É certo que não há fórmula para equilibrar a aceitação do público e da crítica. Tiê surgiu com um intimista e delicado primeiro disco (Sweet Jardim, de 2009) e criou um segundo disco mais ensolarado (A Coruja e o Coração, 2011), que ampliou seu público mas alienou quem esperava mais da melancolia do debut. Seu novo álbum, Esmeraldas, parece não apenas equilibrar os elementos, mas expandi-los de forma segura e robusta.
Em canções como Gold Fish o desenho que começa minimalista e se expande através de arranjos bem escolhidos se torna multifacetado, abandonando de certa forma uma simplicidade econômica de outrora. É um cartão de visitas para uma sonoridade mais emaranhada. A faixa-título tem uma ambiência Clube da Esquina de cordas com um acento folk; um som mais cheio mas sem possíveis rebarbas - aqui a produção permite apenas o suficiente, sem sufocar a base das composições.
O rock veloz e limpo de Par de Ases e Mínimo Maravilhoso acena para uma dinâmica que aceita a simplicidade mas não se limita a um escopo curto: há espaço para pequenos arroubos de ritmo diferente do habitual. Certo também é que a voz de Tiê acompanha essa atmosfera: a compositora explora mais o campo da melodia, sem no entanto deixar a suavidade, com bons resultados. Urso é um pop moderno e galopante, e Isqueiro Azul remete à uma sutileza à la Sweet Jardim, mas com um som mais expansivo.
Nas letras Tiê não abandona suas observações sobre amor, relacionamentos e cotidiano; mas em Esmeraldas, há maior inventividade nas escolhas das palavras. Seja brincando com a sonoridade delas em Urso, projetando cenários da vida casual em Máquina de Lavar ou discutindo a privacidade em All Around You (com participação de David Byrne) , o universo lírico também ganhou mais corpo.
Esmeraldas oferece escolhas melódicas diversificadas, arranjos bem conduzidos e uma roupagem que acompanha o universo pop atual. Tiê conseguiu fazer um disco com identidade bem definida, ao mesmo tempo em que busca caminhos diferentes. 8/10
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