sexta-feira, 13 de abril de 2012

Some Community - underconstruction


Quase dois anos se passaram entre o lançamento de RinoRino, EP de estreia do quinteto paulistano Some Community, e seu sucessor, o novíssimo underconstruction. O tempo parece ter funcionado para a banda agregar novos ingredientes em sua sonoridade sem desfazer a impressão positiva deixada pelo trabalho anterior. Em RinoRino os ganchos melódicos e os ataques de guitarra eram elementos importantes, mas já existia espaço para aproximações com estruturas mais trabalhadas. Não faltavam o ar de empolgação e certo desapego necessários para bandas jovens, mas era possível vislumbrar um futuro ainda mais interessante.

Em underconstruction, as cinco faixas formam uma combinação mais próxima e coesa, como um mini-álbum deve ser: tanto nos climas quanto na sequência escolhida, o disquinho flui mais facilmente.A música de abertura, 73, possui uma introdução puxada para um clima pós-punk oitentista sombrio, mas se transforma em uma espécie de Blondie rejuvenescido, toda costurada entre o dançante e o agressivo. Um cartão de visitas de habilidades aprimoradas e curiosidade intacta. Fine Hour, levada por piano e arranjos delicados, demonstra andamento não-linear e construção que alimenta um nível de aproximação emocional com a narrativa; interessante notar que a relação de racionalidade na execução e produção não atrapalha na dinâmica ou engessa certos movimentos. At Her Light é uma continuação perfeita, moldando o que a banda representa hoje: o entrosamento traz uma bela medida de contenção, em que o efeito pop imediato é descartado por uma profundidade melódica conquistada por uma evidente elevação do nível de habilidade do grupo: a vocalista Juliana canta com energia já conhecida, mas seu controle e intuição são agora um grande trunfo, trazendo mais camadas e maior alcance, da mesma maneira em que o instrumental alterna uma base bem constituída porém recheada de nuances. 

O clima de cabaré decadente de Tango's Derby é mais uma boa surpresa: a canção não percorre caminhos óbvios, desafiando o ouvinte. Ironicamente, é a única em que uma intervenção mais barulhenta de guitarra - mais comum em RinoRino - surge, mesmo assim em um contexto cinemático, de criação imagética e não de simples catarse. Head and Tail encerra o disco encontrando o Some Community do pop poderoso dialogando com uma versão mais complexa e adulta: um hit pronto de andamento lento, que evita clichês: talvez esteja aí o work-in-progress referenciado no título do EP.

Que essa banda esteja caminhando com as próprias pernas em busca de um constante desafio às próprias referências é uma boa notícia: mais fácil seria praticar um simulacro de indie-rock gringo e se contentar com tapinhas nas costas em festas fechadas. Mas essa garotada prefere absorver as influências e se divertir. É exatamente o que se espera do sangue novo no pedaço. 8/10  
                


Baixe o disco no site oficial da banda.

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