The D.O.T. é o novo grupo de Mike Skinner, após o fim do The Streets. O primeiro álbum, And That, saiu na Inglaterra no dia 22 de outubro. Pra quem acompanha o trabalho do cara, não é novidade: desde o ano passado Skinner vem postando vídeos no Youtube que não são apenas clipes, mas ilustram o processo criativo da banda - da qual ainda faz parte Rob Harvey, vocalista do grupo de rock The Music. Além do D.O.T., o rapper e produtor inglês está escrevendo e produzindo um filme, sem data definida para estrear. Enquanto esperamos por uma passagem dessa galera por terras brasileiras, ouça um mix especial que eles fizeram para o projeto Red Bull Studio, que acompanha artistas e produtores durante o período em que estão criando e gravando, mostrando ao público informações sobre equipamentos, criação, além de mixes e DJ sets especiais:
Tracklist:
XXX - Danny Brown (Fool's Gold) Beat It - Michael Jackson (Epic) U Don't Know - Jay Z (Roc-A-Fella) 10 Crack Commandments - Notorious BIG (Bad Boy) She's Always A Woman - Billy Joel (Columbia) Ain't Nobody (Breakage Remix) - Claire Maguire (Polydor) Getaway - The Music (EMI) Turn The Page - The Streets (679) Triumph - WuTang Clan (RCA) Yesterday - The Beatles (EMI) Peace Frog - The Doors (Elektra) Bittersweet Symphony - the Verve (Virgin)
O Don L é um preferido da casa, e pra nossa sorte o rapper cearense tem trampado bastante ultimamente: com dois EPs no forno (Caro Vapor e Vida Premium Beta), podemos esperar por mais pedradas como Pra Mandar o Mundo Se Fuder e Cafetina Seu Mundo. A música Sangue é Champanhe conta com a participação de Flora Matos e ganhou um videoclipe bonzaço, dirigido pela fotógrafa estadunidense Autumn Sonnichsen e por Erica Gonsales: uma verdadeira viagem sensorial com lindas garotas em cenários incríveis. Parece simples, mas a grande sacada é que a combinação com o som quente de Don L é quase simbiótica:
Fotos da Autumn - que acabaram por desaguar na feitura deste vídeo - e o próprio vídeo podem ser vistas na exposição individual "Paraíso na Boca", na galeria AVA, em São Paulo. Até o dia 10 de novembro.
Lívia Cruz, cantora e MC (São Paulo via DF via Rio via Recife) já trabalhou com nomes importantes como Kl Jay e Costa a Costa, além de ter lançado uma elogiada Promo. Em 2012, Lívia tem trabalhado em seu primeiro álbum (Muito Mais Amor), e já liberou o clipe de Não Foi em Vão, que vem gerando boa repercussão. Uma criação livre sobre o poema Legítima Defesa, de Elizandra Souza, a ótima canção possui produção de DJ Caíque. Demonstrando grande habilidade para tocar em questões agressivas por meio de nuances na voz e no flow, Lívia evita o simples lamento, apostando em uma ação assertiva de justiça na questão da violência contra as mulheres. Há beleza em Não foi em Vão, do tipo que surge mesmo quando o contexto é pesado e triste. Conversamos com ela sobre a canção, o clipe e o papel da imprensa no rap:
* Como surgiu a ideia de transformar o poema da Elizandra em canção?
Assim que eu li o poema pela primeira vez me comoveu muito, até eu escrever a musica se passaram meses, mas o poema me marcou demais e em uma noite de inspiração escrevi “Não foi em Vão”.
* A música adota um tom melancólico no início mas ganha contorno mais combativo no fim. Essa postura de indicar uma realidade sem o clichê da vitimização foi uma escolha consciente?
