O segundo disco de Bárbara Eugênia, É o Que Temos, já é um dos belos lançamentos brazucas em 2013. Destrinchamos o trabalho da compositora com uma resenha e um bate papo, que você lê abaixo:
segunda-feira, 29 de abril de 2013
segunda-feira, 1 de abril de 2013
A " Nova Nova São Paulo" do N.Y. Times - I beg to differ
Há alguns dias, o jornal The New York Times publicou em sua edição online, na editoria de turismo, uma reportagem sobre a capital paulista. Nenhuma grande surpresa, uma vez que o Brasil já vem sendo constantemente visitado por jornalistas por conta de sua posição política e econômica, além de estar prestes a sediar grandes eventos esportivos. O foco parece ter sido o de transformações urbanas e sociais e seu resultado na cultura - como ela é produzida, consumida - e como isso pode agradar ao turista.
Bem, me sinto na obrigação de discordar de quase tudo que a reportagem trouxe: minha sensação é de que Simon Romero, o jornalista que assina o artigo, deve ter embarcado em uma viagem dirigida e bem pouco ousada. O ponto de partida continua sendo o baixo Augusta e seus empreendedores, que Simon acredita serem os responsáveis pela renovação da área. Chama a atenção o fato de que a retomada de um ponto anteriormente deteriorado não tenha sido uma conquista de ocupação popular, mas de empresários progressistas: a cara de São Paulo. A velha São Paulo.
Apesar de citar a ascensão da classe C, o artigo não vai além, mas apenas utiliza o artifício de conjugar elementos como "a cidade absorve uma nova onda de imigrantes de países em desenvolvimento como Bolívia, Colômbia e Nigéria e países em crise: Portugal e Espanha." Isso está inserido em um parágrafo que tem por objetivo colocar São Paulo como uma megalópole efervescente, eclética. Não é preciso esforço para identificar os imigrantes de países pobres como os novos nordestinos: esquecidos quanto à sua cultura, lembrados para trabalhos ilegais e discriminados nas ruas. Eles não são convidados das festas fechadas.
O pior mesmo está mais adiante: quando o resultado dessa suposta "dinâmica progressista" reflete a música que se faz em São Paulo hoje. O repórter em nenhum momento sai do eixo Jardins-Centro e de seus empresários da noite, portanto sua pesquisa não vai muito além do que o Studio SP representa. Há um equívoco quando cita Criolo como fruto da plataforma de lançamento do Baixo Augusta, e a ausência total de referências ao hip-hop, tão forte criativamente na cidade, ou mesmo o funk onipresente na periferia. A entrevistada foi a cantora-compositora carioca Bárbara Eugênia. Fique registrado que o blog adora o trabalho da Bárbara, além de reconhecer nela uma figura "flutuante" num mar opressivo de troca de favores da nova MPB paulista. Por isso mesmo estranhei a declaração citada no texto.
Bárbara explica a diferença entre Rio e São Paulo ao dizer que "o Rio é mais fechado que São Paulo em termos de experimentação com outros estilos musicais." Pensei assim: Bárbara está por aqui já há vários anos e talvez sua opinião reflita um tempo passado ou; sim, parte da música carioca possui uma "tradição" de abraçar ícones e se arrastar carregando uma imagem anacrônica. Mas se nomes como Dorgas, Negro Léo, Victim! e até mesmo o rock lisérgico do Supercordas não apresentam um ouvido especial para experimentar maior do que a neo-MPB paulista, devo estar ouvindo as bandas erradas. Entrei em contato com a talentosa cantora explicando a situação que encontrei e acho que o rumo do que ela disse ficou bem mais adequado:
"Não disse que o Rio é mais fechado, disse que no Rio tem menos mistura. SP tem mais gente de tudo quanto é lugar e isso possibilita e facilita essa troca."
"Não disse que o Rio é mais fechado, disse que no Rio tem menos mistura. SP tem mais gente de tudo quanto é lugar e isso possibilita e facilita essa troca."
A programação musical oferecida no pedaço da cidade que o NY Times descobriu agora é bastante repetitiva: mesmos nomes tocando em intervalos regulares ou com suas outras bandas: as de covers. O que fecha a conta é a soma de "tributos á música brasileira", que traz dinheiro para os progressistas empresários. Pensar a criação e distribuição de música de forma segregada, com pouca articulação para a arte e muita para o lucro: a cara da velha São Paulo. Alguém aí pensou no Laboratório Fantasma, encravado na ZN e de efeito impressionante para a música independente paulistana? Seria um exemplo bonito.
Pra não ser injusto, o texto traz contrapontos em relação a renovação estética da Augusta e da especulação imobiliária em áreas como a Vila Madalena, com opiniões contrárias ao caminho seguido pela metrópole. Mas volta a irritar com a mensagem de uma cidade "muito mais segura" e de "ciclistas que desafiam a supremacia do automóvel em novas ciclovias". Essa é uma imagem muito mais próxima de uma mensagem publicitária. A cidade é inóspita com ciclistas e de violência extrema fora do cercadinho dos novos lançamentos imobiliários.
São Paulo não é, e nem poderia, ser resumida a um artigo turístico breve. Entretanto, devemos lembrar que aquilo que não é questionado acaba sendo aceito como verdade. Então é papo reto: a cidade tenta respirar, mas a verdadeira ocupação continua ocorrendo pro lado de lá do rio, com gente mais preocupada em sobreviver do que postar no Facebook. Bacana que o rap esteja desbravando caminhos; que o funk esteja caminhando de forma alienígena pelas quebradas; que gente boa, sim, esteja fazendo música brasileira, seja ela como rock, pop, samba, eletrônica. Mas não vamos ser condescendentes com a mentalidade publicitária de progresso e modernidade. Porque aqui em SP, progresso é o Tietê e o Pinheiros putrefatos, o Minhocão, a ROTA passeando pela periferia. E modernidade é ser amigo daquele jornalista que é amigo daquele compositor que é amigo daquele publiça que vai te colocar pra dentro de um festival de preço astronômico. A verdadeira diversidade se constrói sem amarras, e isso não é uma verdade na São Paulo de 2013.
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