segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Lívia Cruz: Transformando poemas, espalhando amor e combate


Lívia Cruz, cantora e MC (São Paulo via DF via Rio via Recife) já trabalhou com nomes importantes como Kl Jay e Costa a Costa, além de ter lançado uma elogiada Promo. Em 2012,  Lívia tem trabalhado em seu primeiro álbum (Muito Mais Amor), e já liberou o clipe de Não Foi em Vão, que vem gerando boa repercussão. Uma criação livre sobre o poema Legítima Defesa, de Elizandra Souza, a ótima canção possui produção de DJ Caíque. Demonstrando grande habilidade para tocar em questões agressivas por meio de nuances na voz e no flow, Lívia evita o simples lamento, apostando em uma ação assertiva de justiça na questão da violência contra as mulheres. Há beleza em Não foi em Vão, do tipo que surge mesmo quando o contexto é pesado e triste. Conversamos com ela sobre a canção, o clipe e o papel da imprensa no rap:

* Como surgiu a ideia de transformar o poema da Elizandra em canção?

Assim que eu li o poema pela primeira vez me comoveu muito, até eu escrever a musica se passaram meses, mas o poema me marcou demais e em uma noite de inspiração escrevi “Não foi em Vão”.

* A música adota um tom melancólico no início mas ganha contorno mais combativo no fim. Essa postura de indicar uma realidade sem o clichê da vitimização foi uma escolha consciente?

Otima pergunta! Foi totalmente consciente, tive bastante preocupação também que o conteúdo não ficasse “didático”, pois acho que esse é um dos fatores que afastam as pessoas de encarar essa triste realidade. Sempre que esse assunto é abordado causa vergonha e constrangimento, tanto nos que já viveram uma situação dessa natureza, quanto naqueles que vêem de fora. Minha intenção principal era de que as pessoas se identificassem de qualquer classe, cor ou gênero, mostrar que somos capazes de tomar as rédeas das nossas próprias vidas, não importa o tempo que demore, não importa o quanto nos submetemos a situações humilhantes, sempre é tempo de se transformar para o bem, por fim alfinetar a sociedade, no sentido de mandar uma mensagem radical: Queremos justiça!!

* O videoclipe mostra bem essa transição, da tristeza e decepção ao estado de reação e recuperação da autoestima através de imagens em que você demonstra domínio da linguagem visual. O quanto vc se envolve na produção dos clipes?

No caso de “Não Foi em Vão” o clipe veio pra complementar a música, sem aquelas imagens acredito que a mensagem não teria sido tão bem passada, Isso é mérito da diretora Alice Riff e do seu irmão Fabio Riff que criaram o clima perfeito, levaram uma equipe excelente pra realizar o trabalho. Eu criei o conceito junto com a Alice uma semana antes da filmagem, eu nem tinha gravado a faixa ainda, mas ela é uma pessoa tão apaixonada e focada que eu gravei na mesma semana pra que a gente pudesse gravar o vídeo. Acho que a maioria dos artistas quando compõe uma musica nova já imagina imagens, um clima e até mesmo um roteiro de clipe. “Não Foi em Vão” é o meu segundo vídeo oficial, antes teve “Vem pra perto de mim” do Diretor Rabu Gonzales, e pretendo lançar mais um ainda esse ano, eu gosto de todo esse processo de criação, de produção e espero estar cada vez mais envolvida na produção em todos os aspectos.

* Me parece que a grande mídia descobriu a produção do rap apenas mais recentemente; parte dessa "surpresa" é a presença de mulheres compondo, o que levou a matérias equivocadas, seja na aglutinação simplista de artistas diferentes ou na argumentação de que garotas criam música menos combativa. Concorda com isso? Se sim, como voce vê essa situação?

Eu concordo em parte, acho que a grande mídia sempre se atraiu pelo RAP, mas acho que o RAP só quis lidar com isso mais recentemente, exatamente pelo caráter combativo que o RAP tem (e sempre terá). Antes tínhamos uma postura mais retraída, essas matéria equivocadas são uma das razões da desconfiança do RAP com relação as mídias de massa. Acho que o objetivo puro e simples desses comunicadores é enfraquecer o RAP, torná-lo algo comum e sem valor. Não acho que o caminho seja dizer não a mídia, mas sim sempre lembrar que quem não se posiciona é posicionado.


Elizandra Souza é poeta e jornalista. Atuante no hip-hop, nos direitos da população negra e das mulheres, desde 2004 é poeta da Cooperifa (Cooperativa dos Artistas da Periferia). Editora da Agenda Cultural da Periferia, Elizandra lançará seu livro Águas da Cabaça no próximo dia 26 de outubro, com direito a pocket-show da Lívia Cruz. Mais detalhes abaixo:

Lançamento do livro de poemas de Elizandra Souza
Dia: 26 de outubro
Horário: 19h às 22h
Local: Espaço Periferia no Centro - Rua General Jardim, 660 - Vila Buarque
Quanto $: só colar





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