domingo, 21 de dezembro de 2014
Melhores discos de 2014 - Top 35 gringos
Pra se juntar aos 65 discos brasileiros de 2014, a lista gringa tem 35 nomes, formando um conjunto de 100 discos essenciais do ano. Check it:
1 - Swans - To Be Kind
2 - Run The Jewels - RTJ2
3 - Liars - Mess
4 - Sharon Van Etten - Are We There
5 -Freddie Gibbs & Madlib - Piñata
6 - Taylor Swift - 1989
7- Aphex Twin - Syro
8 - Behemoth - The Satanist
9 - Spoon - They Want My Soul
10 - Ratking - So It Goes
11 - Off! - Wasted Years
12 - Wu Tang Clan - A Better Tomorrow
13 - Schoolboy Q - Oxymoron
14 - D'Angelo and The Vanguard- Black Messiah
15 - Ty Segall - Manipulator
16 - Katy B - Little Red
17 - Pharoahe Monch - PTSD
18 - TV On The Radio - Seeds
19 - Chuck Ragan - Till Midnight
20 - Lana Del Rey - Ultraviolence
21 - Woods Of Desolation - As The Stars
22 - Chain and The Gang - Minimum Rock'N'Roll
23 - St. Vincent - St. Vincent
24 - Neneh Cherry - Blank Project
25 - Against Me! - Transgender Dysphoria Blues
26 - Mogwai - Rave Tapes
27 - Charli XCX - Sucker
28 - Lykke Li - I Never Learn
29 - Iceage - Plowing Into The Fields of Love
30 - Shellac - Dude Incredible
31 - Chumped - Teenage Retirement
32 - Flying Lotus - You're Dead
33 - Perfume Genius - Too Bright
34 - Gazelle Twin - Unflesh
35 - Caribou - Our Love
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
Porque Cores e Valores do Racionais é o disco do ano
Escola pública do interior há vinte anos atrás era aquela coisa: tinha o pessoal da periferia, tinha os classe média (eu me incluía nessa categoria) e tinha os boys, uns burguesinhos cujos pais deixavam de pagar um ou dois anos de ensino privado para fazer aquela viagem pra Miami. Música só na base da fita cassete ou do cd, e pra ter o que conversar, em geral, precisava curtir rock de fm. Mas em meados de 1992 um amigo não parava de cantar Fim de Semana no Parque e falar sobre um tal de Mano Brown. Aquilo era uma realidade pra ele, negro e pobre, mas esquisito pra nós. Rap era só gringo e branco, ou mesclado com rock. Racionais era só uma abstração qualquer, "música de mano". Sim, a ignorância era tremenda.
Mas tinha algo de fascinante na maneira em que o universo versado pela banda pegava forte com a molecada da periferia. "Que porra é essa?" Resolvi pedir uma gravação em cassete pra esse meu amigo. Era Raio-X do Brasil. Foi o primeiro disco de rap nacional que eu ouvi inteiro, e aos poucos passei a curtir: não era apenas a música, mas o fato de ouvir uma banda que parecia "perigosa", diferente do ambiente branco do rock grunge. Pra um moleque de catorze anos, era impressionante: uma banda que falava sobre coisas com as quais tinha contato, de uma forma poderosa, com um som fera (e incomum, pra quem ouvia mais guitarras). E eram caras que pareciam brotar do underground, com um tipo de imagem que eu não via correspondente no Brasil: só as bandas punk gringas (só fui conhecer o Cólera mais tarde) tinham aquele ar ameaçador. No entanto, Racionais era brasileiro, contemporâneo e real.
Pulando vinte e poucos anos pra frente: a gurizada hoje está exposta a centenas de milhares de sons, de todos os gêneros. Eles compõem sua preferência musical de forma não linear: música é acessível, e barreiras de gênero são exterminadas. Nesse contexto, o rap deixa de ser tão estranho e segregado. Racionais é, para o bem ou para o mal, mito e história.
