Nada como um projetinho básico para uma dupla musical vivendo um hiato: album solo da vocalista: sim. Mas também providenciar a base musical de uma ópera baseada na obra de Charles Darwin, A Origem Das Espécies. Claro que só poderia ser um trabalho para o The Knife, duo sueco habituado a tramas musicais inovadoras. Depois do aclamado "Silent Shout", de 2006, Karin Andersson lançou seu album solo sob a alcunha Fever Ray em 2009, com boa recepção da crítica. Porém, o melhor ainda estaria por vir: Tomorrow, In A Year, reúne Karin e seu irmão Olof explorando ainda mais as fronteiras de seu som eletrônico. Se a idéia de ouvir uma mezzo-soprano (Kristina Momme) acompanhada por ruídos minimalistas lhe parece demasiadamente experimental, na fronteira do insuportável, então você é apenas normal. Ao ouvir a primeira faixa, "Intro" e checar se não há algum problema com seu aparelho ou seus fones, parece que a jornada por mais quinze faixas será torturante. Mas após passar por aqueles barulhinhos sem ritmo começamos a vivenciar uma jornada tão interessante quanto o trabalho de Darwin. Seguimos com intervenções operísticas eventuais, batidas descompassadas, sons da natureza, vocais fantasmagóricos, silêncios e barulhos, numa montanha russa de sons desconcertantes, porém envoltos pelo espaço, cheios de silêncios que na verdade são oscilações de uma nota, ou batida, que ecoam bem no fundo das canções. Ok, isso não é um disco da Lady Gaga, for sure. Todo esse invólucro aparentemente hermético é na verdade um convite á exploração do estranhamento, do deslumbramento diante do desconhecido. Mas não seria essa mesma a sensação de Darwin ao iniciar sua obra? Veja, uma dupla pop decidiu musicar uma obra literária mergulhando nas sensações, e não na forma. Ao contrário, The Knife deforma convençoes estilísticas em nome da fidelidade ao projeto. O resultado é ao mesmo tempo assustador, desafiador e sublime. 9/10
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