O aspecto político na música brasileira sempre vagou pela poesia que floreia mas não escancara, ou em relatos sociais que embutem comentários políticos. O medo de ser incorreto demais ou a vergonha de soar panfletário e infantil talvez expliquem a falta - ou escassez - de críticas ou posições deliberadamente abertas quanto á política. O Ordinária Hit lançou um EP chamado 3, em referência ao aumento do preço da passagem de ônibus em São Paulo. Esse álbum, Funcionário, foi lançado no dia do trabalhador. Não espere a groselha rock brasil 80 nem nas letras nem no som desses caras, no entanto.
Com frases curtas como intervenções, e uma sonoridade repleta de tensão, sujeira e riffs lancinantes, que operam entre o pós- punk e a no wave, Funcionário é um retrato musical da relação de trabalho e perda de humanidade. A ambientação relembra a confusão e a inconsistência dos padrões impostos, os vocais soam como ordens gerenciais; basicamente, é um dia no escritório, no que restou de não-robótico no chão de fábrica ou no carroceiro que é açoitado pelo sol e por motoristas apressados.
São onze faixas trabalhadas de forma extremamente coesa: a banda investe no equilíbrio entre o violino (sim), a guitarra, o baixo e batera, os vocais; algo de sinistro e incômodo percorre as canções, o que permite que se enxergue a grande qualidade do disco: transportando a dureza e a resistência como faces indissociáveis do labor atual, o Ordinária Hit criou a trilha sonora adequada para o endurecimento das almas. 7/10
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