Lançar um disco com doze anos de janela gera uma expectativa monstra no público, ávido e acostumado com a rapidez de lançamentos na internet. E Cores e Valores, diante de um ambiente mais receptivo ao hip hop, poderia ser apenas mais um lançamento de peso, para um público mais heterogêneo. Um trabalho devidamente bajulado pelos deslumbrados que não enganam e ainda vêem o grupo como um elemento pouco familiar. No balanço das coisas, apenas um disco de rap nacional de uma banda importante. Poderia, mas não é. Cores e Valores representa uma imersão tão profunda nas feridas sociais quanto Raio-X do Brasil ou Nada Como um Dia...,assim como uma forma de se posicionar naturalmente como cronistas do cotidiano atual. Musicalmente, é atual e audacioso.
Não há espaço para repetições de fórmula, ao contrário: das batidas ao approach das levadas, das letras sintetizadas ao estilo de produção, Cores e Valores apresenta um rap contemporâneo. Não é uma tentativa de se apropriar da linguagem dos rappers mais jovens, ou uma tentativa de falar mais diretamente com um público menos maduro. Quando KL Jay convida outros produtores pra fazer os beats, está buscando inspiração e evolução; quando Mano Brown dispara versos curtos como rajadas nas primeiras canções, está recalibrando sua dialética; quando Edi Rock elabora memórias ficcionais ou reais, está exercitando sua experiência; Ice Blue soa mais rascante do que nunca, botando banca sobre qualquer assunto.
O resultado dessa força de expressão artística é exatamente um disco sem gorduras, duro e real, aberto a dialogar com o público seja no arranhar do trap, seja ao propor canções curtas como suítes emendadas, sem respiro. Velhos brincando de ameaçadores? Não, apenas um grupo se preocupando em manter sua contemporaneidade ao lançar mão daquilo que já sabem, e daquilo que ainda podem aprender. O Brasil de 2014 não é nem de longe o de 1992. Mas isso não diminui o olhar crítico, o mal estar com a violência policial ou com os arrombados desrespeitosos. Cabem e convivem beats soturnos, um Cassiano remendado, um Roy Ayers sampleado, trap.
"Pelas marginais os pretos agem como reis/Gostar de nós tanto faz tanto fez/Me degradar pra agradar vocês (nunca)" Mano Brown dá a letra logo na primeira faixa. Entre "Vamos fugir desse lugar, baby.../Eu posso ser seu escudo" em Eu Te Proponho, a última música, temos o consumo e a relação de pertencimento social de Eu Compro, dois grandes momentos de Edi Rock, (a crônica gangsta de A Escolha Que Eu Fiz e o relato dos acontecimentos da Virada Cultural de 2007 em A Praça), a afirmação negra de Você Me Deve ("Nova era/os preto tem que chegar"). É bastante coisa, disparada sem perder uma boa essência. Ao contrário, é exatamente essa veloz construção de ideias que impressiona e dá alma ao disco.
Cores e Valores é atordoante. Em 2014, nenhum outro disco brasileiro foi capaz de intoxicar o ouvinte com suas letras ou seu ambiente pesado. Com sua música sinuosa, feroz e dinâmica. A sensação é que o rap praticado no disco ainda é desconfortável pra maioria daqueles que agora o cobrem de elogios, mas no fundo preferem manter distância segura. Por mais que ganhem espaço, que recebam glórias, quem pratica o rap sabe que nunca será aceito plenamente. Mais do que um resmungo juvenil de não aceitação, essa realidade inflama a criação, e mantém a guarda elevada. Ainda é música de excluído. O Racionais entende essa realidade, e a desmembra em pouco mais de trinta minutos de tensão. Continuam sendo perigosos e ameaçadores, uma vitória em uma época de relativizações e cinismo perenes.
sábado, 6 de dezembro de 2014
Ogi retorna com "Trindade"
E o Ogi retornou com vídeo para o som novíssimo Trindade (Parte 2). Um dos trampos mais aguardados de 2015 é o sucessor do clássico Crônicas da Cidade Cinza, e o vídeo dá pista de que Rá (título do novo disco) será mais uma pedrada.
