noventa, o que movimentava a música eram bandas que tornavam claro que aquela geração não via inimigos, só sentia tédio e apatia. Mas, estamos em 2010. As tendências extremas de pensamento já estão se manifestando em forma de pronunciamentos racistas, agrupamentos conservadores e violência patrocinada. Sem falar no colapso econômico recente. Já é hora de isso tudo servir de combustível para gente raivosa fazer música. Mas, estranhamente, essa gente não está mostrando sua cara. Se eles existem, estão com os pés fincados em alguma forma engessada de música niilista, sem apelo ao grande público. Ou então estamos condenados a assistir o novo clipe "chocante" da Lady Gaga como sinônimo dos anos 2010. Não há mais tribos musicais porque a distribuição está democratizada; ok: é legal ver bandas bem diferentes duelando no mesmo espaço. Mas ninguém parece querer incendiar tudo só pra ver o que acontece. Nem falo de posições políticas nas letras somente, mas sim de uma demonstração em forma de som, estilo e atitude, claro que com boa dose de talento. De boas intençoes não sobrevive o pop. Por isso espero com grande expectativa o novo disco da M.I.A.: pra mim, ela é representante de alguma esperança de sangue nas veias nas paradas de sucesso. Inglesa de origem cingalesa, dissidente, agitadora, global e de linguagem acessível. Já vi muita gente criticando seu violento clipe para "Born Free". Também já falaram que ela é hipócrita, ou que sua música não é boa. Alguns desses críticos parecem simpáticos a Lady Gaga. Gostos musicais a parte, vejo um pouco desse cinismo conservador aqui: a questão é que uma figura "estranha" como Maya, de "terceiro mundo" e pele escura não pode se servir de marketing chamativo. Eu não me interesso: "Born Free" sampleia Suicide e possui letras assim: "With my nose to the ground/I found my sound...I dont wanna live for tomorrow/I push my life today". Isso te deixa preparado pra enfrentar um dia difícil. Outra nova canção, "XXXO", é o hit que as estrelas pop gostariam de fazer, grudenta e que discute as relações humanas filtradas pela tecnologia dos Smartphones. Em resumo: mais raiva, menos cinismo. Ou Fuck Gaga, M.I.A. rules!
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