quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Holger - Ilhabela


Depois de estabelecerem uma espécie de pegada festeira e tropical dentro do anglófilo indie rock brasileiro, o quinteto paulistano Holger chega ao segundo álbum ainda mais inspirado: Ilhabela é uma coleção de canções recheadas de sentimento. Não o tipo de sentimento de tristeza por não viver em uma cinzenta, fria e sombria Londres como um deprimido recalcado, mas um sentimento de orgulho por poder desfrutar de turnês pelo Brasil (e também no exterior) e aglutinar tantas referências em seu som sem desmanchá-lo em pedaços inaudíveis. É um retrato fiel de uma banda "despojada", mas não a ponto de negligenciar detalhes técnicos das canções ou de recusar a influência de sons latinos, africanos, puramente brasileiros ou da eletrônica gringa. 

Entre Tonificando e sua batucada e as guitarras quebradas - numa vibe Luiz Caldas via Tom Verlaine - espalhadas pelas doze faixas, Ilhabela amplifica a sensação de uma banda operando em alto nível: é uma viagem de verão movida a brisas diversas encapsulada em forma de música. Uma das coisas interessantes sobre o Holger é a aparente facilidade que encontram para criar cenários sonicamente expansivos, encontrando pequenos espaços que surpereendem o ouvinte: Another One traz bela melodia reflexiva, mas a referência a Roll Another Number (For The Road), do álbum Tonight's the Night, de Neil Young, não poderia ser mais tortuosa. Enquanto o compositor canadense tenta espairecer seus pensamentos pesados ao pegar estrada acendendo um baseado, os caras do Holger estão mais relaxados, sem deixar de refletir. 

Infinita Tamoios (grande nome, afinal a inspiração do álbum é uma viagem para o litoral paulista, acessado pela estrada citada) é uma grande orgia carnavalesca: "Praticar o amor/o amor sensual/polinizar a flor/do amor tropical". A música conta com a participação de Liliana Saumet, dos colombianos do Bomba Estéreo. Me Leva Pra Nadar traz o nível exato da zoação e da beleza de uma curtição de verão em versos como: "Deixa tudo boca livre/no buraco da glória/se o calor te deixa foda/então me leva pra nadar." Indeed. Importante notar que se a guitarrada paraense, a cumbia, o axé e sutis toques eletrônicos surgem aqui e acolá juntamente com o DNA roqueiro do início de carreira, não há diluição preguiçosa ou mesmo a pretensão de ser o perfeito crossover do pop global; quem já presenciou as apresentações do grupo percebe que certo ar anárquico e juvenil permeia o ambiente. Essa leveza contribui para a fluidez de Ilhabela.

O segundo disco do Holger é a prova de que a música "indie" brasileira não precisa andar em círculos quando temos um arsenal de música boa, do mundo inteiro, nos rodeando. Esses caras ouvem essa música com curiosidade empolgante, e transformam isso em uma bonita transa de vibrações positivas. A trilha sonora definitiva do verão, e esse é provavelmente o elogio mais adequado. 8,5/10    

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