segunda-feira, 29 de abril de 2013

Bárbara Eugênia - É o Que Temos - Resenha e entrevista


O segundo disco de Bárbara Eugênia, É o Que Temos, já é um dos belos lançamentos brazucas em 2013. Destrinchamos o trabalho da compositora com uma resenha e um bate papo, que você lê abaixo:

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É o Que Temos, segundo disco de Bárbara Eugênia, possui algumas similaridades com seu antecessor, Journal de BAD (2010): temos aqui a mesma atmosfera evocativa de sons ora francófonos (em particular o pop dos anos sessenta), ora brasileiros e acenos à fases mais psicodélicas dos Beatles. Mas é nas diferenças que o álbum se mostra como uma demonstração de como Bárbara se reafirma como uma das cantoras mais preciosas da atualidade; a produção, a cargo de Edgar Scandurra e Clayton Martins, estabelece um clima mais leve e equilibra os elementos, mas a força da condução das canções vêm da voz - agora mais sinuosa e forte - de Bárbara e das composições, que embora mantenham a temática das relações humanas envolta em romantismo, agora possuem um centro gravitacional bem delineado: as letras relatam emoções com uma visão mais serena mas não menos pungente.

Coração abre o trabalho mostrando um diálogo bem afiado entre o instrumental melódico e a letra que transmite uma exaltação de um momento especial. Que a faixa seguinte seja Por Que Brigamos (versão da canção interpretada por Diana em 1972), que é abertamente um lamento amoroso, mostra bem o universo da compositora: não se trata de cantar "as dores do amor" apenas, mas de tratar de um campo mais fértil e menos unidimensional, uma miríade de sensações inerentes a qualquer pessoa. E o álbum segue assim, com muita personalidade no emprego dos arranjos e da atmosfera sonora mais "limpa" e onírica. A parceria com Pélico rende Roupa Suja, um sinuoso rock de andamento crescente. O Peso dos Erros traz sopros em uma canção de inspiração cinematográfica - western - no instrumental mas de letra reflexiva e incisiva.

A partir daqui o ouvinte pode começar a notar pequenas incursões por cores diferentes de Journal de BAD, o que fica evidenciado com o honky-tonk de I Wonder, toda recheada de backing vocals, piano e steel guitar: um sopro de sutileza e acerto. A outra versão do disco é Sozinha, adaptação de Me Siento Solo, de Adanowsky: da melancolia da original temos apenas a letra; embora mantenha a estrutura melódica, a forma de execução transformou a música em algo como o melhor dos mundos do pop: o balanço entre a beleza contemplativa e o soco no estômago. A segunda metade de É o Que Temos não decepciona: a lisergia de Jusqu´a lá Mort, de violões e teclados espaciais; o primitivismo de Uga Buga Feelings, rock áspero e direto; A parceria com Tatá Aeroplano na bela Não Tenho Medo da Chuva e Não Fico Só, delicada nas tramas de guitarra e na simplicidade; You Wish You Get It, power pop perfeitinho e revigorante; e encerrando a atmosférica Out to The Sun.

Bárbara Eugênia realiza, portanto, um tour de force que tece um racional resumo de suas influências, ao passo em que amplia seu poder de atração ao maximizar aspectos como letras diretas e emocionais. A aparente contradição de possuir uma tela mais simples (leia entrevista abaixo) e parecer mais completo é explicada pelo fato de a tela possuir cores mais harmônicas e vibrantes. O convite de Bárbara em Coração é aceito: "Bailemos, bailemos." 9/10                  

 
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ENTREVISTA


Journal de BAD é de 2010. Esse período entre os álbuns foi uma contingência ou você precisava desse tempo pra preparar É o Que Temos? 

Não, eu já estava com esse disco pronto, procurando uma forma de gravar. Acabou rolando o premio da Oi, e foi super providencial porque eu queria ter lançado já no ano passado. Mas acabou não dando tempo. 

O disco novo mantêm referências do anterior, mas a sonoridade é mais leve, com menos pontos abrasivos. A que se deve esse resultado?

Acho que a mudança dos produtores tem bastante a ver com isso. É um estilo de produção. Ficou com menos elementos, as músicas ficaram mais simples de alguma forma. Mas não foi uma coisa que foi tentada, não foi proposital. Foi como saiu mesmo.

É bastante reconhecível que seu jeito de cantar "encorpou" em É o Que Temos. Encontrar essa confiança e saber como a voz vai soar em estúdio ajuda na hora de compor?

Ajuda bastante, porque dá mais liberdade de experimentar. É parte do processo, é uma ordem natural da vida, e é muito bom.

O disco reafirma uma sonoridade particular sua, que reúne várias influências. Como encontrar um caminho coeso quando o seu gosto particular passeia por tantas coisas diferentes?

No básico é tudo canção. As minhas músicas são feitas no violão e dá pra fazer qualquer tipo de arranjo, pode virar qualquer coisa. Mas elas são fundamentalmente canções, acho que por isso que possuem essa unidade. Até tem algumas coisas mais diferentes nesse disco, alguns ritmos (pensativa)...não é nem ritmo, né,  mas mesmo assim no básico é tudo canção. Canção de voz e violão.

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