Otima pergunta! Foi totalmente consciente, tive bastante preocupação também que o conteúdo não ficasse “didático”, pois acho que esse é um dos fatores que afastam as pessoas de encarar essa triste realidade. Sempre que esse assunto é abordado causa vergonha e constrangimento, tanto nos que já viveram uma situação dessa natureza, quanto naqueles que vêem de fora. Minha intenção principal era de que as pessoas se identificassem de qualquer classe, cor ou gênero, mostrar que somos capazes de tomar as rédeas das nossas próprias vidas, não importa o tempo que demore, não importa o quanto nos submetemos a situações humilhantes, sempre é tempo de se transformar para o bem, por fim alfinetar a sociedade, no sentido de mandar uma mensagem radical: Queremos justiça!!
* O videoclipe mostra bem essa transição, da tristeza e decepção ao estado de reação e recuperação da autoestima através de imagens em que você demonstra domínio da linguagem visual. O quanto vc se envolve na produção dos clipes?
No caso de “Não Foi em Vão” o clipe veio pra complementar a música, sem aquelas imagens acredito que a mensagem não teria sido tão bem passada, Isso é mérito da diretora Alice Riff e do seu irmão Fabio Riff que criaram o clima perfeito, levaram uma equipe excelente pra realizar o trabalho. Eu criei o conceito junto com a Alice uma semana antes da filmagem, eu nem tinha gravado a faixa ainda, mas ela é uma pessoa tão apaixonada e focada que eu gravei na mesma semana pra que a gente pudesse gravar o vídeo. Acho que a maioria dos artistas quando compõe uma musica nova já imagina imagens, um clima e até mesmo um roteiro de clipe. “Não Foi em Vão” é o meu segundo vídeo oficial, antes teve “Vem pra perto de mim” do Diretor Rabu Gonzales, e pretendo lançar mais um ainda esse ano, eu gosto de todo esse processo de criação, de produção e espero estar cada vez mais envolvida na produção em todos os aspectos.
* Me parece que a grande mídia descobriu a produção do rap apenas mais recentemente; parte dessa "surpresa" é a presença de mulheres compondo, o que levou a matérias equivocadas, seja na aglutinação simplista de artistas diferentes ou na argumentação de que garotas criam música menos combativa. Concorda com isso? Se sim, como voce vê essa situação?
Eu concordo em parte, acho que a grande mídia sempre se atraiu pelo RAP, mas acho que o RAP só quis lidar com isso mais recentemente, exatamente pelo caráter combativo que o RAP tem (e sempre terá). Antes tínhamos uma postura mais retraída, essas matéria equivocadas são uma das razões da desconfiança do RAP com relação as mídias de massa. Acho que o objetivo puro e simples desses comunicadores é enfraquecer o RAP, torná-lo algo comum e sem valor. Não acho que o caminho seja dizer não a mídia, mas sim sempre lembrar que quem não se posiciona é posicionado.
Elizandra Souza é poeta e jornalista. Atuante no hip-hop, nos direitos da população negra e das mulheres, desde 2004 é poeta da Cooperifa (Cooperativa dos Artistas da Periferia). Editora da Agenda Cultural da Periferia, Elizandra lançará seu livro Águas da Cabaça no próximo dia 26 de outubro, com direito a pocket-show da Lívia Cruz. Mais detalhes abaixo:
Lançamento do livro de poemas de Elizandra Souza Dia: 26 de outubro Horário: 19h às 22h Local: Espaço Periferia no Centro - Rua General Jardim, 660 - Vila Buarque Quanto$: só colar
Dois momentos importantes que antecederam o lançamento de Estrela Decadente, segundo disco do compositor e cantor Thiago Pethit, ajudam a explicar o molde e o resultado obtidos com o recente trabalho: Thiago realizou uma apresentação interpetando Lou Reed para um projeto do Sesc São Paulo em janeiro de 2011: o desafio não era pequeno: com uma obra não apenas "intocável", Reed é dono de repertório amplo e diverso, além de possuir aspereza que, a princípio, não poderia se sustentar tão facilmente. Ok, era apenas uma apresentação. Mas a maneira como Pethit escolheu o repertório e demonstrou postura forte parecia indicar que o artista passava por uma condição de exploração de seus limites como frontman, algo que se refletiria também em suas composições. O segundo momento foi outro show, no início deste ano, em que músicas de Estrela Decadente estavam sendo ajustadas e testadas. Mais uma vez, a comparação com o cantor das primeiras apresentações de Berlim,Texas (seu primeiro disco) se tornava inevitável: muito mais confiante no palco, apresentando composições instrumentalmente mais incisivas e de imposição vocal mais à feição de sua origem teatral. Como essa evolução iria chegar ao disco pronto?
