Uma coisa curiosa acontece quando Sunbather, segundo álbum dos californianos do Deafheaven, atinge aproximadamente vinte minutos de execução: a percepção do ouvinte em inadvertidamente tentar categorizar mentalmente o som que transcorreu até este momento se perde em meio a uma grande confusão sônica. Não que o grupo não possua coerência em sua proposta, mas a violenta entrega e o estilhaçamento de referências torna complicada a tarefa de estabelecer um único e generalizante rótulo. A bateria frenética e insistente e os vocais gritados (as letras não são explicitamente satanistas, mas há um certo chameguinho com o coiso) trazem o emblema do black metal que o Deafheaven carregava até então, mas a trama de guitarras se aproxima sempre da melodia shoegazer, os crescendos épicos trazem cores do pós-rock e a catarse imposta pelo andamento vertiginoso é parente do mais deslavado rock de arena e suas vicissitudes.
Então como Sunbather se sustenta como grande trabalho e não apenas uma mistura de difícil digestão? As sete composições do disco são estruturadas como partes relacionadas, takes longos de um filme onírico e estranho. A engenharia das músicas parte de uma premissa fundamental: a aparente quebra rítmica entre os estilos é pulverizada totalmente; caso típico de banda moderna, os ouvidos dos integrantes acostumados com o consumo de música em fragmentos resulta em uma experiência sônica completa e homogênea, em que as partes visíveis dos gêneros são apenas detalhes de um quadro bastante complexo, imagens que se complementam de forma indissociável.
O Deafheaven vai mais longe do que bandas
de sonoridade semelhante como Liturgy e Envy, e definitivamente não é apenas o
resultado de uma equação envolvendo metal sombrio + Mogwai + My Bloody Valentine. Sunbather é o melhor disco de música pesada do ano até agora. Também é o trabalho mais bonito/horrível a surgir nos últimos tempos. 9/10
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