Com beats do produtor Nave, que manteve aqui a pegada sujona do trampo anterior do MC, Ogi volta a encarnar diversos personagens em uma trama urbana. A sucessão de versos entonados da perspectiva de tipos humanos variados em gênero e atitude não embolam a narrativa, apenas a tornam mais rica. Ogi mais uma vez cria cenários sendo não apenas um expectador, mas parte viva das tramas, ao mesmo tempo realçando a ação das personagens e a condução da estória. É como se os detalhes fragmentados conjuntamente formassem o escopo total da obra, e o ouvinte só percebe isso quando já está totalmente impregnado pela crônica.
Essa é parte 2 da trilogia que só vai ser totalmente desvendada nos próximos meses. A animação que acompanha a música é espertíssima, mantendo o espírito debochado. Ficou por conta da Casa Sinlogo.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
Melhores discos brasileiros de 2014 - Top 65
Um ano que oferece novos discos de Racionais e Criolo não pode ser ruim. E 2014 ofereceu muito mais, num leque que abrange diversos gêneros diferentes. Até alocamos quinze posições adicionais na lista para embarcar discos que merecem a sua audição. Do experimental ao rock, do rap ao hardcore, da eletrônica ao samba. Eis um apanhado do melhor da música brasileira no ano:
- Racionais MCs – Cores & Valores review
- Juçara Marçal – Encarnado review
- Hierofante Púrpura - A Sutil Arte... review
- Criolo - Convoque Seu Buda review
- Silva – Vista Pro Mar
- Holger – Holger
- Lurdez da Luz – Gana Pelo Bang
- Russo Passapusso – Paraíso da Miragem
- Banda do Mar – Banda do Mar
- Motim – Motim mixtape
- Inquérito – Corpo e Alma
- Tuty – O.H.Q.C.F. EP
- Séculos Apaixonados – Roupa Linda, Figura Fantasmagórica
- Tiê – Esmeraldas review
- Lucas Santtana – Sobre Noites e Dias
- Rashid e Kamau – Seis Sons EP
- Sono TWS – Mocado
- BellaDonna – A Flor da Pele
- ruido/mm – Rasura
- Testemolde – Testemolde
- Projetonave feat. CESRV – Mixtape
- Moita – Delírio Lógico
- Gasper – A Cor do Futuro
- Ratos de Porão – Século Sinistro
- Natália Matos – Natália Matos review
- Alessandra Leão – Pedra de Sal EP
- Castelan – Uma Data
- Rincon Sapiência – Sp Gueto Br EP
- Cadu Tenório – Vozes
- Leandro Lehart – Sambadelik
- Costa Gold – Posfácio
- Huey – Ace
- O Satânico Dr Mao e os Espiões Secretos – Contra os Coxinhas...
- Pearl Negras – Nossa Gang
- M. Takara – Mundotigre
- Rael – Diversoficando EP
- Amiri – Antes e Depois
- Kovtun – Sleepwalkin Land
- Jupiterian – Archaic EP
- Aurora – Aurora
- Fillipe Queiroz – Sinergia EP
- Lupe de Lupe – Quarup
- Adriano Cintra – Animal
- Saulo Duarte – Quente
- Tom Zé – Vira Lata na Via Láctea
- Wzy – Meu Ponto de Vista
- Thiago Pethit – Rock’n’Roll Sugar Darling
- Graveola – Vozes Invisíveis
- Xará – Nós Somos a Crise
- Carne Doce – Carne Doce
- Camera – Mountain Tops
- Aláfia – Aláfia
- Issar – Todo Calor
- seixlacK - Seu Lugar é o Cemitério
- Bacantes – Bacantes EP
- Orgasmo de Porco - Useless
- Tássia Reis – Tássia Reis EP
- 2faces – Noema
- Far From Alaska - modeHuman
- Hierofante - Meditation Music I
- Gauche - Teatro de Serafins
- Jaloo - Insight EP
- Ian Ramil -IAN
- Maurício Pereira - Pra Onde Que Eu Tava Indo
- Dry - Enjoy The Fall
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