quinta-feira, 26 de abril de 2012

Nite Jewel - One Second of Love


Em algum momento durante She's Always Watching You, uma das faixas do segundo álbum do Nite Jewel, percebemos que a atmosfera é consideravelmente mais ampla do que em Good Evening, estreia de 2009. Ramona Gonzalez, aka Nite Jewel gravou seu primeiro disco em uma velha 8-track, registrando em cassete seu pop eletrônico amarrado em new wave, glam-rock e R&B .Na canção de seu segundo álbum (One Second of Love) citada acima, a produção é cristalina, permitindo que a voz da cantora se torne um referencial até então impensável, considerando a abafada sonoridade lo-fi de seu trabalho anterior. Entre beats marcantes e espaçamento de intervenções, She's always...é um R&B robusto, uma amplificação brutal da massa analógica que rendeu à Ramona elogios em 2009. This Story abre o disco com uma balada saída de algum lugar de 1985, como uma playlist de FM em programação da madrugada: lenta e pouco sutil, sintetizadores construindo caminho para os vocais agora bem destacados da compositora. 

Se Good Evening funcionava como um mosaico de pequenos pedaços de história entrelaçados, sinalizando uma sequência lógica e quase inseparável entre as canções, One Second of Love abraça as influências usuais mas as estilhaça e expõem a capacidade criativa de Ramona em lidar com certa multiplicidade sônica sem afetar sua qualidade. São álbuns diametralmente opostos na abordagem de construção e produção, embora utilizem de matéria-prima similar. Uma das muitas e saudáveis idiossincrasias do pop atual. A canção que nomeia o disco é um kraut-electro-funk que constrói sua potencialidade pop através de um refrão efetivo e versos que criam a tensão. Aliás, as letras muito mais discerníveis são um trunfo aqui: elas fazem um trabalho que talvez a boa inflexão da forte voz da californiana não fosse capaz de realizar sozinha. Seja nos lamentos românticos do electro-pop oitentista In The Dark ou na sensualidade da sinuosa e de inspiração Kate Bushiana Unearthly Delights, há um evidente ganho ao encaixar versos simples porém vigorosos em melodias bem delineadas.

No I Don't ocupa o terreno dos espaços propagados por gente como James Blake com uma aproximação mais clara com a eletrônica atual; em compensação, Autograph é puro R&B noventista, com resultado menos empolgante. Junto com a anêmica Mind and Eyes, formam os momentos mais fracos do álbum. O final se equilibra com Clive, levada quase que apenas por sintetizadores e voz criando um clima de camadas frias e quentes se revezando e Sister, de guitarras vaporosas. A sonoridade mais clara traz qualidades ao disco como o equilíbrio entre canções de levadas distintas, a bela voz de Ramona Gonzalez, a possibilidade de explorar maior variedade; por outro lado, há algumas aproximações com o pop mais estilizado que resvalam no pastiche, algo que Good Evening evitava ao trabalhar em uma sintonia mais curta. De qualquer forma, após alguns EPs que serviram para preparar e amadurecer certas ideias, Nite Jewel não se acomodou e, apesar de longe da perfeição, One Second of Love merece atenção. 7/10   
      

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