domingo, 31 de março de 2013

King Tubby, cientista e maluco.


Pode um sujeito descobrir formas diferentes de engenharia sonora enquanto repara equipamentos eletrônicos? E começar toda uma nova etapa em criação de gêneros musicais? Tudo isso na Jamaica dos anos 60? Sim, e esse cara existiu de verdade, o nome dele era Osbourne Ruddock, mais conhecido como King Tubby.
A chave pra entender como ele foi um pioneiro genial é sacar o lance todo das Sound Systems: Nos bairros mais pobres de Kingston, na década de 50, músicos e Djs juntavam toda uma tralha de equipamentos em um caminhão e saíam tocando principalmente o rhythm and blues americano. Era uma forma de ganhar uma grana, já que era cobrado um valor para que a galera dançasse em volta de um caminhão de som potente. Com o passar do tempo, a música começou a tomar formas mais locais, e o sucesso das sound systems levou mais gente a montar as suas próprias. Elas se tornavam mais customizadas e havia competição e rivalidade, tudo em torno de festas regadas a música tocada muito alta.
King Tubby consertava rádios e logo começou a ser chamado por donos de sound systems para reparar danos causados por chuvas, desgastes naturais e sabotagens de rivais. Aqui começa a saga: logo Tubby começou a montar amplificadores mais potentes, usando seu conhecimento de reparos em equipamentos como rádios e tvs. Como um autodidata super curioso, criou até mesmo uma estação de transmissão de rádio pirata, que funcionou até que a polícia local começou a caçar o responsável pelas transmissões. Ele tocava ska e ryhthm and blues. Inevitavelmente, King Tubby acabou montando sua própria sound system, a Tubby’s Hometown Hi Fi, que se tornou famosa pela qualidade de som e pelos efeitos.
No final da década de 60, ele foi chamado por Duke Reid (um pioneiro das sound systems), dono da gravadora Treasure Islands, para trabalhar em canções e tranformá-las em versões instrumentais. Tubby poderia simplesmente utilizar a mesa de mixagem de Reid para remover os vocais das músicas, mas percebeu que a coisa podia ser mais divertida: dava pra mexer com toda a estrutura dos instrumentos utilizando a configuração da mixagem, criando efeitos e “bagunçando” a faixa a ponto de alterar a canção original.
Com todo o conhecimento acumulado, King Tubby montou seu próprio estúdio. A genialidade do jamaicano o levou a customizar e adaptar os equipamentos disponíveis na época, ao mesmo tempo em que criava novas ferramentas tecnológicas: em sua mesa de  mixagem ele passou a recriar músicas, utilizando a técnica de dar ênfase em determinados instrumentos, retirar e realocar os vocais, e utilizar efeitos como ecos. Ele praticamente usava a mesa de mixagem como instrumento, recriando músicas a partir das fitas originais.
Tubby trabalhou como engenheiro de som para quase toda a nata de músicos e produtores jamaicanos da época, como Augustus Pablo, Lee Scratch Perry, Bunny Lee, Prince Jammy entre outros. Sua combinação de amor pela música e talento como engenheiro/construtor/inventor, aliados à filosofia faça você mesmo, o levou a ser reconhecido até hoje como um pioneiro: da remixagem, do dub, e por consequência de quase tudo que se faz com eletrônica. E, para além disso, uma inspiração para fãs e artistas pelo mundo.
King Tubby morreu assassinado em 6 de fevereiro de 1989, numa suposta tentativa de assalto.

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