terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Entrevista: Vincent Moon

Take away show do Holger. Foto Renata Chebel

O parisiense Vincent Moon entendeu cedo que a música poderia ser filmada de maneira menos plástica e artificial como em um vídeo publicitário. A idéia de gravar bandas em locações menos herméticas e aproveitar o ambiente urbano para interagir e criar experiências únicas ganharam o nome de Take Away Show, inicialmente postados no site La Blogoteque. Em parceria com Chryde, muitas bandas foram gravadas em diferentes pontos de Paris, principalmente. Isso começou em 2006.

Rapidamente, os vídeos ganharam adeptos, a ponto de Michael Stipe solicitar um pequeno projeto envolvendo o REM. Vincent passou a viajar mais, e também trabalhou em documentários - na verdade, faturou o prêmio do Festival de Copenhague em 2009 por La Faute Des Fleurs. Com as constantes viagens, o cineasta passou a expandir suas próprias ambições: decidiu tornar a vida nômade uma opção, visitando muitos países e gravando artistas em seus próprios cenários.

Disponibilizados em seu próprio site ou no já citado Blogoteque, estão centenas de gravações preciosas: não só por retratar a música de forma crua e realista na captura, mas também por aproximar a relação entre os músicos e ouvintes, entre o cenário imóvel do concreto e o imprevisível das ações humanas. Como uma espécie de versão jovem do grande diretor inglês Mike Leigh, Moon acredita ser possível encontrar o extraordinário na aparente normalidade. Leigh dizia ter o controle estilístico de seus trabalhos, mas "estilo não se torna um substituto para a verdade e a realidade"; a busca pela emoção contida nas vidas "reais"de seus personagens nunca ultrapassou o limite dos pequenos espaços, ou uma opção pelo hollywoodiano "desfecho moral". Se existe alguém documentando música e buscando a beleza no ordinário e no imperfeito, esse alguém é Vincent Moon.

No final de 2010, Moon desembarcou no Brasil para uma temporada. Em São Paulo, filmou Dona Inah, Jose Domingos, Tom Zé, Thiago Pethit, Holger e M Takara. Nesse momento, já está no Rio, onde filma Jards Macalé e outros. Em breve teremos acesso ao resultado dessas filmagens: enquanto isso, batemos um papo com o cara sobre seu trabalho, indie rock, seu novo selo e São Paulo:

Como você planeja suas viagens e escolhe os artistas que serão filmados?

Eu escolho os artistas "no local" de certa forma. Costumo gastar mais e mais tempo em um lugar, pesquisando música antes de decidir quem eu irei filmar. Também faço longas listas de música local antes de desembarcar em um país: perguntando ás pessoas, por e-mails, procurando na internet...Isso me consome bastante tempo. De certa forma é um processo lento encontrar boa música que me entusiasme a filmar.

Me parece que toda a vibração, arquitetura e pessoas de uma cidade são tão importantes quanto os artistas em seus filmes. É uma impressão correta?

Claro. Eu não faço filmes pelos filmes, mas pelo "fazer", então espero que nos meus filmes, obviamente o ambiente seja tão importante quanto o objeto central.

Você esteve em São Paulo recentemente. Ouvi você mencionar algo sobre a caótica arquitetura da cidade. O que mais pode dizer sobre o lugar?

Eu amo SP. É muito especial para o meu coração.Há tantas razões para odiar esse lugar que isso o torna muito interessante. (A cidade) tem sido construída sem muita percepção de evolução, me parece, e a localização geográfica a faz incontrolável - o oposto do Rio. Isso faz da cidade muito progressista em sua mentalidade, enquanto que o cenário no Rio faz a cidade ser muito conservadora. São Paulo está em constante movimento, é um mistério a cada dia, a beleza dela é discreta e oculta. Acho que isso é o que devemos almejar: razões complexas para amar.

No início, você era bastante conectado á cena de indie-rock, mas agora há muito mais diversidade nos seus filmes. Isso foi uma decisão sua ou apenas consequência natural das viagens pelo mundo?

É consciente e natural, eu estava bastante cansado da cena indie, me parecia muito fechada em si mesma , ainda que se clamasse o oposto - a questão sendo: como as pessoas recriam cenas, comunidades, em qualquer lugar, sob quaisquer cirscunstâncias, para o bem e para o mal, especialmente em uma era de relacionamentos digitais. então sim, eu queria aprender mais sobre o mundo e decidi sair de Paris, encontrar diferentes culturas, e me desafiar todos os dias ao viver na estrada e sem muita grana. É uma experiência muito excitante, e eu estou lançando em um mais ou menos um mês meu selo, Petites Planetes, que espero vá refletir tudo isso.

Curta aí duas belas apresentações: os islandeses do Sigur Ros em uma cafeteria minúscula e o chileno Fernando Milagros em Valparaíso:




Take Away Show #103 _ FERNANDO MILAGROS (part 1) from Vincent Moon / petites planetes on Vimeo.

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