Native Speaker é o primeiro disco dos canadenses do Braids, lançado bem no início do ano. Desafiando rótulos mais fáceis, a banda se apresenta como uma alternativa bastante sólida no cenário indie: ondas revivalistas, especialmente baseadas no shoegaze e/ou no rock dos anos 90 de um lado; bandas de som mais dançante que agregam elementos eletrônicos/ percussões e são "alegres" de outro. Um cenário bastante simplificado, admito, mas quase totalmente verdadeiro. Se são tentativas bem sucedidas ou não, depende da capacidade criativa das bandas. Pois então, o Braids não se encaixa: um objetivo claro desses caras: melodias sinuosas que levem á intoxicação; elementos utilizados: variados. Abusando dos efeitos em quase todos os instrumentos, as músicas são resultado de um quase infinito baú de idéias, colocadas em prática com surpreendente habilidade. Alguém pode dizer que é pop onírico, sim, mas certamente não é o usual dream pop como gênero: há mistérios demais, silêncios, construções inusitadas...
O single Lemonade é possivelmente uma das canções mais brilhantes do ano: crescendo de forma inconsciente, crava suas qualidades em seus ouvidos como Spanish Sahara, do Foals, fez no ano passado: uma música fora do padrão mas com uma quase mágica capacidade de cativar lentamente. Pode soar no início como um pós rock sombrio caminhando para o math rock e desaguando em vocais entre o vaporoso/sensual do shoegaze mas também podia ser o Yeasayer menos cabeçudo. Incrível, em uma palavra. Vale citar que a vocalista e guitarrista Raphaelle Standell-Preston é extremamente intuitiva na entrega e fundamental na equação do grupo.
Native Speaker, a música, é como Bjork em seus melhores momentos, mas não só: pode ser um exemplo de desapego da banda á estruturas convencionais, espiritualmente aproximando o Braids de qualquer nome do pop inclassificável, de Pere Ubu á The Knife. Experimentadores e aventureiros. Aqui, há a busca pelas sombras, nuances e beleza. Lammicken é uma dose pesada de um mantra narcótico: "I can't stop it" canta languidamente Raphaelle, e podemos sentir que a eletrônica moderna pode ser efetiva como parte do processo de composição, não apenas como enfeite. Same Mum encontra riffs enviezados e uma ainda mais intuitiva entrega vocal de Raphaelle, como uma tentativa de desafiar o ouvinte para depois recompensá-lo com um gancho melódico matador. Não é, definitivamente, algo que poderia sair da sua usual banda de indie rock.
No mundo da música, alguns acham que fugir de seu habitat natural é incômodo e andar em círculos é mais satisfatório e conveniente. Outros preferem se jogar em aventuras sônicas e pagar pra ver, com resultados variados. Da mesma forma, quem ouve música pode se apegar a um universo particular ou aceitar um convite mais desafiador. O Braids entrega o que não se espera, desafia o ouvinte e, no caminho, proporciona momentos bastante bonitos. 8,5/10
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