segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Die Antwoord - TEN$ION


TEN$ION é apenas um inferno de batidas eletrônicas processadas juntamente com as intervenções dos MCs Ninja, Yo-Landi e DJ Hi-Tek: referências como teclados euro house, tecno barangado, hip-hop e dubstep ocupam o mesmo espaço de versos que lançam bravatas sexistas em um momento e visões ufanistas em outro, com uma velocidade desnorteante. Ok, o segundo álbum dos sul-africanos que ganharam atenção global em 2010, na cola da febre Distrito 9/Copa do Mundo expande o universo planejado pela estreia $0$, originalmente lançado em 2008 e distribuído mundialmente em uma reedição de 2010. A ideia de "Zef", uma espécie de cena local que englobaria um perfil rap/rave apocalíptico e a estratégia de viralizar os vídeos, que acabavam linkando para outros que desvendavam a história dos integrantes da banda pode ter decepcionado aqueles que acreditam em contos encantados envolvendo bandas de indie rock se formando em cortiços; o passado de Ninja aponta para um artista que transitou pelo rap local assim como em quadros humorísticos locais. Isso não deveria ser um problema de credibilidade, certo fãs de Drake?

Never Le Nkemise 1 se inicia com um coro de belas vozes para repentinamente se transformar em um monstro de clichês dubstep embora arranhe apenas a manipulação das linhas de baixo e não as batidas com suas hi hats e quebras de tempo. "Sou invencível" é o brado aqui. I Find U Freak conta com os vocais de Yo-Landi e é mais uma pedrada de bastardização eletrônica, um C+C Music Factory travesti e frases simplistas ("Jump, Muthafucka, jump!"). Fatty Boom Boom segue com o amálgama pop periférico à la M.I.A. de Arular, um fogo cruzado de ritmos e palavras de ordem. Aliás, o Die Antwoord realiza aqui uma versão mais enxuta do primeiro disco, embora demonstre de forma mais direta suas influências cruzadas e cronologicamente bizarras.

So What? traz um hip-hop mais "puro", tirando o pé do clima rave/flashback químico. Não surpreende que a sequência de faixas siga com esquetes esdrúxulas como Uncle Jimmy ("Senta no colinho do tio Jimmy"), a farofada Baby's On Fire, que podia estar em alguma coletânea da Mixmag da década passada e U Make a Ninja Wanna Fuck com seus teclados "ácidos" similar a alguma faixa do Prodigy em 1992: Parte do DNA do Die Antwoord é herdado da bagunça desordeira e da trucagem esperta de quem se entope de música e aditivos. O single Fok Julie Naaiers é exemplar: traz a tensão que dá título ao disco, soa contemporânea e agressiva: parece algo desenhado com certo cuidado até o ponto em que os integrantes se perderam entre um tirinho e outro e a deixaram daquele jeito mesmo. 

TEN$ION pode trazer essa versão distorcida da eletrônica e do rap de forma referencial, mas há tempero suficiente para tratar a música aqui como sendo produto de 2012 mesmo: entrelaçados estão os vídeos de Enter The Ninja, que fez a banda entrar no mapa em 2010, o falecido artista e DJ Leon Botha (colaborador do grupo), o contrato com a major Interscope, feito e desfeito, o fato de rimarem usando gírias locais e até dialetos, desaguando em um disco novo em um espaço temporal pequeno.O Die Antwoord  criou sua própria versão da realidade em pouco tempo e não há problema nisso quando a música é tão divertida. 7/10    

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