A boa notícia é que Estrela Decadente captura a energia dos shows recentes e confirma as composições mais expansivas. Entre as influências que já se mostravam no trabalho anterior - mas aqui amplificadas - estão o glam rock, o folk, o pop e o vaudevilesco. A primeira amostra desse Pethit de consciência pop bem firme aparece logo na introdução com Pas de Deux: em uma levada ao piano e backing singers evocando o cabaré, há um interlúdio disco, alusão aos versos que brincam com a aproximação entre duas pessoas. A sequência com Moon, um espécie de faixa perdida no tempo do pop, entre a escuridão oitentista e a decadência setentista, evoca uma trinca de Bowie, Reed e Iggy Pop. Tal alusão não fere a qualidade e a sensação de frescor que a música traz. Dandy Darling é um monstrinho glam, de refrão obviamente explosivo: "Amigo/escute o que eu digo/só venha comigo/se quer se perder por aí."
A porção mais intimista do compositor se apresenta com Perto do Fim, um dueto com Mallu Magalhães. De tom melancólico e levada simples e melódica, serve como uma desacelerada após três músicas mais "espinhosas", e remete muito mais ao primeiro álbum. So Long, New Love, conhecida por ter sido trilha de uma campanha publicitária, surge como uma canção muito mais desenvolvida, de tempo desacelerado, apagando a impressão de indie-pop mais ordinário da versão anterior. Estrela Decadente dá nome ao disco e segue como um rock vigoroso com pé na sarjeta; aqui já concluímos que Pethit não se acomodou com os elogios recebidos em sua estreia e decidiu seguir seus instintos criativos. É claramente alguém mais despido e confiante, com todas as implicações de uma opção como essa. A leveza de Haunted Love, quase uma canção de ninar repleta de ooooohs - aaaaaahs dos vocais de apoio carrega uma aura verdadeiramente lúdica.
Mas o compositor que se aventurou por todo o álbum por emoções mais cruas, situações mais explícitas e músicas mais complexas retoma e encerra o processo com Devil in Me e Surabaya Johnny: a primeira, de título bastante significativo, poderia apenas reproduzir um clichê, mas soa realmente como uma autoanálise do autor diante de demônios internos - vide "Eu vendi minha alma pra saber que o diabo sou eu", cantada ao fim da música. Cida Moreira, muito admirada por Pethit participa da vaudevilesca Surabaya Johnny (versão do original de Bertolt Brecht e Kurt Weill), o momento mais abertamente teatral do trabalho.
Estrela Decadente pode surpreender quem não pôde observar os momentos citados no primeiro parágrafo, mas não deixa dúvida para quem ouve: é uma evolução das ideias de Berlim, Texas e também uma expansão da entrega verificada ali. Entre uma atmosfera que evoca momentos de criação em meio a crises de decadência geracional, Pethit talvez tenha retratado, de forma indireta, as mazelas de São Paulo em 2012, um ambiente repressivo em que seus moradores tentam se desgarrar através de atividades artísticas como a música. Um disco de boas canções que nos leva a relacionar suas referências, o momento atual de seu criador e de suas inspirações é um salto relevante. 8/10 Baixe o disco : http://www.thiagopethit.com/