"4:20, depressão presente/ é o seguinte/ várias fita na mente." Desde que o Neto rimou e apresentou seu Síntese em 2012, o rap de São José dos Campos, interior paulista, ganhou atenção. A mixtape Sem Cortesia, um dos melhores trampos dos últimos tempos, jogou luz sobre outros nomes do Vale do Paraíba.
O MC Ingles é integrante do Distúrbio Verbal e acaba de lançar seu primeiro trampo, Nova Época. Com produção executiva do Neto, mixagem do SPVIC e beats do DJ Sleep, o disco apresenta uma convergência entre a levada veloz do rapper e a ambiência instrumental pesada nos graves, nos climas eventualmente jazzisticos e enfumaçados. As batidas são secas e diretas, e as letras envolvem um diálogo com a mente sobre situação social, elevação espiritual e busca pelo equilíbrio.
Vale notar a ligação entre Sem Cortesia, do Síntese, Delírio Lógico, do Moita e esse trampo do Ingles. Não apenas em colaborações, mas uma ligação estética e espiritual; não sei o que acontece na água de São José dos Campos , mas essas obras apresentam um exercício filosófico: visão do lado sombrio do ser humano, observação social, busca por redenção e salvação da alma. A opção instrumental é pela simplicidade, pela dureza, com alguns acenos e brechas (No Síntese, o reggae). O invólucro é rígido, o interior direto e insistente. Em Nova Época, a produção é menos suja, entretanto.
É claro que há diferenças entre eles: o Síntese engloba uma visão babilônica e tenta encontrar respostas para suas divagações, num delírio constante. Moita, por sua vez, é mais equilibrado, mas pesa mais no lado sombrio. O Ingles parece demonstrar uma abordagem menos profunda, mas isso não desmerece seu trabalho: ao contrário, é uma pensata cheia de recortes, porém com objetivos claros. É a conclusão de que a vida pesa nos ombros, uma sucessão de eventos que deixam marcas e os pensamentos decorrentes dessa conclusão. Cabe um mundo de referências dentro dessa premissa, e o Ingles discorre sobre elas com boa dinâmica.
Nova Época é um bom exercício de rap underground, do tipo que subverte a lógica de refrães no centro, optando por uma estrutura de fluxo contínuo de versos, e produção que decide pela clareza e parcimônia. O rap de SJC vai mostrando uma força interessante e desafiadora.
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