*texto originalmente publicado no site Get Loud da Converse
Não é todo site que oferece um
f.a.q. ao consumidor tão brutalmente honesto e zombeteiro que contém itens como
este:
“É verdade que 5% do lucro anual da Läjä Records é revertido para projetos de caridade e ajuda
humanitária em todo mundo?
R: Não.”
É apenas um dos muitos exemplos da tríade sujeira-independência-diversão
que é a base da Läjä Records,
gravadora e loja independente sediada no Espírito Santo e capitaneada por Fábio
Mozine, da lendária banda Mukeka di Rato e também integrante d’Os Pedrero e
Merda. Iniciando atividades nos anos noventa como forma de impulsionar
lançamentos de seu próprio grupo, a Laja não apenas se sustentou ao longo do
tempo como cresceu e transpôs a barreira pré/pós internet com a mesma
desenvoltura da sequência do setlist de um show do Mukeka.
O selo hoje é casa de bandas que podem perfeitamente formar uma
escalação de sonho para um festival de hardcore e punk rock, embora haja espaço
também para música que não necessariamente se encaixa no formato mais
tradicional do gênero; é possível adquirir itens como camisetas ou moletons com
estampas que não estarão brevemente em grandes lojas de departamento ou
vestidas por celebridades da televisão. Também há uma seção de games no site
que futuramente pode invadir o seu smartphone, já que há planos de
transportá-los para a plataforma dos sistemas operacionais dos aparelhos
móveis. O mais louco é que não se trata de uma empresa que vai ganhar prêmios
corporativos, mas apenas Fábio Mozine e uns malucos que o ajudam a fazer coisas
como embalar pedidos, ir ao banco e postar coisas no correio. Sobre isso tudo
falamos com o fera:
Como a Läjä Records surgiu?
Surgiu
basicamente da necessidade que eu senti em lançar a minha banda Mukeka di Rato,
e pelo fato deu acreditar que teria como fazer um trabalho melhor que outros
selos que eu observava na época e acreditar que teria maior controle.
Porém antes mesmo de lançar material da minha banda, eu lancei bandas
como TPM e Gritos de Ódio, dessa forma a gravadora já começou com vida própria,
lançando outras bandas que não apenas as que eu toco.
Você integra bandas diferentes que excursionam pelo
globo e chefia as operações da Läjä. Conta com a ajuda de muita gente pra equilibrar
as tarefas?
Conto
com a ajuda de amigos, colaborando principalmente na criação de artes, e fazem
tudo isso na base da brodagem, muitos deles gostam de ter suas artes divulgadas
na Läjä. Mas basicamente as operações diárias da Läjä são todas executadas por mim, seja a questão de
escrever letras, escrever projetos, mixar ou masterizar um disco, até as
funções como entregar um disco pra um cliente, visitar lojas, ir ao correio,
comprar caixa de papelão, organizar estoques, ou seja, tudo.
Dá pra identificar claramente uma estética DIY na Läjä, desde a arte das capas dos
discos, a linguagem utilizada e até o layout do site. Essa cultura do
faça-você-mesmo é algo indissociável na sua vida?
Acho
que sim né, é uma linguagem tosca que já ta encruada, não tem jeito. Mas
tenho projetos que seguem outra estética, como por exemplo, o cd do Bode Preto,
também o CD do RDP com a capa feita pelo Marcatti. Também são bandas com
postura DIY em vários aspectos com uma estética um pouco menos largadona do que
as que abundam na Läjä.
Quando a gravadora começou não vivíamos a era da
internet plena. Como foi o processo de transição para vocês?
Tosco
como é até hoje. Minha primeira inserção na vida da internet foi ter um e-mail,
depois usando redes sociais da época como mirc e icq, mas para divulgar a banda
também. Eu sou bastante daquela galera da inclusão digital, pra mim foi
um sufoco aceitar ter um facebook, eu achava coisa de mané, minha namorada que
fez o meu facebook, hoje eu uso de forma desenfreada, tipo, o lugar mais facil
de ser falar comigo é o facebook. É dificil pra mim acompanhar as
novidades, e as minhas redes sociais são bem caseiras, mas estou no meu limite,
não consigo ser mais profissa do que isso.
Qual o nível de podreira uma banda precisa ter para
integrar o cast da Läjä?
Muito
relativo isso. O Hablan por la Espalda não tem podrera nenhuma, é uma
banda que tem teclado, percussão, mas são meus amigos, eu acho a cara da Läjä, tenho orgulho de ter lançado. As bandas são
bem diferentes que saem pela Läjä, mas
de uma certa forma, na minha cabeça, eu acho que elas tem uma ligação entre
elas.
A história da Läjä reúne material de todo tipo, para além da música:
desenhos, colagens, fotos, pôsteres etc. Pode ser um exercício meio pedante,
mas dá pra situar a importância disso tudo pro underground brasileiro?
É bem
escroto mesmo querer avaliar o seu próprio material dessa forma, você mesmo
dizer qual a importância dele, acho que outras pessoas devem fazer isso, mas,
acho que posso dizer sim, que esse material influenciou pessoas e bandas aqui
mesmo no ES e fora do estado. Posso dizer isso pelos inúmeros com links,
mp3 e até cds que recebo de bandas que adotam essa estética e que assumem isso,
me dizem até que estão fazendo “hardcore vila velha”. Isso é legal
né? Lembrando que isso é muito natural, a maioria das coisas que a gente
fez, aprendemos vendo os discos do Cólera, do RDP, aprendemos vendo as colagens
do Dead Kennedys, seguindo a estética de gravadoras como a Recess Records dos
EUA e da banda FYP, que são colagens grotescas, figuras com bonequinhos dos
anos 50, 60, ou seja, tudo vai se influenciando e eu acho isso bem normal.
Percebi que há uma seção de games no site. Fale
sobre essa nova área de atuação do conglomerado.
Surgiu
como tudo surge, na tosquera, com pessoas oferecendo pra mim. Fez
bastante sucesso na época em que saiu, fizemos matéria até pra TV sobre os
games. Agora estou num processo de passar isso pra ios pra rapaziada
jogar no iphone, android, essas paradas, mas você pode imaginar a dificuldade
que está sendo isso pra mim dentro da minha limitação de entender e aceitar
essa nova tecnologia, mas tá rolando!!