Um dos magos que formam o
Supercordas, Bonifrate retorna com seu novo disco solo, “Museu de Arte Moderna”. Depois da
imersão folk-country-rock-distorção de seu segundo, “Um Futuro Inteiro” (2011), MAM apresenta uma variedade rítmica e
leveza maiores, embora tenhamos ainda aquilo que os LPs (ou álbuns, como
queiram) devem possuir como elemento agregador: sentido, coerência, inter-relação.
Se o disco anterior se relacionava como um filme poético adulto, o novo
trabalho remete mais a uma audição de fita cassete de música boa enquanto
vivemos uma espécie de turbulência emocional juvenil.
Talvez seja apenas meu lado nostálgico adolescente
falando, mas a audição de MAM me trouxe definitivamente uma espécie de sensação
bastante peculiar de quando o rock de guitarras psicodélicas, arranjos bem
feitos e melodias bonitas significavam tempestade interior amainada pela música.
Para que a análise não se torne apenas um choramingo, é importante ressaltar
que as canções são excelentes. Não importa que pra você o título da faixa “Eu não vejo Teenage Fanclub nos teus olhos”
não faça tanto sentido: o pop redondo guitarrístico e de construção perfeita é
o suficiente. Fica ainda melhor com contexto: o personagem da música não
encontra o brilho e a essência amorosa que a turma de Gerard Love, Norman Blake
e Raymond McGinley produz no seu interesse afetivo.
A leveza com que as faixas vão se
sucedendo é um trunfo permanente: fica claro que o ambiente é de cenários
desfocados e leve fritura cerebral, mas o convívio tranquilo de uma party
jamaicana em “Horizonte Mudo”, imersão
de chá em Revoluções (batera lá em cima, teclados), baladas ao piano como “Soneto Estrambótico”, instrumentais violeiras
(Guianá Mainline) e demais
modalidades de exercício da música além da consciência mostram que MAM é
realmente um disco pra ser absorvido. A combinação de composições muito boas
com uma direção bastante clara permitiu a Bonifrate exercer um trabalho mais
leve que seu anterior, sem perder em nada da substância e experimentação. 8/10
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